sexta-feira, 4 de abril de 2014

O Caminho Iniciático



Saudações a todos.

Hoje vou tratar de um tema muito importante, para a visão mística: o caminho místico, em especial o caminho iniciático.  O caminho místico consiste em tudo o que uma pessoa pode e deve fazer em sua vida para se harmonizar com o Amor Divino, em busca da Reintegração Divina, que, como já dissemos em outro post, é a principal finalidade de nossa vida, a fonte da mais verdadeira felicidade.

Esse caminho não é simples, nem rápido.  O fato é que não existem “atalhos” ou caminhos “milagrosos” para se harmonizar com Deus.  E por isso mesmo nossa vida tem a duração de décadas, e não de dias.  As primeiras 2 ou 3 décadas de vida tem por objetivo o nosso desenvolvimento e amadurecimento, para que possamos ter os conhecimentos e vivências mínimos necessários para iniciarmos o nosso caminho, com razoável autonomia.  Daí em diante serão em média 5 ou 6 décadas para que possamos percorrer esse caminho.  Acredito que nossa vida não seria tão longa se isto não fosse necessário para nossa evolução.

Posso dizer também que uma vida, em geral, é muito curta para podermos chegar à plena harmonia com Deus.  Quantos de nós, depois de 70, 80 anos de vida, ainda continuamos insistindo em pensamentos, desejos e atitudes realmente dissonantes?  Na realidade, a maioria das pessoas idosas está longe de ter uma vida plenamente harmoniosa.  Pelo contrário, muitos chegam a essa fase seriamente doentes, amargurados, ressentidos, com uma visão bem negativa da vida e da morte.  Para essas pessoas, esse tempo todo não foi o bastante.

Mas será que, se fizermos as escolhas certas, usando sabiamente nosso livre arbítrio, poderemos em uma única vida, em um tempo de poucas décadas, alcançar a harmonização plena, a comunhão com Deus?  Caso contrário, até onde poderemos chegar?  Essa pergunta simplesmente não tem resposta única, pois ela necessariamente varia de pessoa a pessoa.  Cada um terá que fazer sua avaliação pessoal, com base em seu autoconhecimento, e perceber onde se encontra e até onde pode ir nesse caminho. 

Isso significa que realmente essa harmonização total não é acessível a todos, em sua vida atual.  Para que possamos conciliar essa ideia com a de que todos nós temos por destino essa harmonização, temos que pensar que existem múltiplas vidas – isso já foi detalhado em um post anterior: “o ciclo da vida”.

Mas quais são os indicativos de que estamos perfeitamente harmonizados com Deus?  Talvez o melhor indicativo seja a felicidade plena, constante e dinâmica, ou seja, um sentimento interior de total bem estar, em qualquer momento de nossa vida, independentemente das circunstâncias externas – nada nos abala, nada nos preocupa, nada nos faz ter nenhuma sensação ruim, nunca.

Sinceramente, alguém conhece uma pessoa, uma única que seja, que viva nesse estado pleno de felicidade o tempo inteiro?  Eu pelo menos não conheço e ainda devo dizer que muitas pessoas acreditam que essa “felicidade plena”, de tão incomum, é um mito, algo que simplesmente não está acessível ao ser humano, a ninguém.

Mas a visão mística acredita que essa felicidade é acessível sim, e que já foi inclusive acessada por várias pessoas ao longo da história da humanidade, algumas muito famosas – os principais “avatares”, que deram origem a religiões e filosofias místicas diversas – e outras nem tanto.  Além disso, a visão mística considera que a vida dessas pessoas que conseguiram a harmonia plena com Deus deveria servir de exemplo a todos – ela está acessível a todos, ninguém precisa nascer com um “dom especial” para seguir nesse caminho e alcançar tal Comunhão Divina – dentro do conceito de vidas múltiplas, já citado.

Assim, a visão mística estabelece uma meta clara, possível, que já foi obtida por outras pessoas antes, e muitas delas inclusive deixaram registros de suas vidas, com indicações sobre como alcançar o que elas conseguiram.  Mas ainda assim trata-se de uma meta extremamente difícil, tão difícil que uma vida inteira parece não ser suficiente para a maioria de nós.  Mas, mesmo que ela não esteja acessível nessa vida, deve-se notar que, pela visão mística, há um rumo a se seguir, necessário para que, em uma próxima vida, essa meta seja alcançada.

