quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Princípio da Dualidade


Saudações a todos.

Vamos agora tratar de um assunto muito importante na visão mística, e que é decorrência direta da Unidade Cósmica e da Criação do Mundo, que é o Princípio da Dualidade.

Esclarecendo melhor a relação entre esses assuntos, pode-se pensar que, no início, existia somente Deus, o Criador, em perfeita Unidade Cósmica, e, após a criação do mundo, foram criados diversos níveis e planos energéticos, de diferentes frequências, em que o mais elevado remete à Unidade Cósmica (sendo a essência de nosso universo), mas que, de forma geral, não apresenta mais unidade em suas manifestações, que são múltiplas – como se pode facilmente perceber.  E um dos princípios básicos que rege o universo manifestado, o universo sensível, é o da dualidade.

Em que consiste essa dualidade?  Em primeiro lugar, é o reconhecimento da multiplicidade de manifestações em nosso mundo, já que dois é o primeiro número plural que existe, o mais simples, e neste aspecto representa os demais.  Além disso, indica uma regra que é geral a todas as manifestações, que é o princípio da oposição ou da alternância (dependendo do ponto de vista).  Finalmente, nos indica um caminho para que possamos seguir, rumo à evolução que nos levará de volta a Deus – esse é o aspecto mais prático desse princípio.

Vamos desenvolver melhor cada um desses aspectos.  Iniciando com a questão da multiplicidade, ela é bem óbvia aos nossos sentidos.  Podemos afirmar que não existem duas coisas exatamente iguais, tudo se diferencia de alguma forma.  A questão mais complexa está em conciliar essa ideia de multiplicidade com a da Unidade Cósmica.  Porém, este ponto já foi desenvolvido quando tratamos da Unidade Cósmica, em um post anterior.

Vale acrescentar que, conforme visto no post da Criação do Mundo, a multiplicidade decorre dos diversos planos energéticos, de diferentes frequências, que foram sendo criados para compor a criação – esses diversos planos admitem complexidade e diversidade crescentes, culminando na matéria densa, que se compõe de inúmeras substâncias diferentes, combinadas em formas praticamente infinitas.

Quanto ao princípio básico da oposição (ou da alternância), ele é muito bem representado pelo símbolo do yin e do yang, que são em si uma forma muito popular de conceber a dualidade, nesse aspecto.  Ao se olhar o símbolo, pode-se perceber que o claro e o escuro se harmonizam, se relacionam de forma dinâmica, a ponto de, na área mais branca, surgir um ponto negro, e vice-versa.  Isso dá uma indicação que os opostos são fundamentais em seu conjunto, devendo ser percebidos de forma equilibrada.

Essa oposição pode ser observada em nosso dia a dia, como por exemplo: dia/noite, frio/quente, grande/pequeno, dentro/fora, forte/fraco, etc.  Inúmeros são os exemplos que podem ser citados.  Esses polos opostos tem imensa utilidade para compreendermos o mundo à nossa volta, pois servem como referência básica para qualificarmos o que percebemos, de forma relativa.  Quero dizer com isso que o forte só existe porque há o fraco, o alto só existe porque há o baixo e assim por diante – tudo é relativo no universo sensível.

Aprofundando um pouco esse raciocínio, podemos dizer que, na realidade, tudo é composto a partir de atributos extremos, situando-se em um meio termo, que pode ser referenciado de forma relativa, o que nos dá a percepção da diferença.  Por exemplo, nada é absolutamente quente nem absolutamente frio, mas tem um pouco de frio e um pouco de quente em si, e quando comparamos as coisas percebemos que algumas são mais quentes que outras (ou menos frias).  Daí podemos estabelecer as diferenças entre quaisquer coisas em nosso universo sensível.

