sábado, 23 de novembro de 2013

Obstáculos 2 - Medo e Escassez



Saudações a todos.

Dando continuidade aos textos sobre os obstáculos ao caminho da Reintegração Divina que encontramos no dia a dia, vamos agora tratar de dois temas muito ligados entre si: o princípio da escassez e o medo, que é uma decorrência natural do princípio citado.

Inicialmente, devemos lembrar o princípio da unidade, que diz que todos somos unos com Deus, em essência.  Isso significa, dentre outras coisas, que somos plenos como Deus, e não incompletos, ou seja, nada essencial nos falta, em nenhum momento, para que possamos realizar o caminho da Reintegração Divina.  Isso significa que todos nós, o tempo inteiro, temos todas as condições necessárias e suficientes parta sermos felizes.

Detalhando melhor, podemos dizer que todos temos as condições materiais mais adequadas para nossa evolução espiritual, a cada momento, ou seja, moramos no local mais apropriado, temos a renda material mais acertada, temos os parentes e vizinhos que melhor podem nos auxiliar na caminhada, temos o trabalho que mais nos auxilia a progredir, os amigos mais adequados, etc.  O que não significa que teremos uma vida sempre tranquila e harmoniosa - os contratempos são parte integrante da caminhada, e muitas vezes são o melhor que pode nos acontecer naquele momento.

Sendo assim, a atitude mais sábia é sempre a gratidão, agradecendo por todas as nossas conquistas, condições e circunstâncias da vida, e ter consciência de que tudo faz parte de um caminho dinâmico, que limites existem para serem superados, e que temos plena capacidade de lidar de forma construtiva com quaisquer desafios que se nos apresentem.

Isso pode parecer um tremendo contrassenso, algo totalmente fantasioso, mas é a mais pura e profunda verdade.  No fundo, no fundo, não precisamos de nada!  Tudo está á nossa disposição, o tempo inteiro, na hora que quisermos, para sermos felizes.  E o que falta então para sermos felizes?  Simplesmente termos consciência disso. 

E “consciência” aqui significa consciência em todos os planos, ou seja, nossos pensamentos, vontades e ações devem estar plenamente harmonizados com essa verdade.  Devemos, pensar, sentir, querer e agir como seres plenos e capazes que somos, assumindo nossa felicidade aqui e agora, sem esperar nada, nenhuma condição, pois nada nos falta!

Uma conclusão meio óbvia do que está aí em cima é que, quando realmente tivermos essa consciência plena e total de nossa completude, nessa hora teremos realizado a Reintegração Divina, relativamente ao nosso universo sensível, ou seja, alcançamos o que é comumente chamado de Iluminação, um estado de plenitude e felicidade dinâmico e perene, em que sabemos o tempo inteiro que somos unos com Deus e vivenciamos isso no dia a dia;  É difícil alcançar um estado desses, mas não é impossível, há vários exemplos ao longo da história da humanidade.  E o mais incrível é que nada essencial nos falta para chegarmos lá!

Mas para todos nós que não alcançamos esse estado ainda – não acredito que um iluminado vai precisar ler um texto desses – a realidade é bem diversa.  Temos em nós uma crença, firmemente amparada em nossas observações, sentimentos e pensamentos, de que estamos separados de Deus, e que, por isso, algo nos falta para “chegarmos” a Ele.  Seríamos então seres incompletos, com necessidades constantes e diversificadas.

Conforme essa “ilusão primordial”, temos necessidades essenciais, e para que sejamos satisfeitos precisamos de algo externo a nós, a ser conquistado com mérito e sacrifícios.  Uma consequência dessa ilusão é a ideia da escassez, que diz que os recursos essenciais são escassos, de forma que a satisfação de alguns pode resultar na insatisfação de outros – o que leva as pessoas a entrar em conflito pela disputa desses bens essenciais escassos.

Mas o fato é que somente há escassez para energias mais densas, materiais.  Naturalmente, nesse plano material todos nós temos necessidades básicas que tem que ser atendidas a contento para que possamos sobreviver: alimentação, água, oxigênio, abrigo, e outras.  Mas o que é realmente essencial não tem limitação nem escassez, e é o que nos leva efetivamente à felicidade: amor, amizade, harmonia, equilíbrio. 

Mas um fato muito importante é que, se estivermos harmonizados com essas energias essenciais, não teremos escassez das energias mais densas, pois as energias mais sutis governam as mais densas, tendo poder criativo sobre elas. 

Isso porque a Lei do Amor postula que há uma energia poderosa (a mais poderosa no longo prazo) que é essencialmente construtiva, e que tem por finalidade refletir no mundo material os atributos divinos – a harmonia, o amor, a saúde, a prosperidade, dentre outros atributos positivos.

Tudo se passa como se houvesse uma “energia de fundo”, eminentemente construtiva, que está sempre atuando e organizando o mundo material – essa é uma maneira de conceber o Amor Divino.  Mas essa energia é totalmente compassiva, ou seja, ela sempre se submete ao livre arbítrio e a outras energias mais ativas - embora no longo prazo ela certamente vá prevalecer.