Bem, para que possamos ter uma ideia de como estamos indo nesse caminho, devemos ter uma boa dose de autocrítica e buscar a resposta sincera a algumas dessas questões:
- Com que frequência me afasto do estado de harmonia, tendo pensamentos, vontades ou atitudes que causam discórdia e desentendimentos entre as pessoas?
- Com que frequência faço minha vontade egoísta prevalecer, insensível aos interesses alheios, sem empatia nem consideração aos outros?
- Com que frequência desperdiço oportunidades de ajudar quem quer que seja, de qualquer forma que esteja a meu alcance?
- Com que frequência perco a oportunidade de ficar calado, ou de falar a palavra mais adequada a alguém que esteja precisando?
- Com que frequência tento manipular, explorar ou enganar os outros, e me revolto quando me sinto manipulado, explorado ou enganado?
- Com que frequência deixo de me dedicar a minhas tarefas com zelo e dedicação, perdendo oportunidades de desenvolvimento profissional?
- Com que frequência ajo de forma desequilibrada em meus momentos de lazer, invadindo o sossego e os direitos básicos dos outros?
- Com que frequência tenho atitudes hostis com as pessoas a minha volta, não aceitando-as como elas são, sendo intolerante ou avarento?
- Com que frequência fico revoltado, ressentido, com vontade de matar alguém, inconformado, ou com sentimentos de vingança?
- Com que frequência sinto medo de morrer, medo de perder o que tenho, medo de viver, medo de ser feliz?
- Com que frequência me sobrecarrego de atividades, em uma escala exagerada, e com isso me desequilibro e prejudico os que estão à minha volta?
- Com que frequência me entrego a vícios alienantes e compulsivos – bebidas, drogas, por exemplo – e tomo atitudes desequilibradas, que prejudicam minha vida e a dos que estão próximos a mim?
- Com que frequência fico me sentindo vítima do mundo, renegado, desprezado, deslocado, envergonhado de ser quem eu sou, sem ter consciência do valor de minha essência?
- Com que frequência me sinto triste, deprimido, sem ânimo para realizar nada, descrente da vida, não vendo um final feliz para ela?

Esse exercício de autocrítica deve ser realizado periodicamente, sendo muito importante repeti-lo – com o tempo, treinando a autocrítica, poderemos identificar mais facilmente os obstáculos mais relevantes que ainda temos que superar para alcançar esse estado de felicidade plena.

Devo dizer que a meditação pode ser extremamente útil nesse processo, e, conforme a visão mística, existe uma modalidade de meditação, que pode ser chamada de “meditação ativa”, ou “meditação inspiradora”, que permite obter inspiração para qualquer questão relevante que tenhamos em nossa vida.

Este método, extremamente útil em inúmeras situações, consiste, simplesmente, em entrar em estado meditativo, relaxando bem e buscando “esvaziar a mente”, ou então não reagindo a qualquer pensamento que ocorra – é quase impossível evitar o surgimento de pensamentos “aleatórios”, por mais relaxado que se esteja.  Existem diversas técnicas de relaxamento a sua escolha, e muitas delas envolvem adequado controle da respiração – em geral, essas são bem adequadas.

Estando nesse estado meditativo, basta ter pensamentos específicos, contendo a questão, o dilema, ou o assunto que se deseja obter esclarecimentos.  E depois de um tempo concentrado nessa ideia, ficar receptivo, com a mente “vazia”, pelo tempo que achar necessário.  Daí, é certo que alguma inspiração virá, que ajudará você na questão apresentada.  Pode ser uma intuição naquele momento, pode ser um sonho na noite seguinte, pode ser um sinal qualquer, algo chegará a sua percepção e, se você estiver confiante e atento, poderá “ler” esse sinal e entender seu significado, que ajudará no encaminhamento da questão.

Conforme a visão mística, não há insucesso nesse tipo de meditação – sempre há algum auxílio a você, consciente ou inconscientemente.  Certamente, você receberá o auxílio suficiente e necessário a você naquele momento – o que você realmente precisa, e não o que você acha que precisa.  Naturalmente, há uma parcela de responsabilidade da própria pessoa nesse sucesso, pois ela deve estar confiante, receptiva e atenta aos sinais – eles sempre aparecem, nós é que nem sempre os percebemos, ou mais frequentemente, nem sempre os interpretamos adequadamente.

