quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Lei do Amor


Saudações a todos.

Após buscarmos uma descrição de alguns elementos e princípios básicos do Universo, segundo a visão mística, vamos agora descrever algumas leis básicas que explicam o funcionamento da Criação, ou seja, de nosso universo sensível.

Um dos assuntos mais citados em posts anteriores foi a “Lei do Amor”.  E isso não é por acaso, já que essa é uma das leis fundamentais mais importantes do universo.  Resumindo bastante, podemos enuncia-la como: “Tudo o que ocorre no mundo tem por objetivo final a harmonização com o Amor Divino.”

Como consequência relevante desta lei, pode-se afirmar que: “Tudo o que está em harmonia com o Amor Divino será facilitado ou realizado.” E também que “Tudo o que estiver contrário ao Amor Divino será dificultado ou impedido.”

Conforme essa lei, o Universo como um todo, de forma sistemática, “conspira” para que estejamos cada vez mais em harmonia com o Amor Divino, nos impondo obstáculos sempre que estivermos contra esse mesmo Amor.  Em outras palavras, é como se houvesse uma inteligência suprema que coordenasse todos os eventos do mundo, e cuidasse para que somente os que são “harmônicos” possam progredir, desestimulando fortemente os demais eventos. 

Mais precisamente, é como se existisse uma energia infinitamente poderosa, que vibrasse na frequência do Amor Divino, sendo que qualquer energia que vibre nessa frequência seja imediatamente reforçada (num fenômeno similar ao da “ressonância” de ondas físicas) e qualquer outra que vibre em frequências dissonantes seja enfraquecida (tal como em uma “interferência” de ondas físicas).

Para entender melhor essa Lei, deve-se primeiro discorrer sobre o que significa esse “Amor Divino”.  Já falamos um pouco sobre ele no post que discorreu sobre a Trindade – o Amor Divino vem a ser a dimensão ativa da divindade, ou seja, como Deus se apresenta de forma mais ativa em nosso dia a dia. 

E a melhor ideia que podemos fazer do Amor Divino é conceber um amor humano perfeitamente puro, ou seja, sem ciúme ou posse.  Talvez o mais próximo que possamos chegar em nossa vida real seria no amor de um pai ou mãe por seus filhos, em uma relação saudável.  Fazendo esse paralelo, pode-se então dizer que esse amor representa um estado de espírito em que gostamos infinitamente do outro, respeitando integralmente seu modo de ser e desejando a sua felicidade acima da nossa, sempre pronto a aceitar e perdoar qualquer falha ou desvio em sua conduta. 

Porém, esse amor tem também uma dimensão justa, que é a de, mesmo aceitando o modo de ser do outro, não evitar que ele perceba e sofra as consequências de suas escolhas – esse seria o lado “educativo” do amor, pois amar também é estabelecer limites e saber dizer não, como qualquer pedagogo ou psicólogo recomenda.

Acabei de descrever de forma aproximada como é a influência do Amor Divino para conosco – tudo ocorre como se Deus fosse um pai/mãe perfeitamente amoroso, que nos dá total liberdade para fazermos o que quisermos, para exercermos plenamente nossas escolhas, está sempre pronto a nos ajudar e acudir, preocupado com nossa felicidade acima de qualquer coisa, mas que não impede que soframos as consequências de nossos desvios de conduta.

Devo frisar que essa é uma visão aproximada do Amor Divino, bastante útil e conveniente, mas aproximada.  De qualquer forma, essa visão é uma das bases da concepção do Deus pessoal, Mas devo frisar que, conforme já dito no post sobre Deus, essa é somente uma das concepções alternativas sobre Deus, necessariamente incompleta.

Assim, deve-se tomar cuidado para não atribuir a Deus qualidades de um pai/mãe humano que efetivamente não se aplicam a Ele, tais como: “Deus se preocupa conosco”, “Deus fica triste quando desobedecemos a Ele”, “Deus sofre ao ver nossos desvios”, “Deus se aborrece com nossa teimosia”, “Deus perdeu a paciência conosco”, “Deus nos castigou”.  Um pouco de reflexão pode mostrar que essas concepções não podem se aplicar a um Deus realmente onisciente, onipotente e onipresente.  E essas concepções são muito frequentes em diversos textos religiosos.

O que deve ser apreendido nessa visão do Amor Divino é o sentimento de amor incondicional, de aceitação total, com infinita paciência, compreensão e tolerância, em relação a todos os seres, todos os eventos e todas as escolhas realizadas no mundo.  E esse Amor Divino tem um objetivo, que é o de promover a reintegração de todos com a Divindade.

