Este texto tem por finalidade somente introduzir algumas ideias básicas sobre uma visão mística do mundo. Mas afinal, o que é uma visão mística, e para quê ter esse tipo de visão? A melhor resposta que imagino a essas perguntas é: “A visão mística é uma visão de mundo que inclui um plano de salvação pessoal, e sua principal finalidade é a de nos fazer felizes.”
Devo citar também que uma visão mística inclui sempre uma ideia de um Ser Transcendente, que podemos chamar de Deus ou outro nome de nossa preferência - eu pretendo usar "Deus" nesses textos, pois é o nome mais comum na cultura ocidental. Embora essa ideia seja essencial a qualquer visão mística, considero mais relevante o aspecto do plano de salvação pessoal, pois este é o aspecto mais facilmente verificável, e em minha opinião é a grande prova de validade de uma visão mística de mundo. Em meu ponto de vista, uma visão mística de mundo é válida se ela indica um caminho prático para que você seja mais feliz, sendo mais válida ainda se esse caminho é simples e acessível ao maior número de pessoas, ou seja, se ela propõe uma felicidade inclusiva.
Como o ser humano é dotado de consciência e inteligência, e, em função disso, ele não se contenta em simplesmente satisfazer seus instintos naturais, existe uma necessidade humana inata de ser feliz, e ligado a essa necessidade humana (que me parece universal e básica) existe também uma necessidade de se ter uma ideia do “caminho a seguir”, ou seja, de como atingir essa felicidade, o que eu chamo de plano de salvação pessoal. Em minha experiência de vida, percebo que a visão mística é a que melhor me indica o caminho a seguir, é a que melhor satisfaz essa minha necessidade interior. Devo dizer também que, no convívio que tenho com outras pessoas que também tem uma visão mística de mundo, tais visões têm um relativo sucesso em indicar um caminho para a felicidade dessas pessoas, conforme seu próprio testemunho.
Naturalmente, outras pessoas podem pensar diferente, podem inclusive questionar essa “busca universal de felicidade” que eu postulei acima, e desde já esclareço que não pretendo mostrar em meus textos que a visão mística é melhor que nenhuma outra, somente indicar os elementos que me convenceram de que ela é a mais adequada para mim. Se existe outra visão de mundo, totalmente diferente da mística, que atenda às necessidades de alguém de forma satisfatória, devo dizer que esse alguém simplesmente deve adotar essa outra visão, tão válida como qualquer outra. De forma alguma pretendo ter o monopólio da verdade, e sim somente indicar uma “verdade útil” para mim, em minha experiência de vida.
Feitos esses esclarecimentos básicos, devo dizer que a visão mística de mundo é antes de tudo uma visão filosófica, e compartilha com a filosofia uma série de perguntas básicas, tentando respondê-las à sua maneira, sempre mirando o caminho da felicidade. Vou chamá-las de perguntas fundamentais:
- Como o mundo foi criado? O que isso afeta nosso dia a dia (se é que afeta)?
- Existe um ser superior que criou tudo isso ordenadamente, ou o mundo é o resultado de eventos aleatórios?
- De onde viemos? Já existíamos antes de nascer?
- Depois que morremos, acontece alguma coisa? Caso sim, para onde vamos?
- Qual o motivo de estarmos aqui, juntos nesse planeta distante?
- O que é necessário fazer para ser feliz? Ou como evitar ser infeliz?
- O que temos de diferente dos outros seres do mundo? O que temos em comum?
- A realidade percebida pelos nossos sentidos é a única? Se for, como explicar tantos fenômenos “estranhos”? Caso não for, como é essa realidade paralela?
- Existem leis universais, ou seja, regras impessoais que governam nossas vidas, além das leis físicas conhecidas?
- Como é a nossa mente? O que há em nosso subconsciente?
- O mundo à minha volta existe mesmo ou é só um conjunto de percepções de minha mente?
- Deus existe? Se existe, como ele é e qual a minha relação com Deus? Se existe, como ele deixa o mundo nesse caos que percebemos?
- Porque a vida às vezes é tão injusta, com tantas desigualdades? Por que as pessoas são tão diferentes entre si?
- Quem sou eu?
Bem, além dessas, poderemos pensar em várias outras, bem básicas e bem difíceis de responder. E uma visão mística de mundo tem a pretensão de pelo menos buscar formas razoáveis de responder essas perguntas. Devo dizer que algumas delas realmente não devem ter resposta – por exemplo, a última pergunta - "quem sou eu?" - que, em minha opinião, é a mais difícil de todas.
Se você tem interesse nessas questões mais complicadas relacionadas à nossa vida e ao mundo à nossa volta, sem dúvida você tem interesse filosófico. Se além disso, você tem uma preocupação em como ter um plano de salvação, e considera aceitável acreditar em ideias que não podem ser comprovadas racionalmente - por exemplo, o Ser Transcendente - reconhecendo outras formas de conhecimento que não sejam a razão humana, então a visão mística de mundo pode ser bem útil a você.
È importante dizer que a visão mística não é necessariamente útil para todos, e isso é muito relevante – não se deve nunca deixar de ter respeito a visões divergentes, é a variedade de mentalidades que enriquece a convivência humana. Além disso, não existe uma única visão mística de mundo, existem diversas formas de responder às perguntas acima com um olhar místico. Sendo assim, vou tentar abordar pontos em comum da maioria das visões que conheço, que proveem, em geral, do esoterismo ocidental – desde já advirto que não falo em nome de nenhuma organização em particular, falo em nome de minha consciência e minhas convicções.
Concluindo, devo dizer que, nos próximos textos, estarei tentando responder algumas das perguntas acima, da forma mais simples e concisa possível. Agradeço antecipadamente quaisquer críticas e comentários de vocês.
Saudações fraternas.
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