Saudações a todos.
Os dois obstáculos que são temas deste post são, para a
visão mística, muito similares entre si, embora haja reações muito
diferenciadas a cada um desses comportamentos.
Para a sociedade em geral, a gula é um dos comportamentos
mais tolerados pois ela tem por consequência somente uns quilinhos a mais,
prejudicando somente a saúde dos envolvidos, no longo prazo.
Já a luxúria, por outro lado, é um dos obstáculos que mais
foi combatido e condenado ao longo dos tempos, embora, em termos objetivos,
seja uma conduta que não gera grandes prejuízos a outras pessoas, somente aos
que tenham algum tipo de relacionamento afetivo com os envolvidos. Recentemente, a luxúria tem sido pouco
combatida, e em vários contextos até estimulada, em uma reação a séculos de
repressão rígida.
Essas condenações radicais, em geral, tem razões absurdas,
dificilmente assumidas pelos “condenadores”.
Por exemplo, um motivo que vejo para a repressão à luxúria feminina é o
fato de que antigamente não havia métodos anticoncepcionais confiáveis e, com
isso, um dos mais frequentes “efeitos colaterais” da luxúria era a gravidez
indesejada. Tal fato, aliado à condição
natural de que a mãe tem absoluta certeza da maternidade de seu filho e o pai
não a tem (ou não a tinha antes do exame de DNA), gerava o risco de que um
homem criasse o filho de outro, sem saber, e deixasse parte de sua herança para
ele, algo que não era tolerado na sociedade tradicional da época. Na verdade, esse medo ainda é muito presente
hoje em dia, em diversos segmentos da sociedade.
Assim, a repressão à luxúria feminina no passado possuía um componente
essencial que não tinha nada de sexual: a avareza, que será melhor detalhada no
próximo post. Em minha visão, a avareza
foi e é determinante na fixação de diversas regras familiares e sociais, que se
baseiam na visão distorcida de que temos pouco, de que algo nos falta, ou seja,
no princípio da escassez.
Antes de entrar na visão mística sobre a gula e a luxúria,
vamos falar da Lei da Justa Medida, que serve de base ao denominado “Caminho do
Meio”. Essa Lei postula que tudo em
nossa vida, e tudo no universo, se manifesta de forma harmoniosa em uma medida
justa. Quando há falta ou excesso de
certos atributos relevantes, a manifestação deixa de ser harmoniosa, deixa de
estar consonante com o Amor Divino, trazendo consequências dissonantes para os
envolvidos.
Assim, qualquer ação a ser realizada tem sua medida mais
eficaz, que leva a consequências mais harmoniosas. Se fizermos demais ou de menos, a eficácia
vai se reduzindo, e as consequências são menos harmoniosas, chegando, em casos
extremos, a prejudicar outras pessoas e/ou a si próprio.
Acredito que nem é necessário dar exemplos concretos desse
princípio, é só usar a imaginação, ou as lembranças, para verificar que em
muitos momentos de nossa vida podemos ter sérios problemas por fazermos demais
ou de menos. Posso citar alguns pontos
relevantes: trabalhar demais x de menos, falar demais x de menos, se exercitar
demais x de menos, dormir demais x de menos, e por aí vai.
Como sabemos a justa medida de cada coisa? A melhor resposta é: usando a nossa
sabedoria. Só que essa resposta suscita
outra pergunta: como usar nossa sabedoria?
Conjugando razão, emoção, percepção e intuição de forma equilibrada,
sábia. Para termos essa sabedoria, é
necessário experiência de vida, maturidade emocional, desenvolvimento
intelectual, traquejo social e uma intuição desenvolvida, tudo isso combinado
de forma harmônica. Parece difícil, e realmente
é, mas é um desafio que vale a pena encarar, na busca da felicidade, do
equilíbrio nas diversas situações da vida.
Uma boa indicação de que falta fazer algo vem dos resultados
insatisfatórios de nossas ações – simplesmente não alcançamos os objetivos
desejados, já que fizemos pouco, nos esforçamos pouco, nos dedicamos pouco, não
pusemos energia naquilo, fomos negligentes ou displicentes ou preguiçosos.