Bem, com isso já temos mais uma ferramenta poderosa para nos ajudar na caminhada rumo à Reintegração Divina: a meditação inspiradora.  Ela se junta a diversas outras já apresentadas em posts anteriores: oração, meditação, auxílio aos outros.  Além disso, já foi ressaltada a importância da busca do equilíbrio, de manter em nossos corações e mentes os pensamentos e sentimentos mais harmoniosos possíveis.  Tudo isso deve ser uma prática diária, disciplinada e consciente, com uma boa noção de onde queremos chegar (Reintegração Divina) e do motivo de estarmos pensando, sentindo e agindo dessa forma.

Parece bem complicado ter toda essa atitude equilibrada e essas práticas místicas o tempo inteiro, mas tudo é uma questão de disciplina.  Só que nem sempre temos a motivação necessária e suficiente, às vezes parece que estamos dedicados a bagunçar nossa vida, a sair do caminho.  O fato é que de vez em quando ocorrem momentos de confusão e dissonância me nossa vida, faz parte da caminhada de qualquer um, devemos saber conviver com eles.  Os obstáculos não são fáceis de serem transpostos, pois eles tem raízes bem profundas, no fundo de nosso subconsciente. 


Vou agora apresentar a iniciação, a ferramenta mais poderosa para transpor esses obstáculos, o instrumento mais eficaz para que possamos ter contato com energias sutis muito poderosas, que nos farão ter avanços sensíveis nessa caminhada – modernamente, poderíamos chamar esses avanços de “saltos quânticos”.

O que é uma iniciação?  Antes de definir o que seja, vamos falar de “rito de passagem”, que é um evento muito relevante na vida de uma pessoa, em que ela passa por uma experiência que marca uma mudança radical em sua vida.  Deve-se notar que todos nós passamos por diversos “ritos de passagem” em nossas vidas, e eles são parte muito importante de nossa cultura: por exemplo, quando nos formamos em algum nível de escolaridade, quando nos casamos, quando chamamos nossos amigos para conhecer nossa nova casa, ou mesmo quando comemoramos nossos aniversários, em todas essas ocasiões estamos celebrando alguma alteração mais ou menos importante em nossa vida – nem que seja o passar dos anos.

Pois bem, a iniciação é o rito de passagem místico por excelência.  Ela serve para marcar claramente uma alteração em seu nível de harmonização interior, ou seja, ela sinaliza um passo relevante que você dá na direção da Reintegração Divina.  Conforme a visão mística, na iniciação temos efetivo contato com energias muito especiais, com frequências muito sutis, que têm a possibilidade de elevar nosso “nível vibratório”, repentinamente, de forma sensível.  Caso estejamos em um estado receptivo adequado, poderemos nos beneficiar imensamente das energias sutis ali presentes.

E como esse processo pode ocorrer na prática?  Como se consegue esse contato com energias mais sutis?  De forma geral, nas organizações místicas iniciáticas, ou seja, nas que adotam a iniciação como ferramenta essencial para a harmonização de seus membros, a iniciação é uma experiência presencial, ou seja, o iniciando (a pessoa que irá passar pela iniciação) comparece a um local apropriado – um templo ou um recanto natural, por exemplo – e, na presença de membros mais antigos da organização (os iniciados), realiza um ritual de iniciação, próprio de cada organização.

Nas religiões em geral, também existem rituais místicos de iniciação – batizado, casamento, festas religiosas e outros – que também tem essa finalidade, nem sempre tão explícita.

Em um ritual de iniciação, os detalhes não são o mais relevante – alguns deles podem ser realmente inspiradores, mas nenhum deles é essencial.  O mais importante é que o iniciando se mantenha em um estado receptivo – normalmente, ele se mantém alerta e mobilizado pela expectativa de “algo importante” que irá ocorrer – e esteja acompanhado de pessoas que já tenham passado por aquela experiência, e que possam “conduzir” de forma apropriada as energias sutis para o contato com o iniciando.  Essas pessoas iniciadas, em geral, se harmonizam com essas energias, por meio de meditação, além dos gestos e palavras ritualísticas, e então, pela própria dinâmica do ritual, o iniciando é posto em contato com essas energias sutis.

