sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Bem x Mal - Considerações Místicas



Saudações a todos.

No post anterior, em que falamos da Lei do Amor, foi dito que o Amor Divino sempre triunfa, o que significa, na prática, que o bem sempre prevalece, no longo prazo.  Naquele post existem diversas explicações sobre as condições de aplicação desta Lei em nosso mundo, a fim de compatibilizá-la com nossa realidade sensível.

Diretamente relacionado a este tema, temos uma questão bem relevante: qual a real natureza do bem e do mal?  Eles têm a mesma essência?  E associado a essas questões, uma muito pertinente: afinal, qual a natureza do Diabo?

Esse tema tem sido objeto de muito interesse de místicos diversos, e não por acaso é um dos temas mais controvertidos – existem inúmeras concepções diferentes do mal e do Diabo, que seria sua personificação.  De qualquer forma, é um tema que atrai imensamente o público em geral, haja vista os milhões de expectadores e leitores de vários filmes e livros com temática “do mal”.

Vou expor então minha visão do tema, já adiantando que respeito imensamente qualquer visão divergente, incluindo as visões religiosas, que a meu ver são praticamente opostas ao que vou escrever.

Vou iniciar explicando minha visão da natureza do bem e do mal. Conforme já explicado em outros posts, o bem tem por fonte primeira Deus, por meio de seu Amor Divino.  E o mal, qual seria sua fonte?  Nossa própria consciência, que é dotada de livre arbítrio – e como tal, nos permite escolher o mal sempre que quisermos.  Por essa concepção, o mal seria simplesmente uma concepção mental humana que não é harmoniosa com o Amor Divino. 

Posso dizer também que, em nosso planeta, o mal tem por única fonte a mente humana, por sermos a única espécie dotada de autoconsciência e livre-arbítrio, com capacidade para pensar e fazer o mal. Não vou aprofundar esse ponto, mas reconheço que alguns animais, normalmente os domésticos ou com convívio frequente com humanos, podem ter lampejos de consciência e terem atitudes “maldosas”, mas nada que se compare ao ser humano.

Em outras palavras, o bem é harmonizado com Deus, e o mal não é.  Pode-se dizer também que, em um plano mais sutil de existência, somente o bem existe – somente ele possui essência real.  Sendo assim, o mal não tem uma natureza sutil profunda, tendo sua existência limitada somente às frequências mais densas, sendo um resultado natural do princípio da dualidade, que postula que existem sempre polos opostos em todas as manifestações de nosso mundo. 

A melhor imagem que podemos fazer desse conceito é o binário luz x sombra.  O bem seria algo como a “luz de Deus” e o mal seria a ausência dessa luz, ou seja, a “sombra de Deus”.  Somente energias mais densas são capazes de se opor à Luz Divina e propiciarem o surgimento da “Sombra” – ou do mal.

Deve-se notar que, em nosso mundo sensível, para podermos enxergar bem os objetos, há necessidade de diferentes dosagens de luz e sombra – somente a luz nos ofuscaria os olhos.  Assim, a sombra está sempre presente e é muito útil para distinguirmos os objetos, formarmos as imagens e conhecermos melhor nossa realidade.  Porém, ao contrário da luz, ela não tem natureza própria.  Assim é o mal – fundamental para distinguirmos e conhecermos melhor o bem, mas sem natureza sutil própria.  Devo acrescentar, para quem conhece o tema, que essa é a mesma analogia usada por Jung para definir seu conceito de “Sombra”.


Sendo assim, como podemos conceber o Diabo?  Será que ele seria um ser transcendente, sobrenatural, tal como “Deus do mal”, ou um “anjo caído”, que fosse a personificação do mal?  Devo frisar que diversas religiões adotam essa concepção, sendo que, no caso do zoroastrismo, existe inclusive um “Deus Mau”, equivalente ao “Deus Bom”, numa concepção filosófica denominada maniqueísmo.

Com todo o respeito às diversas correntes filosóficas e religiosas, devo concluir que, em função da concepção negativa de mal que expus acima, não há como conceber uma personificação de algo que simplesmente é a “ausência de Amor Divino”, de algo que não tem natureza sutil.  Assim, o Diabo, para mim, é uma ideia simbólica, não tendo existência energética real – é uma grande ilusão, presente em todos nós.

