quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A Unidade Cósmica em Nosso Dia a Dia



Saudações a todos,

Após falar de forma genérica sobre o princípio da Unidade Cósmica, devo abordar as importantes consequências desse princípio em nossa vida diária.  Embora pareça muito filosófica e abstrata essa ideia de sermos todos unos com Deus, ela tem reflexos importantes no dia a dia.

Para começar, devemos fazer algumas considerações sobre uma questão básica: por que tendemos a rejeitar imediatamente a ideia de sermos unos com tudo à nossa volta?   É muito difícil para nós aceitar essa ideia, imediatamente pensamos: “eu sou eu, e os outros são os outros”.  Parece-nos a coisa mais natural e óbvia do mundo.  E a causa disso é o que chamarei de “eu sensível”, que pode ser chamado “eu inferior”, em oposição ao nosso eu mais completo, que envolve nossa essência divina, o “eu divino” ou “eu superior”.  Essa “dualidade” de eus é um dos conceitos mais importantes da visão mística, e deve ser bem assimilado, pois vários princípios místicos importantes derivam dessa compreensão.

O conceito de “eu sensível” é muito simples de se entender racionalmente: é simplesmente o “eu” percebido pela nossa razão, pela nossa consciência objetiva, podendo ser chamado também de individualidade subjetiva.  Já quanto ao “eu divino”, esse é um conceito místico, e necessita do conhecimento intuitivo para sua total apreensão.

Devo dizer que, desde muito pequenos, passamos por um processo, fundamental do ponto de vista psicológico, chamado “identificação”.  Por esse processo, formamos nossa personalidade, nosso “eu sensível”, identificando-nos com o que nós percebemos como similares a nós.  Com o passar do tempo, começamos a achar que somos aquilo com o que nos identificamos nesse mundo, e nossa “ideia de eu” vai se formando.  Daí vem declarações do tipo: “sou tímido”, “sou jovem”, “sou estudante”, “sou negro”, “sou brasileiro”, “sou judeu”, e por aí vai.  E tendemos a nos identificar com nossa aparência, nosso comportamento, nossas opiniões, nossas palavras, nossos pensamentos. 

Mas será que, no fundo, somos mesmo isso tudo?  Não vou responder essa pergunta, pois, para mim, ela é tão ou mais difícil que a pergunta “Quem é Deus?”, já tratada em outro post. 

Mas o fato é que esse processo de identificação descrito é fundamental, sem ele não temos sanidade mental, é ele um dos responsáveis pela formação de nossa consciência objetiva e de nosso inconsciente (que prefiro chamar de subconsciente), e que nos permite interagir com o mundo à nossa volta.  Um adulto saudável tem esse processo bem amadurecido em si, e tem uma ótima noção de uma série de atributos e qualidades com as quais ele se identifica ou não – e isso é recomendável, em todos os sentidos.  Em suma, a consciência do “eu sensível” é uma parte muito importante de nós mesmos, sendo determinante em nossa visão e interação com o mundo.

Deve-se notar que nosso mundo atual e suas ideologias (em especial em nossa cultura ocidental) reforçam imensamente a ideia de autonomia, independência, como sinônimos de força, sucesso, felicidade, e as pessoas são estimuladas a declararem o tempo inteiro sua individualidade, e reforçarem esses traços distintivos dos outros.  Posso afirmar, sem necessidade de pesquisas detalhadas, que uma das palavras mais pronunciadas no mundo atual é “eu”.

Mas, de fato, ao nos tornarmos adultos, percebemos que tal individualidade levada ao extremo gera aquele “vazio”, que pode nos trazer angústia, solidão e tantos outros problemas – sensações essas que podem ser muito úteis para nos sinalizar que algo está errado, que devemos mudar nossa percepção de mundo.  Essa é simplesmente uma constatação pessoal, bastante recorrente por sinal.