Algumas iniciações contêm verdadeiros dramas, às vezes trágicos ou assustadores, para mobilizar as emoções do iniciando.  Outras são mais calmas, em uma perspectiva mais racional, com maior conteúdo filosófico.  Ambos os tipos têm seu valor, e cabe ao iniciando escolher a organização com a qual ele mais se identifica.

Devemos agora distinguir duas fases distintas da iniciação, a externa (ou exotérica) e a interna (ou esotérica).  A fase externa consiste no ritual em si, em que o iniciando é posto em contato com as energias sutis.  Nem sempre ele tem a devida consciência do que se passa naquele momento – em especial nas iniciações mais emotivas, em que ele se encontra mobilizado, em um estado alterado de consciência.

Mas o fato é que, se o iniciando se manteve em atitude receptiva, com a consciência de que aquele momento é muito importante em sua vida e a confiança de que as energias sutis estavam lá e efetivamente entraram em contato com ele, nesse caso algo significativo certamente ocorreu com ele, mesmo que ele não tenha nenhuma lembrança ou consciência do ocorrido.

Depois do ritual em si, vem a fase interna da iniciação, e essa é a mais relevante, em termos místicos – podendo durar dias ou até semanas.  Ocorre que, após o ritual, a mente do iniciando vai se adaptando aos poucos a esse novo “nível energético” com o qual esteve em contato, e então ele vai tendo mais consciência do significado daquela experiência.  Na realidade, a fase interna consiste na tomada de consciência das energias sutis que já estão presentes no subconsciente do iniciando.

Meditações ajudam bastante nessa fase, pois, nos estados meditativos, fica mais fácil se harmonizar com essas energias sutis e tomar consciência, suavemente, do que seja necessário para avançar na caminhada mística, rumo à Reintegração Divina.  Mas essas conscientizações podem ocorrer em outros momentos, podendo ser insights e intuições diversas “repentinas”, ou mesmo sonhos reveladores.  O iniciando deve continuar receptivo aos sinais por um tempo após o ritual, pois eles podem ser muito importantes.

Outro ponto relevante é que essa fase “interna” da iniciação nem sempre é tranquila e suave.  Pode haver momentos de verdadeira catarse mística, em que a pessoa tem, de forma espontânea, contatos intensos com energias sutis, em momentos diversos – pode ser durante um contato com a natureza, um culto religioso, uma meditação privada, ao acordar de madrugada, ou mesmo em algum ambiente público – desde que a pessoa esteja devidamente concentrada. 

Existem inúmeros relatos de pessoas místicas que tiveram experiências incríveis e marcantes em locais improváveis.  A própria história de vida dos grandes líderes religiosos é cheia desses relatos, e mostra a riqueza de vivências que é propiciada pela iniciação.  O fato é que a iniciação, em todas as suas fases, é sempre marcante, pois tem por objetivo mudar o nível energético da pessoa, deixando-a mais próxima de Deus.

Assim, podemos dizer que a meditação é um momento muito importante na caminhada mística, e que ela não consiste somente em um ritual, por mais marcante que ele seja, mas compreende também todo o processo de harmonização posterior de nossa mente, nossa consciência objetiva, com o novo nível energético que conseguimos atingir.  A partir desse processo é que “caem as fichas” e percebemos realmente as mudanças que estão ocorrendo em nossa vida.  Na realidade, a iniciação pode ser um processo bem longo e duradouro na caminhada mística, sendo a ferramenta mais poderosa à disposição de alguém que esteja em busca da Harmonização com Deus.

Devo dizer agora que, embora muito recomendada e realmente poderosa, a iniciação não é indispensável ao caminho místico.  Conforme a visão mística, a Reintegração Divina é o nosso destino final, independentemente do caminho que adotemos.  Podemos chegar lá sem passarmos por nenhuma iniciação, somente orando e meditando, ou mesmo repetindo infinitamente um mantra bem simples, mas esses métodos em geral são muito mais demorados que a via iniciática.  Sendo assim, pode-se dizer que a iniciação é como que um “atalho místico” para a Reintegração Divina.  Mas um atalho que exige muito disciplina e aplicação do iniciando, durante a fase “interna” da iniciação, é bom que se diga.