Isso significa que toda escassez é aparente, e não essencial.  Em nossa essência, tudo é ilimitado.  E a essência tende a se refletir na matéria, mais cedo ou mais tarde.  Nós, por meio de nosso livre arbítrio, podemos criar nossa prosperidade, em qualquer circunstância.  Mas nós muitas vezes "atrasamos" esse processo, pelo uso não harmonizado de nosso livre-arbítrio.

Um bom exemplo que ilustra esse processo é a nossa saúde.  Quantos de nós adotam um estilo de vida danoso à nossa saúde, com hábitos alimentares ruins, sedentarismo, ingestão de drogas de diversos tipos, estresse constante?  Naturalmente, sofremos com isso.  Porém, existe um momento de nossas vidas em que o Amor Divino atua livremente, sem ser “bloqueado” pelas nossas vontades: o sono.  Nesse momento, há uma regeneração natural de nossos tecidos, músculos e cérebro.  Nosso corpo e mente se recuperam, e isso ocorre porque nesse momento nossa consciência objetiva está “desligada” e não se opõe ao Amor Divino.  Esse é o principal motivo para que o sono seja revigorante, sendo um fator essencial à nossa saúde.

Assim também ocorre com a prosperidade - e com todos os fatores importantes para nossa felicidade.  Tudo funciona como se o universo conspirasse o tempo inteiro a nosso favor, para que tenhamos tudo o que necessitamos para sermos felizes.  Só que nós fazemos nossas escolhas, muitas vezes ilusórias, muitas vezes sendo manipulados por diversas energias estranhas a nossa essência – por exemplo, o consumismo desenfreado veiculado nos meios de comunicação – e daí começamos a pensar que, para sermos felizes, precisamos ter uma casa enorme, um carro gigante, viajar o mundo inteiro, ter amigos ricos e poderosos, ser famoso, ter um corpo dentro dos rígidos padrões de beleza atuais, etc.  E, não conseguindo algum desses objetivos, naturalmente nos frustramos e achamos que o universo está contra nós, que Deus nos abandonou, essas coisas – tudo ilusão.

Mas afinal, o que precisamos para sermos felizes?  Em termos materiais, se pensarmos de forma isenta, muito pouco: casa, comida, bebida, conforto mínimo, o que mais realmente é necessário?  Os principais fatores de nossa felicidade não são materiais: amigos, família estruturada, realização profissional, segurança, desafios, etc.  Nada disso precisa de muitos recursos materiais, a princípio, basta a confiança de que Deus está conosco, é uno conosco e proverá sempre tudo o que precisamos – e daí tudo vem em consequência, pode acreditar.

Em suma, o que precisamos para sermos prósperos e felizes é simplesmente parar de se iludir, e não "atrapalhar" o universo – se nos harmonizarmos com tudo a nossa volta, naturalmente seremos ajudados, e conquistaremos, com esforço e mérito, tudo o que precisamos para sermos felizes.  Vale lembrar que o esforço é parte integrante da felicidade, é o esforço que qualifica – tudo tem um gosto melhor quando é consequência natural de um esforço disciplinado e harmonizado, e isso ocorre porque a conquista com esforço está harmonizada com a Lei da Causa e Efeito, uma das leis fundamentais do universo.

Essa lição - de que a prosperidade está ao seu alcance aqui e agora, que basta uma mudança de atitude, de visão, de consciência para alcançá-la - está presente, de forma geral, na literatura de auto ajuda, que tanto sucesso faz hoje em dia.  A maioria desses livros, dentre outras questões, detalha esse princípio da prosperidade, aplicando-o a um ou mais aspectos da vida, reforçando a ideia de que tudo o que precisamos para sermos felizes está dentro de nós.  Este princípio está plenamente em acordo com a visão mística.




Depois dessas considerações sobre a escassez, vamos falar do medo, uma das barreiras mais poderosas no caminho da Reintegração.  Isso porque o medo é paralisante, ele nos impede de tentar, de ousar, e, em consequência, favorece a acomodação, a estagnação, que é contrária à dinâmica natural do universo – não custa lembrar que uma das características essenciais de nosso mundo físico é sua dinâmica, em todos os níveis – desde o átomo até as galáxias, tudo se move o tempo inteiro e tudo se transforma continuamente.

Naturalmente, o medo tem sua razão de ser, sendo necessário em certas situações, como um sinalizador de perigo iminente, como um moderador de atitudes que nos impede de correr riscos desnecessários.  Afinal, não faz sentido místico algum se jogar do alto de um prédio porque "sou uno com Deus e ele me amparará".  Tal atitude somente terá uma consequência: você cairá, sem dúvida, e terá sérios prejuízos físicos, sem nenhuma motivação relevante.  Para evitar essas atitudes e inúmeras outras similares, existe um instinto de auto preservação, um medo essencial, que é muito útil para nossa vida.

