Saudações a todos.
Dando continuidade aos textos sobre os
obstáculos ao caminho da Reintegração Divina que encontramos no dia a dia,
vamos agora tratar de dois temas muito ligados entre si: o princípio da
escassez e o medo, que é uma decorrência natural do princípio citado.
Inicialmente, devemos lembrar o princípio
da unidade, que diz que todos somos unos com Deus, em essência. Isso significa, dentre outras coisas, que
somos plenos como Deus, e não incompletos, ou seja, nada essencial nos falta,
em nenhum momento, para que possamos realizar o caminho da Reintegração Divina. Isso significa que todos nós, o tempo
inteiro, temos todas as condições necessárias e suficientes parta sermos felizes.
Detalhando melhor, podemos dizer que todos
temos as condições materiais mais adequadas para nossa evolução espiritual, a
cada momento, ou seja, moramos no local mais apropriado, temos a renda material
mais acertada, temos os parentes e vizinhos que melhor podem nos auxiliar na
caminhada, temos o trabalho que mais nos auxilia a progredir, os amigos mais
adequados, etc. O que não significa que
teremos uma vida sempre tranquila e harmoniosa - os contratempos são parte
integrante da caminhada, e muitas vezes são o melhor que pode nos acontecer
naquele momento.
Sendo assim, a atitude mais sábia é sempre
a gratidão, agradecendo por todas as nossas conquistas, condições e
circunstâncias da vida, e ter consciência de que tudo faz parte de um caminho
dinâmico, que limites existem para serem superados, e que temos plena
capacidade de lidar de forma construtiva com quaisquer desafios que se nos
apresentem.
Isso pode parecer um tremendo contrassenso,
algo totalmente fantasioso, mas é a mais pura e profunda verdade. No fundo, no fundo, não precisamos de
nada! Tudo está á nossa disposição, o
tempo inteiro, na hora que quisermos, para sermos felizes. E o que falta então para sermos felizes? Simplesmente termos consciência disso.
E “consciência” aqui significa consciência
em todos os planos, ou seja, nossos pensamentos, vontades e ações devem estar
plenamente harmonizados com essa verdade.
Devemos, pensar, sentir, querer e agir como seres plenos e capazes que
somos, assumindo nossa felicidade aqui e agora, sem esperar nada, nenhuma
condição, pois nada nos falta!
Uma conclusão meio óbvia do que está aí em
cima é que, quando realmente tivermos essa consciência plena e total de nossa
completude, nessa hora teremos realizado a Reintegração Divina, relativamente
ao nosso universo sensível, ou seja, alcançamos o que é comumente chamado de
Iluminação, um estado de plenitude e felicidade dinâmico e perene, em que
sabemos o tempo inteiro que somos unos com Deus e vivenciamos isso no dia a
dia; É difícil alcançar um estado
desses, mas não é impossível, há vários exemplos ao longo da história da
humanidade. E o mais incrível é que nada
essencial nos falta para chegarmos lá!
Mas para todos nós que não alcançamos esse
estado ainda – não acredito que um iluminado vai precisar ler um texto desses –
a realidade é bem diversa. Temos em nós
uma crença, firmemente amparada em nossas observações, sentimentos e
pensamentos, de que estamos separados de Deus, e que, por isso, algo nos falta
para “chegarmos” a Ele. Seríamos então
seres incompletos, com necessidades constantes e diversificadas.
Conforme essa “ilusão primordial”, temos
necessidades essenciais, e para que sejamos satisfeitos precisamos de algo
externo a nós, a ser conquistado com mérito e sacrifícios. Uma consequência dessa ilusão é a ideia da
escassez, que diz que os recursos essenciais são escassos, de forma que a
satisfação de alguns pode resultar na insatisfação de outros – o que leva as
pessoas a entrar em conflito pela disputa desses bens essenciais escassos.
Mas o fato é que somente há escassez para
energias mais densas, materiais.
Naturalmente, nesse plano material todos nós temos necessidades básicas
que tem que ser atendidas a contento para que possamos sobreviver: alimentação,
água, oxigênio, abrigo, e outras. Mas o
que é realmente essencial não tem limitação nem escassez, e é o que nos leva
efetivamente à felicidade: amor, amizade, harmonia, equilíbrio.
Mas um fato muito importante é que, se
estivermos harmonizados com essas energias essenciais, não teremos escassez das
energias mais densas, pois as energias mais sutis governam as mais densas,
tendo poder criativo sobre elas.
Isso porque a Lei do Amor postula que há
uma energia poderosa (a mais poderosa no longo prazo) que é essencialmente
construtiva, e que tem por finalidade refletir no mundo material os atributos
divinos – a harmonia, o amor, a saúde, a prosperidade, dentre outros atributos
positivos.
Tudo se passa como se houvesse uma “energia
de fundo”, eminentemente construtiva, que está sempre atuando e organizando o
mundo material – essa é uma maneira de conceber o Amor Divino. Mas essa energia é totalmente compassiva, ou
seja, ela sempre se submete ao livre arbítrio e a outras energias mais ativas -
embora no longo prazo ela certamente vá prevalecer.