Devo agora acrescentar um ponto importante: a ideia do mal e de sua personificação, o Diabo, é extremamente útil para nós em nosso dia a dia, podendo ser um valioso guia em nossa caminhada.  Explicando melhor: como o mal é tudo o que não se harmoniza com o Amor Divino, ou seja, tudo o que tem resultados destrutivos a longo prazo, ele funciona na realidade como um grande “professor” em nossa vida, nos ensinando o que não fazer. 

Simplificando bastante, a função educativa do mal seria como o choque sentido por uma criança ao enfiar um dedo na tomada – nesse momento, ela logo aprende que isso machuca e não volta a repetir o gesto.  Esse choque é a consequência impessoal de uma escolha inadequada que fazemos.  O problema é que normalmente as coisas não são tão diretas e óbvias assim – em muitos momentos não identificamos as consequências ruins, achando que está tudo bem, e, mais frequentemente, identificamos os efeitos ruins, mas não as associamos a alguma atitude nossa.

Daí devo falar de uma questão muito relevante, que é o senso de responsabilidade que a visão mística atribui ao ser humano – em maior ou menor grau, tudo o que ocorre conosco, tudo mesmo, tem relação com alguma escolha nossa do passado.  E isso não significa que estamos eternamente “de castigo” sem nem saber o porquê, não é assim que funciona, as leis cósmicas não são pessoais, não tem por objetivo castigar ou se vingar de alguém.

Assim, de acordo com a visão mística, o mais relevante, ao se ver diante de qualquer dificuldade, não é sair procurando culpados, até porque provavelmente o principal “culpado” daquela situação é você mesmo. Deve-se notar que um dos grandes obstáculos à evolução é o sentimento de ser vítima de algo externo sobre o qual não temos ingerência – isso não é real, sempre temos escolha, sempre temos chance de mudar, de refazer os caminhos de forma construtiva.

Então o que devemos fazer?  Simplesmente assumir o evento (isso nem sempre é fácil de fazer), considerar aquele evento como necessário e útil, agradecer a oportunidade de ter aquela vivência e não perder a lição – você pode perder tudo, mas não perca a lição, não deixe de repensar sua conduta, sua visão de mundo.  Quando as coisas dão errado, quando o “Diabo” assume o comando e te leva para um caminho dissonante, nessa hora você sofre muito, fica distante da felicidade, e tem a oportunidade de repensar sua vida – afinal, o que devo mudar?  Como sair dessa situação?

Esse processo de “autopurificação” é muito bem aplicado por grupos espiritualistas especializados na recuperação de pessoas viciadas em geral, dos quais o mais conhecido é o AA – Alcoólicos Anônimos.  Esses grupos indicam a melhor maneira de encarar uma realidade negativa, dominada pelo “Diabo”, ou seja, totalmente dissonante do Amor Divino, e transformá-la em algo positivo, como naquela expressão: “fazer do limão uma limonada”.

E então podemos concluir que o “Diabo” é aquele estado mental de confusão, de dissonância, em que estamos dispostos a dar vazão a instintos primitivos, a desejos imediatistas e egoístas, desprezando os outros e agindo de forma destrutiva – sempre autodestrutiva, no final das contas.  E quem e o responsável por tal estado?  Só existe um candidato possível: nós mesmos!  Por isso, posso dizer uma frase de impacto: o Diabo mora dentro de nós.  Para quem conhece a teoria dos arquétipos de Jung, o Diabo é a “Sombra”.

Um enfoque alternativo é ver o Diabo como tudo o que nos leva a atrasar nosso caminho de reintegração divina, tudo o que nos afasta do Amor Divino.  Esse Diabo tem como fonte de seu poder uma “parte” de nossa própria personalidade, nosso eu sensível, ou seja, a “parte” de nós que foi construída ao longo da vida de forma dissonante, com a qual nos identificamos, e muitas vezes nos apegamos.  Essa “parte” nossa está iludida com objetivos egoístas - poder, dinheiro, status -, ou seja, que está em busca dos “ídolos” que sempre existiram na história da humanidade (e que continuam aí, cada vez mais presentes em nosso dia a dia).