E como combater essa “sensação de angústia” tão comum nos dias de hoje?  A solução mais profunda para essa questão existencial, de acordo com a visão mística, é tomarmos consciência de que o nosso “eu sensível” deve se submeter a princípios mais elevados, a começar pelo da Unidade Cósmica.  Temos então que reconhecer que nosso poder material, nossa autossuficiência e independência, que tanto nos enchem de orgulho, são simplesmente ilusões de nossos sentidos, e na realidade somos parte de uma imensa teia de inter-relações, uma grande rede de energia transcendente, tendo por pano de fundo uma única essência – somos todos unos com Deus.

Na realidade, acredito que boa parte de nossos problemas emocionais e existenciais está ligado, em última análise, a uma resistência interna nossa em reconhecer a Unidade Cósmica, em nossa “teimosia” em nos acharmos autossuficientes e independentes, desconectados de nossa essência divina, em um primado de nosso “eu sensível”.  Esse é o “erro fundamental”, a “ignorância primeira”, que leva a uma série de outros erros e visões de mundo distorcidas, que são a fonte de boa parte de nossas infelicidades diárias.  Esse ponto será melhor desenvolvido em vários outros textos a serem publicados, sob o título genérico de “Armadilhas do Ego”.
  

Por outro lado, temos que observar que essa teia de inter-relações já citada, em conformidade com sua natureza divina, é essencialmente boa e construtiva, promovendo sempre o auxílio mútuo – os esforços de várias pessoas juntas sempre se multiplicam, no que é conhecido como sinergia.  Este é outro postulado místico fundamental, o da natureza benéfica desse plano transcendente, e disso me ocuparei em outro post. 

Levando isso em conta, surge como natural a ideia de ajudar os outros, de ser solidário, de construir o melhor para a sociedade, de colocar o interesse coletivo acima do individual egoísta, de servir à sociedade de forma construtiva.  Sempre que temos esse tipo de comportamento, estaremos em harmonia com nossa própria essência, com a Unidade Cósmica, e seremos os primeiros e principais beneficiados, no plano transcendente. Sendo assim, as atitudes altruístas passam a ser vistas não somente como uma simples regras de conduta moral, mas também como um excelente meio de auto-ajuda. 

Daí o ditado: “Quem ajuda os outros agrada a Deus” ganha um significado especial.  E a chamada Regra de Ouro - “Faça aos outros o que gostaria que fosse feito a você” - ganha um significado muito maior: harmonize-se com a Unidade Cósmica, e perceba que o outro é como um reflexo de você, que tem a mesma essência, é um irmão seu, e você ajudará a si próprio ajudando-o.

Outra frase que ganha um significado especial nesse contexto é: “Tudo o que fazemos é por nós mesmos”, o que implica em ser impossível fazer mal ou bem a qualquer pessoa que não seja eu mesmo e, mais que isso, é impossível alguém diferente de mim me ajudar ou prejudicar, em um sentido mais profundo.  Ou seja, o meu principal amigo e o meu principal inimigo sou eu mesmo, eu sou o grande e único responsável essencial por tudo o que ocorre comigo, tudo mesmo – isso em um nível transcendente de compreensão, que seja bem entendido.

Pode-se notar então que questões aparentemente tão teóricas, tão profundas e sublimes podem ter aplicação imediata em inúmeras situações do dia a dia.  Na realidade, acredito que há uma forte conexão entre nossa visão profunda do Universo e nossa maneira de ser, pensar, falar e agir. 

Infelizmente, a maioria das pessoas não tem muita consciência ou crítica de sua visão de mundo, e simplesmente reproduz modelos inadequados a elas, que lhes trazem grande infelicidade.  Para essas pessoas, que sentem a angústia e o vazio dessa “ideologia da independência” tão em voga hoje me dia, pode ser muito útil ter contato com uma visão alternativa, que afirma que estamos todos conectados, somos responsáveis por tudo e todos, e o melhor a fazer é colaborar com a harmonia universal.  Essas pessoas poderão descobrir, a seu modo, a Unidade Cósmica.

Saudações fraternas.


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