quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

As Leis do Livre Arbítrio e da Causa e Efeito

 


Saudações a todos.

Após a sequência que tratou de diversos obstáculos frequentes em nossa caminhada da Reintegração Divina, série de posts com grande aplicação prática, devemos agora prosseguir com alguns princípios básicos da visão mística, muito úteis para melhor compreensão do mundo que nos cerca e dos eventos de nossa vida.

Uma das leis místicas mais importantes é o Lei do Livre Arbítrio, que está diretamente associada à Lei da Causa e Efeito, sendo por isso as duas tratadas em conjunto neste post.

A Lei do Livre Arbítrio postula que o ser humano tem como atributo primordial a liberdade consciente, ou seja, ele pode pensar, querer e fazer o que quiser, de forma consciente, tendo a capacidade de prever a consequência de seus atos e comparar as diversas alternativas.

Deve-se notar que, em nosso planeta, somente o ser humano tem essa prerrogativa, nenhum outro ser vivo tem consciência desenvolvida o suficiente para poder escolher livremente, pesando as consequências de suas escolhas.  Alguns animais apresentam formas rudimentares, ou até admiráveis, de “inteligência”, e podem efetivamente saber as consequências de seus atos, mas não têm capacidade suficiente para pesar as diversas alternativas.  Em geral, os animais, mesmo os mais “inteligentes”, estão condicionados a determinados comportamentos, em função de estímulos positivos ou negativos para realizar certas atividades.

Os animais têm como principal motivação para seus atos os seus instintos, em especial o de sobrevivência e o de perpetuação da espécie.  Daí, todos os seus atos são definidos em função de um único parâmetro: o grau de conformidade das consequências daquele ato aos seus instintos.  Assim, se uma ação traz comida a ele, ela será sempre repetida, pois comer faz parte de seus instintos.  Se outra ação traz dor a ele, poderá ser repetida por um tempo, mas logo será abandonada, uma vez que evitar a dor faz parte de seus instintos.  Tal fato é amplamente conhecido por qualquer adestrador de animais.

Já em relação ao ser humano, seu comportamento é definido pelos seus pensamentos e vontades, que provêm de sua consciência.  E, conforme a visão mística, a consciência humana não provém simplesmente de processos químicos cerebrais, não sendo um produto de nosso corpo, conforme é postulado, sem comprovação satisfatória, pela psicologia moderna.  Conforme a visão mística, nossa consciência provém de uma entidade superior, externa a nós e simultaneamente interna a nós, ou seja, transcendente e imanente: Deus.

Deve-se lembrar da Trindade Divina, explicada em um post passado - Pensamento, Vontade e Ação Divinos - dos quais nossos pensamentos, vontades e ações são reflexos imperfeitos.  E nossa consciência, de onde provêm nossos pensamentos, vontades e ações, é também um reflexo imperfeito da Consciência Divina, ou seja, do próprio Deus, no seu aspecto mais elevado.  Em outras palavras, nossa consciência é, dentre os atributos sensíveis de nosso ser, o mais próximo de Deus – sugiro meditar um pouco sobre essa questão, bastante profunda.

Existem dois atributos essenciais ligados à nossa consciência, que provêm de sua origem “divina”: a liberdade e a criatividade.  E esses dois atributos estão estreitamente ligados, pois sem liberdade não há como ser criativo.  Somos livres para criarmos nosso “caminho próprio”, exercendo o potencial criativo em nossas vidas, a fim de prosseguir na caminhada da Reintegração Divina.

A Lei do Livre Arbítrio está ligada diretamente a esses dois atributos de nossa consciência, e, sendo assim, ela está associada a nossos pensamentos, vontades e ações, que são livres e criativos por excelência.  Podemos então compreender a Lei do Livre Arbítrio como decorrência natural de nossa natureza essencialmente divina e consciente.  E daí podemos concluir que nossos pensamentos, vontades e ações são, em essência, livres e criativos, somente podendo ser tolhidos por nós mesmos, de forma mais ou menos consciente.