Assim, para verificar se estamos agindo de acordo com o Amor Divino, devemos fazer as seguintes perguntas: minha atitude está ajudando aos outros e a mim mesmo?  Alguém será prejudicado de forma desnecessária ou injusta?  Gostaria que fizessem isso comigo?  Caso as respostas sejam afirmativas, estamos de acordo com o Amor Divino, pois, como já dito, seu grande objetivo é a integração de todos, o bem comum.  Nesse caso, o Universo nos dará o suporte necessário, e certamente teremos sucesso em nossas atitudes.  Caso contrário, o Universo não nos apoiará de forma consistente, e mais cedo ou mais tarde iremos fracassar nos objetivos de nossas ações desviantes.





Tudo muito lógico e elegante, mas parece até que estou falando de outro mundo, o “mundo místico”, que não tem nenhuma ligação com o mundo real.  Ora, todos sabemos que, na vida real, é muito comum que  os “bons”, “justos” e “bem intencionados” vivam oprimidos, injustiçados, sofram imensamente, em condições miseráveis, percam seus amigos, sua família, sejam “abandonados por Deus”, enquanto muitas pessoas abomináveis, tirânicas, sanguinárias, insensíveis triunfam e desfrutam de luxos e riquezas, com muito poder, fama e acesso ao que há de melhor nesse mundo.  Mas como Deus pode permitir isso?  Como isso pode ocorrer se o Amor Divino “sempre prevalece”?

Esse é uma das diferenças fundamentais entre a visão científica e a mística.  As ciências sociais - como por exemplo a sociologia e a ciência política – simplesmente constatam os fenômenos sociais da forma que eles se apresentam a nossos sentidos, isoladamente ou associados a outros fatos percebidos.  A partir dessa visão “racional” da realidade, surgem muitas teorias que defendem que o homem é “mau por natureza”, que ele vive em “estado selvagem”, necessitando da sociedade para “domá-lo”, e mesmo assim com muitas falhas nesse processo.

Mas a visão mística, como já descrito, tem um ponto de vista diferente, que necessita ser melhor esclarecido, de forma a ser compatível com a realidade sensível.  Como já dito em outro post, a visão mística não é uma visão fantasiosa, utópica, muito pelo contrário, é a consideração plena da realidade à nossa volta, em vários aspectos, e não somente no racional/sensível.

Para começar, deve-se fazer uma importante distinção entre “o Universo nos dará o suporte” e “o Universo proverá a solução para nós”.  Devemos ter em mente que os resultados de nossas iniciativas são decorrentes de nossas ações, de nosso esforço e disciplina para alcançá-los, obedecendo às leis físicas básicas e à interação natural entre as pessoas – a visão mística, ao contrário do que muitos podem pensar, não pretende contrariar as leis físicas nem os princípios consagrados pela ciência, apenas complementá-los.

Assim, se alguém se jogar do alto de um prédio, com o coração perfeitamente puro, em estado profundamente meditativo, totalmente harmonizado com o Amor Divino, nada disso evitará que ele caia no chão, pelo simples motivo que a lei da gravidade é universal e impessoal, como todas as leis físicas, e como todas as leis místicas também.  O que poderá ocorrer é ele ter sua queda suavizada ao atingir o chão e com isso minimizar suas lesões, mas dificilmente vai escapar de algumas fraturas e escoriações.

Cabe dizer que existem místicos que, após anos de treinamento, conseguem efetivamente flutuar e voar curtas distâncias, em fenômenos já relatados diversas vezes – mas aí cabe a pergunta: tais fenômenos servem para ajudar alguém?  Qual a real utilidade de se contrariar a lei da gravidade?  No que isso contribui para a reintegração universal?  Por isso, não levarei em consideração essas vertentes do caminho místico em meus textos, embora deva ressaltar que respeito imensamente os que se dedicam, com anos de disciplina, a tais atividades.

Da mesma forma, alguém que viva em estado de meditação harmoniosa 24h por dia, em isolamento, como um perfeito místico eremita, mas que trate de forma hostil qualquer pessoa que se aproxime, esse alguém não estará realmente contribuindo para o bem comum, para a reintegração de todos, e dificilmente terá alguma recompensa relevante em termos espirituais – em outras palavras, dificilmente será feliz.

Reforçando essa ideia, o universo não está a nosso serviço, nós é deveremos estar a serviço do bem comum.  Isso significa que não é porque estamos com a melhor boa vontade que teremos sempre sucesso – isso dependerá sempre de nosso esforço e dedicação.  A regra mais geral é que: se temos boa vontade e lutamos por uma causa justa, dando o melhor de si, é certo que teremos sucesso.