Daí que a grande “arma” contra o Diabo é conscientização – sempre que aprendemos sobre as leis cósmicas e percebemos, em nosso íntimo (e não somente intelectualmente) que nosso objetivo de vida é a reintegração divina, e que o melhor caminho para isso é a harmonização com o Amor Divino, o Diabo perde seu poder (que vem de nós mesmos) e então podemos fruir um estado dinâmico e duradouro de felicidade, que é o sonho de todos nós.  No fundo, o que ocorre é que nós mesmos paramos de alimentar esse nosso lado dissonante, e ele vai definhando até desaparecer, ou até se tornar inútil para nós.

Mas porque precisa ser assim?  Porque já não nascemos logo com toda a consciência necessária, de forma a não sofrermos, não precisarmos aprender na “via dolorosa”?  É muito difícil responder essa pergunta de forma profunda, pois ela envolve algo como as “razões de Deus”, que são inacessíveis à nossa mente racional.  Mas pode-se dizer que as dificuldades aumentam o mérito da conquista.  Nesse sentido o Diabo está aí, dentre outros motivos, para que possamos dar o real valor à maravilha da harmonização divina.

Tudo muito interessante e lógico, mas e o que significam os monstros, os bruxos, os vampiros, os demônios, os fantasmas, as criaturas diabólicas?  O inferno existe, afinal?  Os filmes de terror então são completamente fantasiosos?  E os fenômenos realmente estranhos que são documentados?

Posso dizer, resumidamente, que muitos fenômenos assustadores e estranhos que ocorrem em muitos lugares do mundo são consequência de energias “do mal” que se encontram no baixo astral, já descrito em outro post.  Como já dito, essas energias podem ser atraídas por energias similares e ter seu poder amplificado, provocando fenômenos muitas vezes impressionantes.  Sendo assim, alguns desses fenômenos são realmente sobrenaturais, mas o fato é que não têm nenhuma relação com a ideia de “Diabo” aqui exposta.  O que ocorre é que, algumas pessoas em estado “diabólico”, dissonantes em relação ao Amor Divino, podem ser atraídas por energias desse tipo e contribuírem para alimentar seus efeitos, tal como no mito dos vampiros. 

Devo deixar claro que não endosso o conceito de possessão, não acredito ser possível que uma dessas energias dissonantes possa tomar conta de alguém e comandá-lo como um “zumbi” – a pessoa sempre tem o domínio de si mesma, em algum grau, e suas atitudes são sempre resultado de suas escolhas.  Sendo assim, considero que a ideia de possessão somente contribui para que as pessoas se sintam vítimas, o que não concordo, como já explicado.

Devo dizer, para concluir, que, tal como explicado no post anterior, que detalha a Lei do Amor, com o tempo essas manifestações “do mal” necessariamente entram em processos autodestrutivos, nada sobrando de relevante.  Sendo assim, qualquer pessoa um dia terá a chance de retomar o caminho do Amor Divino.  Mas, e se ela morre antes disso?  Respondendo com outra pergunta: quem disse que a vida termina com a morte?  Mas isso é assunto para um post futuro.

E quanto ao inferno?  Ele existe?  Devo dizer que sim, sendo a “morada do Diabo”.  Ora, se o Diabo está em nós, o inferno é o lugar em que ele vive, ou seja, o nosso mundo sensível – o inferno é aqui, é aqui que preparamos nossa evolução, é aqui que temos que responder pelas consequências de nossos atos, é aqui que buscamos a reintegração divina, com o auxílio de seu sublime Amor.  Essa é uma questão para várias reflexões – sugiro que meditem sobre isso.

Outra questão que deixarei para reflexão é que, se o inferno é aqui, para onde vamos quando morremos?  Para o “médio astral”, como já dito no outro post, que não é de forma alguma um local de sofrimento.  Assim, o inferno como um lugar de sofrimentos eternos simplesmente não existe.

Espero que essas considerações sirvam para refletir melhor sobre pontos que são tão importantes em nossa vida diária, e que reduzam um pouco a imensa carga de superstição e ignorância que cerca esse tipo de assunto, em que os conceitos de muitas pessoas são determinados unicamente pelo medo, sem nenhuma crítica racional.

Infelizmente, o medo costuma ser um péssimo guia, e às vezes se presta a ser instrumento de manipulação de pessoas, na mão de organizações nem sempre bem intencionadas.  Que Deus nos livre de nosso grande mal – a ignorância!

Saudações fraternas.

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