quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A Criação do Mundo - Aspectos Dinâmicos


Saudações a todos,

Após discorrer, no post anterior, sobre a estrutura básica da criação do mundo, consistindo em níveis de energia cada vez mais sutis, com o princípio da analogia que agrega todos os níveis sob as mesmas leis fundamentais, temos que considerar um outro aspecto fundamental do processo, que é a dinâmica da criação.

Uso o termo “dinâmica” porque, conforme a visão mística, a criação não é um processo perdido num passado distante (mais de 10 bilhões de anos atrás, conforme teorias científicas), e sim um processo contínuo, que se prolongará até o final dos tempos.  Sendo assim, pode-se dizer que continua ocorrendo criação de diversos seres o tempo inteiro, e há leis que regem esse processo de criação, leis essas que, pelo princípio da analogia, são similares ao processo inicial de criação divina.  O universo continua “se expandindo” em formas diversificadas, e Deus prossegue em sua obra. 

Sendo assim, pode-se dizer que, após a definição da estrutura básica do universo, feita no momento do big bang, iniciou-se um movimento evolutivo, que causou uma complexidade cada vez maior nos seres do universo.  A ciência moderna já estudou em detalhes esse processo de evolução dos seres, em que a matéria bruta inicial, mais densa, foi se desenvolvendo, em direção a formas mais sutis, e daí surgiu a vida, surgiram seres vivos mais complexos, vegetais, animais, culminando, em nosso planeta, no homem, que tem uma mente sutil que lhe permite ter consciência de si e do mundo à sua volta, e que tem capacidade de pensar e imaginar conceitos para explicar o mundo à sua volta, incluindo a “ideia de Deus”, já citada em outro post.

Agora vem o grande ponto da visão dinâmica da criação.  Como já dito, Deus criou o universo e continua seu trabalho, resultando em um mundo de crescente complexidade.  Bem, então pode ser perguntado: mas como ele continua nesse trabalho até hoje, se não percebemos sua presença ativa?  Inclusive, os relatos míticos da criação citam que Deus, ao final de seu trabalho, se “retirou” – por exemplo, na descrição do “sétimo dia da criação”, na Bíblia. 

Para responder essa questão e resolver esse aparente paradoxo, devemos notar que Deus continua sim seu trabalho, mas não diretamente – daí os relatos de que Deus se “retirou” da criação.  Ele continua a obra da criação por meio das criaturas, do universo criado.  Isso significa que todos os seres criados têm uma capacidade variável de criação – quanto mais sutil o ser, maior essa capacidade.  Assim, os minerais tem capacidade de moldar o ambiente, por interações em tempos longos (eras geológicas), os vegetais tem capacidade de crescimento e procriação, podendo alterar seu ambiente desta forma, os animais possuem a locomoção, que lhes permite alterar de forma relevante seu ambiente próximo para satisfazer suas necessidades.  E o ser humano?

O ser humano possui uma mente mais sutil e, com isso, tem o maior poder de criação dos seres deste planeta.  Ele possui autoconsciência, ou seja, uma consciência individualizada – a consciência do eu – que lhe permite exercer uma capacidade crucial para a visão mística: seu livre-arbítrio.  Como o ser humano tem a liberdade de escolher livremente, ele tem a possibilidade de criar as circunstâncias de sua vida, definindo seu destino.  E, pela visão mística, ao exercitar seu livre arbítrio, o ser humano está “cocriando” esse universo, ou seja, ele está auxiliando a tarefa divina de criação do mundo.  Daí a famosa frase “o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus” ganha um sentido realmente especial.

Essa possibilidade criadora “superior” dá aos homens um imenso poder sobre todas as outras criaturas desse planeta e sobre o planeta em si.   Isso é facilmente observável – nos tempos modernos, com a evolução acelerada da consciência humana, o homem efetivamente tomou posse desse poder e subjugou de forma plena todos os demais seres da natureza aos seus interesses pessoais e coletivos.  Infelizmente, esse domínio humano muitas vezes é exercido de forma nada sábia, ocasionando destruição e desequilíbrios naturais, que acabam se voltando, de uma forma ou de outra, contra o próprio homem – e essa questão ambiental-ecológica está muito presente nos dias de hoje, e será tratada em um post futuro.

Bem, mas resta ainda tratar de uma questão que se apresenta: se a criação é um processo dinâmico, qual é o final desse processo?  Em outras palavras, como será o “fim do mundo”?  Para responder essa questão, deve-se considerar esse caminho de “evolução” que se vem observando, em que os seres estão caminhando de uma natureza mais densa para uma mais sutil.  Esse processo, conforme a visão mística, é universal, contínuo e inevitável – estamos atualmente no meio desse processo, em que ficaremos, todos, cada vez mais sutis, até que um dia retornaremos ao seio da divindade.

Devemos lembrar que, pelo princípio da Unidade Cósmica, Deus está sempre presente em nossa essência – não há então que se falar em “retorno a Deus”, e sim em “comunhão total com Deus”, ou seja, toda a nossa consciência estará plenamente integrada com a essência divina – algo que, por simples observação, percebe-se como muito distante da situação atual de nosso mundo.

O que está descrito anteriormente é a chamada “teoria da reintegração divina”, que desempenha um papel fundamental nas filosofias místicas em geral.  Resumindo bastante; Deus nos criou para que, a partir da estrutura básica de universo criada no início, possamos tornarmo-nos cada vez mais sutis até que voltaremos a sermos totalmente unos com Deus (e não somente em essência) – nesse momento, o universo sensível deixa de fazer sentido, e esse é o conhecido “fim do mundo”. 

Um detalhe bem relevante nessa história: nosso livre-arbítrio submete-se a essa lei maior da reintegração, ou seja, podemos escolher como nos reintegraremos (e o tempo que isso demorará) mas não podemos escolher a não-reintegração, pois Deus está em nossa essência, do início ao fim dos tempos, e o tempo disponível para essa evolução é infinito – não tem erro, um dia retornaremos, em consciência total, a Deus.

Devo ainda citar que, para os místicos orientais, esse processo é cíclico, ou seja, depois que voltarmos à “unidade total” com Deus, ele criará outro universo, para que todo o processo se reinicie, tal como em uma gigantesca “respiração divina”, e isso não termina nunca.  Devo reconhecer que essa visão é muito interessante, mas não afeta o mais relevante para nós, que é o processo que vivemos em nosso dia a dia.

Bem, mas pode-se observar, com boa dose de razão, que uma simples olhada no mundo atual não corresponde em nada a essa visão mística do “funcionamento” do mundo – mas como assim, estamos todos evoluindo?  Evoluindo como, se a cada dia temos notícias dos crimes mais horrendos, chacinas, genocídios, guerras, crueldades mil?  Para onde estamos indo?  Para Deus?  E como Deus, que está presente, em essência, em todo o universo, permite essa “bagunça” que estão fazendo por aqui?  A primeira vista, essa visão mística do mundo parece-nos, no mínimo, inocente ou fantasiosa.

Bem, posso dizer que tudo é relativo, e depende da janela de tempo que observarmos.  Se olharmos o tempo de uma semana, realmente parece que o mundo está cada vez mais caótico, mas se olharmos como era o mundo há duzentos ou dois mil anos e como é hoje, parece-me que hoje muita coisa está bem melhor sim, em termos materiais, emocionais e inclusive espirituais.  Mas esse tema será melhor explicado em outro post.

Saudações fraternas.

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