Depois de todas essas digressões, podemos definir o que é o caminho iniciático.  Na realidade, este caminho é o conjunto de vivências de um místico sincero, que zelosamente se esforça para buscar a harmonização com Deus, utilizando, dentre as ferramentas básicas para isso, a iniciação.  Normalmente o místico percorre esse caminho dentro de uma ordem iniciática, ou seja, uma organização mística que promove estudos, reuniões e rituais de iniciação.

Esse caminho é verdadeiramente mágico, no sentido mais fascinante dessa palavra.  Pois, quando acreditamos que somos muito especiais, que temos uma conexão íntima com Deus, que no futuro certamente seremos totalmente unos com Deus em consciência, e que já estamos na direção certa, é de se esperar que a vida ganhe um brilho todo especial – na realidade, a vida, sob esse ponto de vista, é uma viagem para o paraíso, com alguns contratempos aqui e ali, mas com a certeza de chegarmos ao destino.  Para o místico consciente e sincero, a vida pode mesmo ser extremamente feliz.

E assim o místico vai caminhando, vai avançando, tropeçando às vezes, se emocionando, se envolvendo, agindo com integridade, fazendo o que é bom pelo amor ao bem, e percebendo o grande milagre da criação, que vai se revelando aos poucos, e mostrando a ele a grandiosidade da vida humana, e maravilha da natureza e os “segredos” do universo – e botei “segredos” entre aspas, pois eles estão perfeitamente acessíveis a qualquer um que se esforce para obtê-los, desde que esteja harmonizado com o Amor Divino.

O místico consciente sempre pode parar um pouco na beira do caminho e refletir sobre as maravilhas da existência, percebendo como o universo dá a ele todo o suporte, as oportunidades, os conhecimentos, as orientações, os sinais que ele precisa em sua caminhada.  Aos poucos, o místico vai percebendo que existe uma imensa rede de energias que tudo harmoniza  - identificadas com o Amor Divino - e ele vai se harmonizando com essa “rede mágica” que tudo envolve, e que é uma das manifestações de Deus.

E então, ao longo de suas iniciações, ele vai experimentando diversos sentimentos positivos, por exemplo, a Alegria, ou mesmo a Gratidão, que é um dos mais sublimes sentimentos que alguém pode ter.  Daí ele passa a ver o mundo com mais alegria, e a ser grato a tudo o que ocorre a ele, independentemente de seu resultado aparente – um contratempo aparente pode ser a chave para a superação de algum obstáculo adiante.  E então, seguindo em outras iniciações, ele experimenta o Amor, a aceitação total de tudo e todos, aquele Amor incondicional a tudo, a todos, a Deus – ele pode experimentar então uma energia muito similar à do Amor Divino, e se harmonizar com ela, essa é a experiência mística mais nobre, como que uma “grande iniciação”. 

Isso que eu descrevi vai ocorrendo aos poucos, em etapas, em um caminho meio circular – mais precisamente em “hélice”, em que cada volta ao ponto inicial representa um pequeno avanço.  E assim, em uma sequência de passos mágicos (as iniciações), sustentado pelas ferramentas básicas do caminho (orações e meditações), nesse caminho mágico, o místico vai se aproximando da Iluminação e da Reintegração Divina.

Ocorre que, ao mesmo tempo que esse caminho é mais “rápido” que os outros – embora, em muitos casos, ele possa também não caber em uma única vida em nosso plano material – esta é a via mais atribulada, ou seja, a que apresenta mais desafios para o místico que a esteja trilhando.  Em suma, o caminho iniciático é uma opção mais “turbulenta”, e vale a pena falar um pouco sobre algo que ocorre com muita frequência nesse caminho: as provas místicas.

As provas místicas consistem em dificuldades diversas no caminho místico, em que o buscador enfrenta contratempos em excesso, parece às vezes que tudo de errado ocorre com ele só porque ele escolheu aquele caminho.  Em certos momentos, parece que o universo está conspirando contra o buscador, mas na realidade o universo esta testando a foça de vontade do místico.