Como já tratei no post passado, em que falei da ilusão, o ser humano tem uma capacidade quase infinita de se iludir, pelos mais diversos motivos, e com isso reduzir seu livre arbítrio efetivo.  Uma pessoa somente exerce seu livre arbítrio de verdade se está totalmente consciente de sua natureza e da finalidade de sua existência – é o que chamo de livre arbítrio consciente.

Por outro lado, a pessoa pode estar envolvida de forma mais ou menos consciente em ideologias que a levam a pensamentos distorcidos e emoções dissonantes – como por exemplo “aquele povo é meu inimigo e tenho que exterminá-lo”, “meu povo tem sido perseguido e precisamos nos defender”, “minha religião é a mais perfeita, todas as demais levam ao inferno e devem ser combatidas”, “devo ter muitos bens e viver em luxo para ser feliz”, “tenho que ter mais do que ele para me sentir bem”, “vivemos em uma selva, é cada um por si”, “o uso ‘social’ de drogas é quase uma necessidade nesse mundo tão desgastante em que vivemos”, “os fins justificam os meios”, “se levo vantagem em cima dos outros, é problema dos outros”, “ele não merece tanta consideração quanto eu”, “ele está sofrendo, mas merece”, “antes ele do que eu”, “ele é um bandido e tem que morrer”, “quando eu tomar o lugar dele, serei feliz”, “sei que está errado, mas é só um pouquinho, não vai prejudicar ninguém”, “ele já tem muito, não vai sentir falta se eu pegar um pouquinho”, “nenhuma pessoa de [certo lugar] presta”.

Pense bem, quantas vezes você já presenciou esse tipo de ideias?  E, mais ainda, quantas vezes já se pegou tendo algum tipo de ideia assim?  Mais ainda, quantas vezes teve atitudes baseadas em ideias assim?  Eu começo respondendo por mim: eu já presenciei, já pensei e já agi assim, muito mais vezes do que acharia correto – e temo que a maioria das pessoas que estão lendo esse texto também respondam a mesma coisa.

Se analisarmos com cuidado, a maioria das ideologias divulgadas pelos meios de comunicação de massa são essencialmente egoístas, hedonistas, materialistas, e muitas vezes levam a intrigas, confrontos e até guerras.  Todos podem facilmente perceber a quantidade imensa de histórias, reais ou fictícias, contadas na televisão, no rádio, no cinema, no teatro e nos livros, com enredos de violência e desentendimentos diversos, contendo atitudes egoístas, hipócritas e traiçoeiras – infelizmente, esse é o conteúdo predominante em nossa programação cultural. 

Quantas notícias dissonantes vemos em um jornal ou telejornal diário?  E quantos bons exemplos e atitudes desprendidas?  Os editores desses jornalísticos podem argumentar, com sua razão, que “notícia ruim vende”.  No fundo, o que esses editores percebem muito bem é que o ser humano em geral tem muito mais interesse no “mundo cão”, nas desgraças diversas que afligem as pessoas, do que em atitudes altruístas e exemplos de dedicação ao próximo e á humanidade.  E por que isso ocorre?

Ensaiando uma resposta à pergunta acima, posso responder: por falta de consciência de quem somos e da finalidade principal de nossa existência.  Por termos essas ilusões essenciais sobre nós mesmos, muitas vezes apreciamos e praticamos hábitos péssimos para nossa saúde física, mental, emocional e espiritual, buscando experiências degradantes, desarmonizadoras, humilhantes para nós ou para outras pessoas, que no longo prazo somente nos atrasam em nossa caminhada – mas não impedem que a completemos, que isso fique bem entendido.

Sendo assim, acredito que, à medida que a humanidade for evoluindo em seu grau de harmonização com o Amor Divino, naturalmente esse tipo de interesse dissonante irá diminuir, e a programação de nossos meios de comunicação de massa irá mudar radicalmente.