Isso significa que toda escassez é
aparente, e não essencial. Em nossa
essência, tudo é ilimitado. E a essência
tende a se refletir na matéria, mais cedo ou mais tarde. Nós, por meio de nosso livre arbítrio,
podemos criar nossa prosperidade, em qualquer circunstância. Mas nós muitas vezes "atrasamos" esse
processo, pelo uso não harmonizado de nosso livre-arbítrio.
Um bom exemplo que ilustra esse processo é a
nossa saúde. Quantos de nós adotam um
estilo de vida danoso à nossa saúde, com hábitos alimentares ruins,
sedentarismo, ingestão de drogas de diversos tipos, estresse constante? Naturalmente, sofremos com isso. Porém, existe um momento de nossas vidas em
que o Amor Divino atua livremente, sem ser “bloqueado” pelas nossas vontades: o
sono. Nesse momento, há uma regeneração
natural de nossos tecidos, músculos e cérebro.
Nosso corpo e mente se recuperam, e isso ocorre porque nesse momento
nossa consciência objetiva está “desligada” e não se opõe ao Amor Divino. Esse é o principal motivo para que o sono
seja revigorante, sendo um fator essencial à nossa saúde.
Assim também ocorre com a prosperidade - e
com todos os fatores importantes para nossa felicidade. Tudo funciona como se o universo conspirasse
o tempo inteiro a nosso favor, para que tenhamos tudo o que necessitamos para
sermos felizes. Só que nós fazemos
nossas escolhas, muitas vezes ilusórias, muitas vezes sendo manipulados por
diversas energias estranhas a nossa essência – por exemplo, o consumismo
desenfreado veiculado nos meios de comunicação – e daí começamos a pensar que,
para sermos felizes, precisamos ter uma casa enorme, um carro gigante, viajar o
mundo inteiro, ter amigos ricos e poderosos, ser famoso, ter um corpo dentro
dos rígidos padrões de beleza atuais, etc.
E, não conseguindo algum desses objetivos, naturalmente nos frustramos e
achamos que o universo está contra nós, que Deus nos abandonou, essas coisas –
tudo ilusão.
Mas afinal, o que precisamos para sermos
felizes? Em termos materiais, se pensarmos
de forma isenta, muito pouco: casa, comida, bebida, conforto mínimo, o que mais
realmente é necessário? Os principais
fatores de nossa felicidade não são materiais: amigos, família estruturada,
realização profissional, segurança, desafios, etc. Nada disso precisa de muitos recursos
materiais, a princípio, basta a confiança de que Deus está conosco, é uno
conosco e proverá sempre tudo o que precisamos – e daí tudo vem em consequência,
pode acreditar.
Em suma, o que precisamos para sermos
prósperos e felizes é simplesmente parar de se iludir, e não "atrapalhar"
o universo – se nos harmonizarmos com tudo a nossa volta, naturalmente seremos
ajudados, e conquistaremos, com esforço e mérito, tudo o que precisamos para
sermos felizes. Vale lembrar que o
esforço é parte integrante da felicidade, é o esforço que qualifica – tudo tem
um gosto melhor quando é consequência natural de um esforço disciplinado e
harmonizado, e isso ocorre porque a conquista com esforço está harmonizada com
a Lei da Causa e Efeito, uma das leis fundamentais do universo.
Essa lição - de que a prosperidade está ao
seu alcance aqui e agora, que basta uma mudança de atitude, de visão, de
consciência para alcançá-la - está presente, de forma geral, na literatura de
auto ajuda, que tanto sucesso faz hoje em dia.
A maioria desses livros, dentre outras questões, detalha esse princípio
da prosperidade, aplicando-o a um ou mais aspectos da vida, reforçando a ideia
de que tudo o que precisamos para sermos felizes está dentro de nós. Este princípio está plenamente em acordo com
a visão mística.
Depois dessas considerações sobre a
escassez, vamos falar do medo, uma das barreiras mais poderosas no caminho da
Reintegração. Isso porque o medo é
paralisante, ele nos impede de tentar, de ousar, e, em consequência, favorece a
acomodação, a estagnação, que é contrária à dinâmica natural do universo – não
custa lembrar que uma das características essenciais de nosso mundo físico é
sua dinâmica, em todos os níveis – desde o átomo até as galáxias, tudo se move
o tempo inteiro e tudo se transforma continuamente.
Naturalmente, o medo tem sua razão de ser,
sendo necessário em certas situações, como um sinalizador de perigo iminente,
como um moderador de atitudes que nos impede de correr riscos
desnecessários. Afinal, não faz sentido
místico algum se jogar do alto de um prédio porque "sou uno com Deus e ele
me amparará". Tal atitude somente
terá uma consequência: você cairá, sem dúvida, e terá sérios prejuízos físicos,
sem nenhuma motivação relevante. Para
evitar essas atitudes e inúmeras outras similares, existe um instinto de auto
preservação, um medo essencial, que é muito útil para nossa vida.