Naturalmente, os atributos são praticamente infinitos e se combinam em uma infinidade de condições, de forma que considerar pares de polos opostos é uma certa simplificação, que facilita imensamente nossa compreensão – é muito mais fácil analisar se o objeto é grande ou pequeno, leve ou pesado, frio ou quente, liso ou áspero, um par de cada vez, do que analisar se é uma bola de futebol, ou um candelabro de prata, ou uma camisa polo, ou um taco de golfe, ou uma cadeira de balanço, etc., etc.

E o que vale para objetos vale também para coisas imateriais, tais como emoções, pensamentos e comportamentos humanos.  Todos podem ser qualificados em função de pares de atributos, como por exemplo: triste/alegre, feio/bonito, egoísta/altruísta, calmo/nervoso, pacífico/violento, medroso/corajoso, amoroso/odioso etc.  Assim como ocorre com as coisas materiais, esses pares de atributos representam somente polos ideais de nossa conduta, de nossa personalidade, sendo que na realidade temos um pouco de cada polo, combinado de forma diferente, havendo somente diferenças relativas entre nós.

Enfatizando a ideia anterior, podemos afirmar que ninguém é totalmente triste ou alegre, nem totalmente egoísta ou altruísta, havendo um pouco de cada polo de referência em cada um de nós em proporções diferentes, o que nos diferencia, e assim somos mais ou menos egoístas, ou mais ou menos alegres.  Essa diferença é sempre relativa, o que significa que temos que nos comparar aos outros para nos identificarmos adequadamente.   



O princípio da oposição enfoca esses polos de referência citados em sua dimensão estática, ou seja, como pares opostos, e postula que tudo no mundo, inclusive nossa personalidade manifesta, é uma combinação desses polos opostos, que são inúmeros.  Além disso, é graças aos polos que temos condição de identificar e diferenciar as diversas coisas e pessoas do mundo, inclusive nós mesmos – daí vem uma ideia fundamental do princípio da dualidade: o conhecimento desses polos, e da diversidade relativa dos atributos, é um ponto de partida para o autoconhecimento.

Devemos lembrar aqui o que a psicologia afirma, que é a partir da socialização que podemos desenvolver nossa personalidade, nossa individualidade, ou seja, necessitamos dos outros para nos servir de referência, ou de “espelhos”, para podermos nos perceber.

Já o princípio da alternância dá um enfoque dinâmico aos polos de referência, estabelecendo que, ao longo do tempo, tudo se alterna entre esses polos, ora pendendo mais para um lado, ora para o outro, em movimentos cíclicos.  Este princípio é bastante óbvio nos eventos da natureza – alternâncias dia/noite, sol/chuva, quente/frio e diversos outros ciclos naturais.  Mas ele pode ser estendido também a coisas imateriais, e pode ser observado em nossas frequentes alterações de humor, em estados de atividade/descanso, harmonia/desarmonia, guerra/paz, em ciclos que vão se alternando de forma natural.

E aí entra a visão mística, de considerar, pelo princípio da analogia, que os ciclos naturais têm algum tipo de correspondência com os estados de ânimo dos seres humanos, com oportunidades melhores ou piores para realizar determinadas coisas, ou seja, que a natureza tem ciclos “imateriais”, não perceptíveis de forma sensível, que facilitam ou dificultam certas atitudes ou estados de ânimo.  Essa ideia é um dos fundamentos da astrologia, estando presente também no conceito de biorritmo, estudado pela ciência.

Mas aprofundando um pouco essa ideia, pode-se dizer que os polos de referência, além de servirem de base para um processo fundamental de autoidentificação, também nos indicam os processos dinâmicos mais relevantes em nossa vida, que, devidamente conduzidos, nos levam à evolução, à felicidade.  Na realidade, os polos funcionam como referências, indicações de para onde devermos ir a cada momento, para podermos evoluir em consciência e “aumentar” nossa frequência pessoal, de forma a estarmos cada vez mais evoluídos e próximos de Deus.