Recapitulando, posso dizer que a Lei do Livre Arbítrio decorre de um atributo essencial de nosso ser, dizendo respeito a todas as pessoas – todos têm liberdade de pensamento, vontade e ação, e têm liberdade de expressarem livremente seus pensamentos, emoções e modos de vida, bastando atenderem uma condição: serem seres humanos minimamente capazes de pensar, desejar e agir. 

Ressalte-se que essa liberdade nunca é absoluta, estando sujeita a limitações típicas de nosso universo sensível: limitações de tempo, espaço, capacidade física, limites psicológicos, etc.  Por exemplo, uma pessoa não tem a liberdade de pular um obstáculo de 10 m de altura – há uma limitação física nessa ação.  Mas, com o uso da tecnologia, muitas dessas limitações vêm sendo superadas.  Mesmo assim, limitações sempre ocorrerão, pois são da natureza de nosso universo sensível.

Há um ponto bastante relevante em termos místicos: o livre arbítrio deve ser efetuado de forma consciente, ou seja, devemos ter plena consciência de nossa natureza, potencialidades e objetivos de vida para podermos exercer plenamente o livre arbítrio, sem sermos manipulados por ideologias estranhas à nossa essência.  O livre arbítrio, para ser realmente livre, deve estar isento de ilusões, algo praticamente impossível em nosso atual estágio de avanço na caminhada coletiva da Reintegração Divina.

Em outras palavras, para fazermos efetivamente tudo o que quisermos, temos que saber o que realmente queremos, o que desejamos em nossa essência, qual o nosso propósito nessa vida, qual a nossa “missão”.  De que forma iremos colaborar no objetivo coletivo maior?  Quais são nossos reais talentos?  Como deveremos desenvolvê-los e colocá-los em prática?  Qual a nossa riqueza interior que deveremos compartilhar com a coletividade?  Somente quando tivermos maturidade suficiente para sabermos as respostas das questões acima, poderemos exercer o livre arbítrio de forma plena – nesse momento, todo o universo estará a nosso favor, pois estaremos pensando, querendo e agindo em harmonia com nossa essência, em harmonia com o Amor Divino.

Outra questão mística relevante é que o Livre Arbítrio é válido para o curto e médio prazo, ou seja, ele tem total influência sobre nossos caminhos e maneiras de alcançar a Reintegração Divina – como, quando e onde a alcançaremos.  Mas quanto ao “longo prazo” místico, simplesmente não há livre arbítrio – não temos como deixar de se reintegrar a Deus, pelo simples motivo de que somos unos com Deus, não podendo existir fora de Deus.

Assim, não podemos escolher se vamos ou não nos reintegrar, só podemos adiar essa reintegração o quanto quisermos, mas um dia chegaremos lá, não há dúvidas.  E esse adiamento normalmente consegue postergar esse momento místico para depois da nossa “morte física”, que será tratada com mais detalhes no próximo post, mas, conforme a visão mística, esse fato não impede que, em um momento posterior, possamos nos reintegrar.

Devo então fazer um apelo: pensem nas questões acima, meditem sobre elas, exercitem o autoconhecimento, procurem se conhecer melhor, por meio do contato com outras pessoas, por meio de vivências, e cultivando um fértil diálogo interior com a sua “voz da consciência”, com a fonte de seu saber intuitivo, com a parte acessível de seu “Deus interior”.  O autoconhecimento é fundamental para um místico de verdade, e é um dos objetivos mais difíceis de se alcançar – como eu já disse em outro post, a resposta à pergunta “quem sou eu” é tão difícil quanto “quem é Deus”.  Mas podemos descobrir atributos, aspectos, que venham se revelando, e que são de imensa ajuda em nossa caminhada.  Vamos prosseguir nessa busca!