Outra questão associada é que o “sucesso” nem sempre é o que esperamos ou reconhecemos como tal – o sucesso é sempre o que melhor nos ajuda em nossa caminhada para a reintegração, é aquilo que mais pode contribuir para nossa felicidade duradoura, no longo prazo.  Assim, em muitos momentos, o melhor que pode ocorrer conosco é um contratempo, uma doença, ou mesmo uma tragédia, para nos forçar a repensar nossas atitudes e nossos valores.  Por isso o ditado: “Deus escreve certo por linhas tortas”.

Quantas pessoas, depois de um acidente ou tragédia familiar, não mudaram sua vida para melhor, dedicando-se a causas nobres?  Mas devemos frisar que isso é uma escolha possível diante de uma tragédia – a mais sábia, certamente – havendo porém outras formas de reagir, possíveis e compreensíveis: depressão, revolta, negatividade.  Nesse último caso, a pessoa vai atrair mais e mais situações ruins para si, em uma consequência natural de sua atitude.  Por, isso a confiança em Deus é tão importante – mais do que a confiança em Deus, a confiança na perfeição de sua criação – a isso muitos chamam fé, que é uma qualidade muito apreciada e importante para a visão mística.

Por outro lado, devemos afirmar que não é porque estamos mal-intencionados é que nunca iremos conseguir o que desejamos.  O que foi escrito é que “o Universo não nos apoiará de forma consistente”, o que significa que as energias mais sutis (e mais poderosas) do universo não estarão em harmonia conosco.  Só que, como já afirmado no post anterior, existem vários tipos de energias sutis, incluindo as que pertencem ao “baixo astral” que se caracterizam pela dualidade.  Ou seja, nesse plano sutil, existem energias “do bem” e energias “do mal”.

Com isso, pode-se deduzir que alguém muito mal intencionado e devidamente disciplinado pode atrair várias energias sutis dissonantes para apoiá-lo em seus desígnios, em um tipo de “ressonância” do mal.  Se há um grupo grande de pessoas disciplinadas para levar às últimas consequências atos dissonantes, essa energia realmente pode ser reforçada a um grau impressionante – para constatar isso, basta se lembrar de diversos genocídios praticados no séc. XX, por ditadores diversos ao redor do mundo.  Um exemplo mais simples é uma quadrilha criminosa, que pode durar décadas, em plena atividade.

Mas acredito que essas energias, por mais “amplificadas” que estejam, por mais impressionantes que sejam seus resultados no mundo concreto, estão sempre subordinadas às mais sutis, e redundam sempre em atitudes autodestrutivas para seus autores – ou seja, têm por consequência situações insustentáveis no longo prazo.  Assim, como exemplo, podemos afirmar que todas as ditaduras fomentam sua própria oposição, que irá crescendo e se organizando até o ponto de derrubar o regime.

Assim, posso afirmar que, embora essas “reuniões do mal” possam ser muito poderosas por algum tempo, no longo prazo elas se desmancham por si, sucumbindo a conflitos e desentendimentos entre seus próprios membros, já que as energias que os unem são frágeis, por natureza.  Por outro lado, associações de pessoas dedicadas ao auxílio e a boas ações na sociedade podem ser muito mais longevas – embora também estejam sujeitas a turbulências e conflitos naturais em qualquer relação humana – mas pelo menos elas têm um fundamento realmente poderoso que as sustente.
Como principal exemplo de organizações “do bem”, temos as principais religiões do mundo, que, com todos os seus defeitos, têm contato com uma energia efetivamente poderosa, que as orienta e as auxilia a atravessar décadas, séculos, sobrevivendo e se adaptando a cada época.  Outros exemplos relevantes são organizações humanitárias diversas, que vem sendo cada vez mais relevantes para auxiliar pessoas em regiões carentes do mundo inteiro.  Deve-se notar que é muito frequente que pessoas envolvidas nessas organizações amem seu trabalho e tenham um grau elevado de realização – ou seja, sejam pessoas mais felizes que a média.

Concluindo, posso dizer que energias semelhantes se reforçam e energias diferentes se enfraquecem, e que as energias mais sutis e poderosas são as do Amor Divino, identificadas com tudo que é bom e feliz.  Por mais que haja reforços de energias “do mal”, conseguindo vitórias frequentes e efêmeras, as energias sutis, discretas e harmoniosas, vão prevalecer a longo prazo, e todos retornaremos á nossa fonte – Deus – por meio de seu Amor Divino.  Que possamos sempre escolher os caminhos mais felizes para realizar essa reintegração!

Saudações fraternas.

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