Não custa relembrar que o conceito de dois polos de referência é uma simplificação, já que existem múltiplos aspectos que influenciam nossa vida a cada momento, mas é uma ferramenta muito poderosa para nos auxiliar nesse processo, uma vez que permite uma simplificação muito importante em termos práticos.  Seguindo esse modelo de polos de referência, podemos focar, em cada época, alguns poucos aspectos, e buscar orientação a partir dos polos de referência eleitos para aquele momento.

Na realidade, nossa vida tem a duração necessária para que possamos ter vários ciclos de evolução, focando alternadamente os aspectos mais relevantes em cada época, buscando um aperfeiçoamento constante, em várias direções, alternadamente.  Essa pode ser chamada de “dinâmica saudável” da vida.  Caso você se fixe em um ou dois aspectos e ali foque sua atenção por anos a fio, poderá obter resultados maravilhosos, mas naturalmente vai deixar de lado outros aspectos muito importantes, o que provavelmente irá causar desequilíbrios diversos em sua vida, afastando-o da felicidade, que é sempre o estado desejável.

E então surge uma questão fundamental: quais são os principais focos que devemos eleger?  Quais os polos de referência que devem nos servir de guias nessa caminhada da evolução?  A melhor resposta sempre virá de nossa própria intuição, e sendo assim é necessário exercitá-la, buscando ouvi-la sempre que possível, e buscando um estado de harmonização interior, que nos propicie o acesso a essa nossa “voz interior”. 

As melhores ferramentas para isso são a oração e a meditação, que são as principais ferramentas no dia a dia de um místico, de uma pessoa que segue a visão mística.  Naturalmente, existem inúmeras formas de oração e meditação, conforme a vertente mística seguida, todas válidas a seu modo.  Escolha as que melhor se identificarem com o seu jeito de ser.  O importante é que elas sirvam para melhorar a harmonia interior e nos dar acesso à nossa intuição, que vem a ser uma das principais fontes de conhecimento que podemos ter.

Devo acrescentar, porém, que existem algumas questões comuns a todas as pessoas, escolhas básicas que sempre temos que fazer em nossas vidas, e elas têm a ver com as principais dimensões de nossa personalidade, de nossa subjetividade, que são: a percepção, a emoção, a razão e a intuição.  As interações entre esses níveis interiores de nosso ser fazem surgir diversos polos de referência, mas esse assunto, extenso e importante em si, será melhor detalhado em um post futuro.

Espero que esse texto ajude em sua reflexão a respeito dos processos que influenciam nossa vida a todo momento.  A vida humana envolve um sistema dinâmico muito complexo, porém ele pode ser percebido intuitivamente de forma bem simples, para que possamos atuar e evoluir em harmonia conosco e com Deus, sob a Lei do Amor.   

Saudações fraternas.

3 comentários:

  1. O Princípio da Dualidade, uma farsa milenar!

    Verdade não existe, a busca pela verdade é como a busca pela essência de uma condição, é entender a ideia total e observar se a condição é satisfatória ou não.
    “Eu sou mortal”, Essa afirmação é correta?
    Essa é uma autoafirmação que só tem sentido e só assume caráter de verdade se uma mentira vier contrapor a ideia por traz da essência que se busca mostrar com essa afirmação. As verdades não existem por si mesmas, para existirem, devem obedecer a um princípio básico de coexistência, ou o Marco Fundamental para a Ideia de Verdade. Isso fica claro quando observamos a construção a seguir:
    “Todo homem é mortal”. “João é homem, logo, João é mortal”.
    Para aceitarmos como verdade a ideia de que João é mortal, foi necessário atribuir um Marco Fundamental para a Ideia de Verdade. Ou seja, foi preciso “impor” uma verdade, Todo homem é mortal, para outra, João é mortal, fosse tomada como tal.
    A lógica da coisa é relativamente simples, consiste impor ou tomar como verdade uma ideia geradora para que outra assuma caráter de verdade, isso fica evidente nas construções lógicas. O que é verdade e o que é mentira só passa a ter sentido complementar depois de tomarmos como base uma premissa maior, o Marco Fundamental para a Ideia de Verdade, ou seja, sem a afirmativa maior não temos nem verdade e nem a mentira e não temos base para compreendermos a totalidade da ideia primitiva e sendo este último um fato, não reunimos condições suficientes para inferir o que satisfaz ou não uma condição qualquer.
    Quando impomos algo como verdade e damos para esse algo a condição de existir imutavelmente, estamos dizendo que tudo que aconteça fora dele é sua própria negação, ou seja, estamos dando origem às mentiras a cerca desta verdade imposta. Logo, temos que a verdade muda de acordo com a argumentação inicial e sua negação muda na mesma proporção, isso indica que a verdade e a mentira não são ideias imutáveis, mas condições que variam sendo sempre uma a contra argumentação da outra.
    Como exemplo, podemos citar os axiomas, que são verdades aceitas sem demonstrações e usadas como pontes de entrada para a inferência de outras verdades. Podemos ainda paralelizar dizendo que a mentira é a função inversa da verdade. Podemos ainda relacionar ambas como tendo mesma direção e sentido contrário, ou seja, estão mutuamente ligadas pelo Marco Fundamental para a Ideia de Verdade, sendo este uma condição construída e atribuída pelo homem.
    O que é verdade e o que é mentira vai depender do referencial maior, pois aquilo que atribuímos com verdade vai designar automaticamente o que são suas mentiras e aquilo que atribuímos com mentira designar automaticamente o que são suas verdades.
    A presença e a ausência são coisas para o equilíbrio do universo há concordância, mas não justificam a casualidade de dizer que "é preciso o mal para que o bem exista, e vice-versa". O conceito de mal é algo que pode ser mudado. Além disso, não se justifica um ato de maldade com um outro de maldade disfarçado de "ordem".
    O ser humano precisa se livrar da crença na dualidade e de achar necessário que haja guerra para se obter paz, ou policiais para se obter ordem, pois essas mesmas pessoas acham que é necessário haver crime para continuarem tendo policiais, ou doenças para que sejam produzidos e comercializados remédios, ou até morte para a paz.
    Essa é a doença maior. "Albert Pike, Ordo Ab Chao", isso é algo que não deveríamos seguir, pois no universo antes de vir o 2 havia o 1. A negação ou oposição, existe apenas como base para nosso aprendizado em seguir um lado o decidir qual caminho percorrer. "Amai o teu próximo como a ti mesmo". Não julgue, pois a verdade para você pode não ser verdade para seu opositor. Portanto, ame-o!

    ResponderExcluir
  2. Prezado, agradeço imensamente seu comentário, que traz uma questão muito relevante a respeito da ideia de dualidade - é necessário a guerra para termos paz?
    Ao reler atentamente meu post, percebi que não tratei de forma adequada esse aspecto, e citei de forma rápida algumas alternâncias observadas no mundo, sendo uma delas a "guerra/paz".
    Quero esclarecer inicialmente que, ao discorrer sobre a dualidade neste texto somente fiz constatações de eventos que percebemos no dia a dia, sem juizo de valor, e partir de um ponto de vista místico,analógico e generalizante, baseado em um axioma intuitivo de que "todos os eventos podem ter como referência 2 polos opostos ". Dai parte toda a minha argumentação.
    Não sustento que o que coloco no texto é a Verdade absoluta, nem tenho a pretensão de alcança-la, somente convido o leitor a refletir sobre o que podemos observar em nossa vida a partir de uma visão mística. Se o leitor aceita os axiomas básicos desta visão, tenderá a concordar com diversas conclusões, caso contrário, OK. Se ele parou para refletir, já é válido.
    Sobre a questão colocada, acho que isso merece um futuro post, pois trata-se de um tema bem interessante, que envolve juizos de valor. O bem é consequência do mal? A ordem provém do caos? Tendo a responder que não, e acredito que meu texto não defenda tais ideias, mas pensarei melhor antes de enfrentar esse tema.

    ResponderExcluir