Bem, após essa digressão sobre o livre arbítrio, devemos abordar um aspecto bem relevante: se somente poderemos exercer plenamente o livre arbítrio após o pleno autoconhecimento, algo praticamente inacessível à grande maioria das pessoas, como agimos enquanto não temos essa “plena consciência” almejada?  Como saber se nossos pensamentos, vontades e ações estão alinhadas com nossa essência, com o Amor Divino?

Para responder essa questão, devemos falar um pouco sobre a Lei da Causa e do Efeito, também chamada de Lei do Carma.  Esta lei é válida para todos os eventos materializados no universo sensível, ou seja, tudo o que se realiza efetivamente no mundo material.  Ela atinge, assim, todas as ações realizadas pelas pessoas, mas não se aplica a pensamentos ou vontades, a meras intenções. 

Essa lei postula que todo ato tem algum resultado compatível com a natureza deste ato, resultado esse que trará compensações proporcionais para o agente.  Se o ato for harmonioso, em sintonia com o Amor Divino, terá consequência construtiva e harmoniosa para o próprio agente.  Caso contrário, se for desarmonioso, terá consequência destrutiva para o agente.  Deve-se notar que mais importante do que o ato em si é a intenção do agente, representada por seus pensamentos e vontades quando da execução do ato.

Tudo ocorre como se o universo à nossa volta fosse um imenso espelho, que reflete de volta para nós tudo o que fazemos nele, por meio de nossas ações.  É como se existisse um sistema de medida de “nobreza de intenções”, que recompensa na justa medida atitudes motivadas pelos mais nobres sentimentos e também pelos interesses mais egoístas.

Analisando melhor, podemos pensar nosso universo como um conjunto de energias que interagem continuamente de forma dinâmica.  E, no que se refere à conduta humana, essas energias consistem principalmente em pensamentos, vontades e ações.  Toda ação nossa tem pelo menos um pensamento e uma vontade que a sustente.  Esta ação pode estar em maior ou menor harmonia com esse pensamento e essa vontade, que podem estar em harmonia ou desarmonia entre si.

Bem, além do nossos pensamentos, vontades e ações envolvidos em nossa conduta, há uma infinidade de outros pensamentos, vontades e ações coexistindo em nosso universo.  E o fato é que cada ato nosso mobiliza o universo à nossa volta, atraindo pensamentos, vontades e ações similares aos nossos. 

Podemos dizer então que cada ato realizado em nossa vida é uma declaração e uma definição de quem somos e do que queremos que esteja ao nosso lado de agora em diante – até que um outro ato nosso nos defina de forma diferente.  Isso significa que a cada momento passamos ao universo sinais do que gostaríamos de ter conosco, do que gostaríamos que fosse reforçado em nós.  E o mais incrível é que o universo sempre atende nossos apelos, ele sempre nos dá o que pedimos!  Essa é a análise do aspecto criativo de nossas ações.

Essa é também a essência da mensagem contida no livro e filme “O Segredo”, sendo apresentada como o “grande segredo dos místicos” – a Lei da Atração.  Na realidade, considero que não há “grande segredo” nenhum, pois tudo está dentro de nós, basta “ouvir” nossa intuição, e que a Lei da Atração é muito relevante sim, dentro do contexto maior da Lei da Causa e Efeito.

Continuando a análise, devido a essa característica de nosso universo, de sempre prover de volta a nós energias similares às que emitimos, a Lei da Causa e Efeito passa a ser facilmente explicável: tudo o que fazemos emite energias para o universo, mais ou menos harmoniosas entre si e com o Amor Divino, e tais energias atrairão outras similares para nós, causando efeitos sensíveis em nós mesmos.

Devo acrescentar que esses efeitos nem sempre são imediatos ou se referem ao mesmo assunto.  As energias do universo sensível são bem genéricas, e quando falamos que o que emitimos atrai energias “similares” de volta a nós, estas envolvem uma variedade muito grande de situações, com uma certa “essência” em comum. 

Assim, se realizamos uma atitude egoísta, ela atrairá energias referentes a atitudes egoístas, nas mais diversas situações e, na primeira oportunidade, alguma dessas energias se manifestará em nossa vida, ou seja, alguém agirá de forma egoísta conosco, e aí “colheremos o que plantamos”.