E por que ocorrem esses testes?  Não seria mais lógico que, uma vez que a pessoa se conscientizou do caminho mais harmonioso a seguir, que percebeu que todos estamos aqui para obtermos a Reintegração Divina, que concentrou suas energias para atingir essa meta tão sublime, que neste momento o universo fosse inteiramente favorável aos seus objetivos, visto que são os melhores possíveis?

Naturalmente isso ocorreria se o buscador tivesse plena convicção do caminho que esteja seguindo.  Só que, na vida real, quem tem certeza absoluta, confiança inabalável em algo?  Pelo contrário, o místico, em geral, é uma pessoa bem crítica, que não aceita verdades prontas, e busca sempre refletir um pouco mais, questionar princípios e ajustar crenças.  Enquanto ele não está plenamente harmonizado com Deus, enquanto não se reintegrou, permanecem muitas dúvidas e dilemas. 

No decorrer do caminho, em função das intuições e revelações recebidas, o buscador muitas vezes deve abrir mão de confortos, atitudes e pensamentos arraigados, com os quais ele já está acostumado – em muitos casos, ele sempre viveu daquela maneira e não está disposto a abandonar seus antigos hábitos e preconceitos de forma tão fácil assim, sem “resistir”. 

Assim, quem coloca o místico em teste, em última análise, é ele mesmo, quando, internamente, se recusa a aceitar os insights e intuições que lhe sobrevêm ao ter contato com energias mais sutis e poderosas.  Deve-se perceber que esses hábitos e preconceitos são os principais obstáculos do caminho, o que nos faz concluir que o grande inimigo do buscador é ele mesmo – e o grande amigo do místico também é ele mesmo.  O universo, as pessoas e situações a sua volta, são somente um reflexo do que o buscador escolhe ser a cada momento – como se o mundo fosse um gigantesco espelho, apontando ao místico o que está ótimo e o que precisa melhorar.

Em uma série anterior de posts – os “Obstáculos” – detalho os pensamentos e emoções mais prejudiciais à Harmonização com Deus, mostrando o que está por trás dessas verdadeiras ilusões que atrasam nossa caminhada – incluindo a ilusão maior, que é a da separação entre eu e Deus, refletida no egoísmo.

Concluindo, devo dizer que o caminho iniciático às vezes tem turbulências muito relevantes, devendo-se segui-lo com um certo cuidado.  O caminho iniciático, para ser bem trilhado, exige uma preparação e uma ordem determinada, para evitar precipitações, para evitar que o místico tenha acesso a energias muito sutis e poderosas, que possam se chocar violentamente contra alguma ideia dissonante mais arraigada, podendo causar vários prejuízos à saúde do místico – saúde física, mental e emocional.  De qualquer forma, qualquer que seja o prejuízo, sempre é algo que possa ser contornado, desde que o místico prossiga no caminho, usando as ferramentas básicas da oração e meditação – o tempo é um ótimo remédio para esses casos de desequilíbrios por contatos com energias muito sutis.

Deve-se ressaltar que a iniciação é como que um “salto” no caminho místico, que, como todo salto, provoca algum desequilíbrio momentâneo.  Sendo assim, deve-se dosar as energias que estarão em contato com o iniciando, para que esse desequilíbrio possa ser administrado de forma equilibrada pelo próprio místico.

Por isso, é sempre aconselhável que a fase “externa” da iniciação ocorra no interior de uma ordem iniciática, com pessoas mais experientes conduzindo o ritual, de forma a permitir um contato harmonioso com essas energias.

Existem diversas ordens iniciáticas espalhadas pelo mundo, e muitas atuantes no Brasil. Basta fazer uma pesquisa na internet para se deparar com dezenas de sites.  Se você estiver interessado no assunto, pesquise esses sites, leia o material ali exposto – há muitas coisas interessantes – e, se possível, converse com alguém que faça parte dessa organização antes de se filiar a ela. 

Quem sabe pode ser o início de uma caminhada muito interessante, que pode ser de vários tipos e modalidades, com vivências diferenciadas – posso afirmar que não será tediosa.  Afinal, o caminho místico é uma fascinante viagem ao terreno mais inexplorado do mundo, ao maior mistério de sua vida – você mesmo, sua mente, sua consciência, sua essência.  Seja um buscador!  Eu digo por experiência própria – vale a pena!

Saudações fraternas.

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