Não é desse medo ligado a eventos
fisicamente ameaçadores - o instinto de autopreservação - que eu falo, é do
medo mais profundo e angustiante, presente em nosso dia a dia, do medo que nos
impede de tentar algo diferente, de sermos espontâneos e, em última análise, de
sermos felizes.
E a origem principal desse medo
"profundo" está nessa percepção ilusória de separação da fonte
divina, e de consequente escassez. De
acordo com essa ilusão básica, necessitamos de coisas externas a nós e, sendo
assim, tememos não obter essas coisas, ou, caso as tenhamos obtido, temos medo
de perdê-las.
Em relação aos medos, vários psicólogos
consideram que eles têm origem no medo mais primitivo de nossa espécie – o medo
de morrer. Em termos místicos, podemos
afirmar que a vida é muito mais que nossa existência no mundo sensível – ela é
eterna e prossegue em outros planos mais sutis após nossa morte. Assim, a morte não retira de nós nada de
essencial – nossa essência, nossa alma, se mantém incólume, e continua a viver
de outra forma. Esse ponto será melhor
detalhado em um post futuro.
Assim, se considerarmos que nossa essência,
nossa dignidade essencial, não tem como ser alterada, reduzida, eliminada, é um
atributo de Deus, é una com Deus, e sempre será, não há porque ter medo – nada
nem ninguém pode nos prejudicar em essência, a não ser nós mesmos. O que pode ocorrer é que nós nos consideremos
prejudicados por pessoas ou eventos externos, por apego a uma visão ilusória de
nós mesmos e do que seja importante ou essencial para nós.
Falando agora dos principais medos que nos
afligem, muitos têm medo de morrer, mas, conforme a visão mística, nossa vida atual
no mundo físico não é parte de nossa essência, não sendo fundamental para nossa
caminhada na reintegração.
Deve-se ressaltar que, embora uma vida em
particular não seja essencial, a vida de todas as pessoas em conjunto, bem como
o “conjunto de vidas” de uma pessoa, é sim fundamental, afinal a humanidade
está nesse mundo para obter, em conjunto, a Reintegração Divina, e a vida nesse
plano físico é parte integrante dessa caminhada. Devo acrescentar que um dos grandes benefícios
da visão mística é possibilitar a eliminação desse medo essencial que aflige
muitos de nós.
Muitos têm medo de perder a reputação, mas,
como se pode facilmente concluir, ela não faz parte de nossa essência –
trata-se somente da opinião que os outros têm a nosso respeito, não sendo parte
integrante de nosso ser.
Naturalmente, é importante termos bom
relacionamento com as pessoas em geral, mas o fato é que a opinião de cada um a
seu respeito tem muito mais a ver com o emissor da opinião do que com você
mesmo. Temos então que aceitar o fato
natural de que não podemos agradar a todos, e buscar a harmonia com todos a
nossa volta, independentemente do que pensem ou digam a nosso respeito.
Muitos têm medo de perder o poder, mas o
fato é que o poder é sempre outorgado por outros, o poder, na realidade, não
pertence em essência a você, ele é dado a você por outras pessoas – elas
permitem, mediante condições, que você tenha alguma ascendência sobre o livre
arbítrio delas – mas o livre arbítrio é atributo divino, não pode ser
subjugado, a não ser que a pessoa permita mais ou menos conscientemente.
Pode-se dizer que qualquer pessoa só possui
o poder de forma temporária, desde que corresponda às expectativas de seus
comandados. Todo líder deveria ter
consciência disso, e de que o medo é algo danoso para um líder – em geral, a
maneira mais rápida de perder o poder é justamente se agarrar a ele por medo.
Muitos têm medo de perder seus bens
materiais ou suas condições de conforto material – ter que se mudar para um
lugar pior, ter refeições mais simples, deixar de viajar, etc. Esse medo é um dos mais fáceis de refutar,
afinal o conforto material, e em especial seu exagero, com bens supérfluos e
comodidades excessivas, não faz parte de nossa essência. Esse ponto já foi abordado ao falarmos da
escassez.
Mas o medo de perder as posses materiais
deu origem a toda a indústria da segurança patrimonial, com seus agentes,
alarmes, dispositivos, grades, etc. Quem
vive em cidades grandes no Brasil sabe muito bem o clima de medo e insegurança
que cerca muita gente, afetando às vezes seriamente seu estilo de vida – não
posso andar em certos lugares, não posso falar com estranhos, não posso dar
atenção aos outros, etc. Parece ás vezes que as pessoas de bem estão presas, e
os bandidos soltos por aí!
Mas na realidade todos esses medos têm
origem em nós mesmos, a partir de nossas ilusões, nossas concepções distorcidas
relativamente á nossa essência. No
fundo, está tudo dentro de nós, tudo de bom e de ruim. E cabe a nós deixar de lado esses medos,
desenvolvendo a consciência da Unidade Divina, se harmonizando com o Amor
Divino, e tendo a consciência de que tudo o que precisamos está dentro de nós,
e podemos criar um mundo de abundância e felicidade para nossa vida. Assim seja!
Saudações fraternas.
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