Se essa atitude egoísta foi sustentada por pensamentos puramente egoístas e uma vontade também egoísta, as energias atraídas serão muito mais intensas, pois as energias envolvidas estarão “alinhadas“ entre si, em ressonância, o que multiplica sua “concentração”, trazendo consequências destrutivas mais intensas.  Se, por outro lado, a atitude egoísta não foi intencional, sendo resultado de uma distração ou negligência de nossa parte, nossa atitude não estará em perfeita harmonia com nossa intenção, e as energias atraídas serão bem mais brandas, gerando consequências destrutivas mais brandas em nossa vida.

Da mesma forma, se agimos amorosamente com alguém, sustentados por pensamentos harmoniosos e uma vontade também amorosa, atrairemos para nós energias amorosas extremamente poderosas, e logo que possível nossa vida será diretamente beneficiada por tais energias, que são consequência de nossas boas obras.  Se, por outro lado, nossa benevolência foi acidental, sem querer, o benefício advindo para nós será bem menor.

Devo acrescentar que, quanto mais nossos pensamentos, palavras e ações forem harmoniosos com o Amor Divino, animados pela intenção de ajudar os outros, de trabalhar para a Reintegração Divina de todos os seres, mais poderosas serão as energias que estarão conosco, em um círculo virtuoso impressionante.  Pode-se dizer que, se nos dedicarmos com disciplina e harmonia a esse objetivo, poderemos realmente fazer “milagres”, feitos inacreditáveis.

Existem óbvias críticas à validade desta lei, uma vez que é muito frequente observarmos “injustiças”, em que pessoas muito bem intencionadas sofrem imensamente e pessoas extremamente egoístas e más triunfam.  Devo observar que tais avaliações não consideram os fatos num contexto maior, e que a Lei da Causa e Efeito possui uma complexidade que a torna difícil de demonstrá-la de forma racional. 

Isso porque, no método científico, precisamos isolar um determinado fenômeno para estudá-lo, abstraindo tudo à volta e testando se uma determinada proposição é válida para aquela situação específica.  Porém, no universo sensível, todas as energias estão interligadas, o que torna impossível isolar algum evento para testar sua validade.  Assim, a Lei da Causa e Efeito envolve infinitas interações de energias, sendo praticamente impossível ter uma visão do todo.

Aquela pessoa fez muito mal a muita gente, e terminou seus dias rica, famosa e poderosa.  Onde está a causa e efeito?  Para sabermos, temos que questionar: como estavam as emoções dessa pessoa?  Será que ela vivia em paz, ou em tremenda angústia?  Será que ela tinha uma relação harmoniosa com sua família?  Ela conseguia usufruir de forma saudável dos recursos que tinha à sua disposição?  Será que ela não vivia dominado pelo medo de outros fazerem a ela o mal que ela sabia ter feito? 

Aquela outra pessoa é tão boa, ajuda a todos e vive na pobreza, carente de tudo, além de ter perdido seu filho único e ter uma doença incurável.  Como explicar isso?  Para começar, será que ela é tão boa assim?  Será que seus pensamentos e vontades estão alinhados com suas ações?  Será que ela está sofrendo tanto assim com essa situação?  Será que ela não considera aquilo uma provação passageira, que serve para deixá-la mais segura sobre suas convicções?

O fato é que é muito difícil responder às perguntas acima, porque em geral não temos o conhecimento do contexto envolvido, dos pensamentos e vontades que estão por trás das ações.  Assim, o que recomendo é confiança, confie nas leis cósmicas, elas realmente não falham.

Devo acrescentar ainda que alguns casos realmente escapam à racionalidade humana, como por exemplo as crianças-prodígio, ou, por outro lado, as crianças que nascem com doenças graves ou debilidades mentais.  O que elas fizeram para merecer esse efeito maravilhoso ou terrível em suas vidas?  A visão mística explica tais casos extremos com a tese da imortalidade da vida – a vida, na concepção mística, não se inicia no nascimento nem termina na morte.  Esse ponto será melhor abordado no próximo post.