Não é desse medo ligado a eventos fisicamente ameaçadores - o instinto de autopreservação - que eu falo, é do medo mais profundo e angustiante, presente em nosso dia a dia, do medo que nos impede de tentar algo diferente, de sermos espontâneos e, em última análise, de sermos felizes.

E a origem principal desse medo "profundo" está nessa percepção ilusória de separação da fonte divina, e de consequente escassez.  De acordo com essa ilusão básica, necessitamos de coisas externas a nós e, sendo assim, tememos não obter essas coisas, ou, caso as tenhamos obtido, temos medo de perdê-las. 

Em relação aos medos, vários psicólogos consideram que eles têm origem no medo mais primitivo de nossa espécie – o medo de morrer.  Em termos místicos, podemos afirmar que a vida é muito mais que nossa existência no mundo sensível – ela é eterna e prossegue em outros planos mais sutis após nossa morte.  Assim, a morte não retira de nós nada de essencial – nossa essência, nossa alma, se mantém incólume, e continua a viver de outra forma.  Esse ponto será melhor detalhado em um post futuro.

Assim, se considerarmos que nossa essência, nossa dignidade essencial, não tem como ser alterada, reduzida, eliminada, é um atributo de Deus, é una com Deus, e sempre será, não há porque ter medo – nada nem ninguém pode nos prejudicar em essência, a não ser nós mesmos.  O que pode ocorrer é que nós nos consideremos prejudicados por pessoas ou eventos externos, por apego a uma visão ilusória de nós mesmos e do que seja importante ou essencial para nós.

Falando agora dos principais medos que nos afligem, muitos têm medo de morrer, mas, conforme a visão mística, nossa vida atual no mundo físico não é parte de nossa essência, não sendo fundamental para nossa caminhada na reintegração. 

Deve-se ressaltar que, embora uma vida em particular não seja essencial, a vida de todas as pessoas em conjunto, bem como o “conjunto de vidas” de uma pessoa, é sim fundamental, afinal a humanidade está nesse mundo para obter, em conjunto, a Reintegração Divina, e a vida nesse plano físico é parte integrante dessa caminhada.  Devo acrescentar que um dos grandes benefícios da visão mística é possibilitar a eliminação desse medo essencial que aflige muitos de nós.

Muitos têm medo de perder a reputação, mas, como se pode facilmente concluir, ela não faz parte de nossa essência – trata-se somente da opinião que os outros têm a nosso respeito, não sendo parte integrante de nosso ser. 

Naturalmente, é importante termos bom relacionamento com as pessoas em geral, mas o fato é que a opinião de cada um a seu respeito tem muito mais a ver com o emissor da opinião do que com você mesmo.  Temos então que aceitar o fato natural de que não podemos agradar a todos, e buscar a harmonia com todos a nossa volta, independentemente do que pensem ou digam a nosso respeito.

Muitos têm medo de perder o poder, mas o fato é que o poder é sempre outorgado por outros, o poder, na realidade, não pertence em essência a você, ele é dado a você por outras pessoas – elas permitem, mediante condições, que você tenha alguma ascendência sobre o livre arbítrio delas – mas o livre arbítrio é atributo divino, não pode ser subjugado, a não ser que a pessoa permita mais ou menos conscientemente. 

Pode-se dizer que qualquer pessoa só possui o poder de forma temporária, desde que corresponda às expectativas de seus comandados.  Todo líder deveria ter consciência disso, e de que o medo é algo danoso para um líder – em geral, a maneira mais rápida de perder o poder é justamente se agarrar a ele por medo.

Muitos têm medo de perder seus bens materiais ou suas condições de conforto material – ter que se mudar para um lugar pior, ter refeições mais simples, deixar de viajar, etc.  Esse medo é um dos mais fáceis de refutar, afinal o conforto material, e em especial seu exagero, com bens supérfluos e comodidades excessivas, não faz parte de nossa essência.  Esse ponto já foi abordado ao falarmos da escassez. 

Mas o medo de perder as posses materiais deu origem a toda a indústria da segurança patrimonial, com seus agentes, alarmes, dispositivos, grades, etc.  Quem vive em cidades grandes no Brasil sabe muito bem o clima de medo e insegurança que cerca muita gente, afetando às vezes seriamente seu estilo de vida – não posso andar em certos lugares, não posso falar com estranhos, não posso dar atenção aos outros, etc. Parece ás vezes que as pessoas de bem estão presas, e os bandidos soltos por aí!

Mas na realidade todos esses medos têm origem em nós mesmos, a partir de nossas ilusões, nossas concepções distorcidas relativamente á nossa essência.  No fundo, está tudo dentro de nós, tudo de bom e de ruim.  E cabe a nós deixar de lado esses medos, desenvolvendo a consciência da Unidade Divina, se harmonizando com o Amor Divino, e tendo a consciência de que tudo o que precisamos está dentro de nós, e podemos criar um mundo de abundância e felicidade para nossa vida.  Assim seja!

Saudações fraternas.

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