Para concluir, resta falar da interação entre a Lei do Livre Arbítrio e a Lei da Causa e Efeito.  Na realidade, a Lei da Causa e Efeito é o regulador natural da Lei do Livre Arbítrio.  Isso porque a liberdade ilimitada dada ao ser humano pela primeira lei é limitada pelas consequências advindas da segunda lei.  Em outras palavras, você pode fazer tudo o que quiser, na hora que quiser, da forma que quiser, com quem quiser, mas deve responder pelas consequências de seus atos.

Devo frisar que não se trata de nenhum conceito de moral aqui.  Por exemplo, você pode matar, roubar, provocar uma catástrofe, comandar um genocídio, tudo que estiver a seu alcance você pode fazer, mas a Lei da Causa e do Efeito irá se aplicar a você, sempre – não se trata de julgamento de alguma conduta “boa” ou “ruim”, mas simplesmente de uma consequência natural de seus atos. 

Assim, o universo ou Deus não “condena” ou “absolve” ninguém, não há juízo de valor essencial sobre nossa conduta – toda conduta é válida e merece respeito, pois deriva da divina faculdade do Livre Arbítrio.  Apenas colhemos o que plantamos, conforme já explicado neste post, de forma impessoal.  Em essência, a coisa funciona assim: se você alinha harmoniosamente pensamento, vontade e ação em consonância com o Amor Divino, os efeitos serão predominantemente bons (mesmo que não pareçam, a princípio).  E vice-versa.

E por que eu disse que o Lei da Causa e Efeito regula a Lei do Livre Arbítrio?  Porque o mecanismo de causa e efeito, na prática, é um dos melhores “educadores” que podemos ter, desde que aproveitemos as “lições” que a vida nos dá.  Vamos pensar de forma bem simples: se podemos fazer o que quisermos indistintamente – não há, em essência, nenhuma censura prévia a nossos atos – o que poderia nos indicar qual a conduta mais harmonizada com o Amor Divino?  Qual seria o guia mais seguro de nossas atitudes, para que possamos ter alguma indicação segura de que estamos no caminho da Reintegração?

A resposta é bem simples: as consequências de nossos atos.  Sendo assim, a melhor atitude para um místico é estar sempre atento às consequências de cada ato praticado.  E aqui incluo as reações das pessoas afetadas, as transformações no ambiente à nossa volta, e, principalmente, as nossas próprias reações internas, ou seja, como você se sentiu após o ato – aquilo te deixou mais feliz ou houve uma “voz interior” que te fez perceber que você fez a coisa certa?  Os “indicadores interiores” são, em geral, os mais confiáveis (desde que estejamos com mínimo equilíbrio e saúde mental), mas não se deve ignorar os indicadores externos, que podem ser bem relevantes em muitas situações.

Vamos citar um exemplo prático: será que a humanidade está tratando bem o planeta em que vive?  Qual a melhor maneira de se obter essa resposta?  Simples: analisando de forma objetiva as consequências da presença humana no planeta nos dias atuais.

Por exemplo: aumento de temperatura global, degelos de áreas polares e geleiras, maior frequência de fenômenos extremos - tempestades, inundações, furacões - dentre outras consequências.  Em função dessas observações, podemos facilmente concluir que o ser humano, como espécie, está realmente pouco harmonizado com seu ambiente natural, o que pode lhe trazer prejuízos globais no médio e longo prazo, e já está trazendo prejuízos localizados no curto prazo. 

Isso não quer dizer que o planeta está “castigando” a humanidade por estar se “portando mal”; quer dizer, simplesmente, que o ser humano está sofrendo as consequências de uma contínua e crescente violação a diversas leis naturais que regem o equilíbrio da vida neste planeta.

E como resolver isso?  Tendo plena consciência da situação e mudando as atitudes, passando a estar mais harmonizado com as leis naturais da vida neste planeta.  E o fato é que essa mudança de pensamentos, vontades e ações já está ocorrendo, e, se acelerarmos essa mudança, em algum tempo a humanidade poderá se beneficiar dela.  Esse é um dos grandes desafios de nosso futuro próximo.  Tal atitude de maior conscientização é válida para qualquer atitude dissonante que estejamos praticando em nossa vida.

Cabe então mais um apelo: que possamos tomar consciência de nossas atitudes dissonantes, por meio das consequências que elas trazem a nós, às pessoas a nossa volta e ao nosso ambiente, e possamos livremente mudar nossos atos e criativamente construirmos um mundo melhor.

Devo agora falar de uma questão relevante relativa à visão mística: o fatalismo.  Muitas pessoas têm uma ideia pré-concebida a respeito do misticismo, de que seus adeptos seriam pessoas que poderiam "prever o futuro" e com isso saber o que os astros, os números, as cartas, os búzios, as runas, etc. reservam para você.  E muitas pessoas se apresentam intitulando-se portadoras de faculdades especiais, com dons de profecia e adivinhação diversas, prontas para te "ajudar", na maioria das vezes mediante pagamento.  Em vários livros religiosos, incluindo a Bíblia, existem menções a pessoas com essa capacidade profética.  Como conciliar esse fato com a noção de livre arbítrio aqui mostrada?

Em outras palavras, será que nosso destino já foi definido ao nascermos pela posição dos astros no céu, ou pelos números associados ao nosso nome e data de nascimento?  Ou será que isso é um total absurdo e somos o resultado de nossas escolhas conscientes ao longo da vida, como prevê a Lei do Livre Arbítrio?  A resposta mais equilibrada é: nem uma coisa nem outra.

Explicando melhor: se de um lado o fatalismo "radical", que considera que já nascemos com nosso destino "traçado" por circunstâncias aparentemente aleatórias é muito difícil de aceitar - se fosse assim, por que teríamos a liberdade de escolha de nossos atos? - por outro lado deve-se reconhecer que, pela Lei da Causa e Efeito, estamos sujeitos a diversas energias que nos influenciam o tempo inteiro, resultado de escolhas passadas feitas por nós mesmos, em um nível mais ou menos consciente.

Assim, existe validade sim nesses métodos pretensamente "divinatórios", não para saber exatamente o que ocorrerá em nossa vida, mas sim para captar essas energias "cármicas" que estão à nossa volta, muitas vezes sem que tenhamos consciência disso.  Assim, as profecias são muito úteis como alertas - "tal coisa poderá ocorrer com você, se você não mudar o rumo de sua vida", ou seja, "tal coisa ocorrerá com você, se você continuar a fazer as mesmas escolhas que vem fazendo".

Resumindo, essas "adivinhações" do futuro podem ser muito úteis para termos consciência de energias relevantes que estão à nossa volta, mas, pela Lei do Livre Arbítrio, sempre poderemos mudar o rumo de nossa vida, por mais dissonantes que sejam as energias ã nossa volta, energias essas sempre atraídas por nós mesmos, de forma mais ou menos consciente, re que podem, por nosso livre arbítrio, serem afastadas de nós.  Basta querermos e persistirmos, o resultado virá, isso é certo.

Assim, se tivermos essa visão mais "flexível" do significado dessas previsões, elas podem sim ser muito úteis, em termos individuais ou coletivos.  Há que se ter cuidado, porém, com os indivíduos mal preparados ou mal intencionados, que simplesmente usam técnicas de persuasão para envolver pessoas inocentes em uma rede de medos e rancores, na maioria das vezes com finalidade de ganhos materiais.  Daí vale o que já disse em outro post: nunca aceite nada como verdade absoluta, pense, medite e veja se aquilo vale para você.  Evite as ilusões!

Saudações fraternas.

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