Por outro lado, podemos perceber quando fizemos demais no
momento em que as pessoas à nossa volta começarem a enviar sinais de
desaprovação, que podem ser olhares, gestos, palavras ou mesmo partirem para a
violência – isso significa, em geral, que você abusou de seu direito em
detrimento do direito delas, e elas, se sentindo ameaçadas, revidaram. Os resultados, embora diversos, são também
insatisfatórios.
Outro indicativo de que fizemos demais vem de nosso próprio
corpo, que muitas vezes nos avisa que estamos abusando dele, exigindo demais,
com muitos exercícios físicos, muita tensão, muitos aborrecimentos – nesses
casos, uma doença pode ser uma oportunidade para pararmos e refletirmos quanto
aos abusos que estamos fazendo com o nosso próprio corpo, que deveria ser
tratado com o maior respeito, solicitando-o e forçando-o na justa medida.
Agora tratando da gula e da luxúria, para a visão mística
elas são duas formas da mesma conduta: fazer demais. A gula consiste simplesmente em comer demais,
e a luxúria em fazer sexo demais.
Em resumo, é isso mesmo, em termos místicos não há muita
diferença entre alguém que não se contém diante de uma pessoa sensual,
atraente, ou diante de um pudim de leite, já que as concepções, as visões de
mundo, que levam a essas atitudes são similares.
Sendo assim, pela Lei da Justa Medida, os gulosos e
ninfomaníacos teriam o mesmo problema: o de compulsão por algo que gostam. Nesse mesmo problema incorrem os viciados em
geral: alcóolatras, fumantes, usuários de drogas, consumidores vorazes de
remédios.
Aplicando-se a mesma Lei, pode-se generalizar mais um pouco
e dizer que os que fazem de menos também têm o mesmo problema de desequilíbrio
em suas atitudes, mas para o extremo oposto, que é igualmente prejudicial. Assim, os frígidos e sem interesse sexual,
além dos anoréxicos, também têm seus problemas, e não se encontram harmonizados
com o Amor Divino. E quanto aos
celibatários e os que praticam jejum por motivos filosóficos ou
religiosos? Também são desequilibrados? Trataremos disso adiante.
Devemos concluir então que, para percebermos se estamos ou
não com esses problemas de gula ou luxúria, basta, como já descrito, observar
as reações de nossa mente e corpo, bem como as reações das pessoas à nossa
volta. Normalmente os sinais de que
estamos passando da medida são bem evidentes.
E como resolver essa questão? A resposta
é bem curta e complexa: basta se harmonizar com o Amor Divino e desenvolver sua
intuição, de forma a ter mais sabedoria e perceber a medida certa a cada
momento.
Vamos agora falar um pouco de repressão social em relação a
alimentação e sexo. Devo dizer que,
conforme a visão mística, Deus criou todas as coisas desse mundo para que sejam
utilizadas de forma harmoniosa. Ele não
criou nada que não possa ser usufruído com harmonia e equilíbrio.
Assim, pode-se dizer que o sexo é uma das atividades mais
incríveis que o ser humano pode realizar, mobiliza energias incríveis e, quando
associado a bons sentimentos de amor, cumplicidade, companheirismo, pode dar
frutos maravilhosos, inclusive uma nova vida humana. Devemos ressaltar que, para haver procriação,
o sexo nem precisa estar associado a nada, pois até um estupro pode resultar
numa gravidez, mas o grau de harmonia na relação do casal é sim determinante na
saúde física e psicológica da futura criança.
Da mesma forma, a comida é algo a ser celebrado, tal a
variedade e qualidade do que dispomos para nosso consumo todos os dias –
infelizmente nem todos têm acesso a essa riqueza nutricional, devido à imensa
desigualdade na distribuição das riquezas do mundo, mas essa é outra questão,
que foge ao escopo deste texto. De
qualquer forma, sempre que pudermos, devemos nos alimentar de forma equilibrada
e saudável, buscando todos os nutrientes essenciais à saúde de nosso corpo, que
merece ser muito bem tratado, afinal ele é o suporte atual de nossa vida, sendo
um bem extremamente precioso para nós neste momento.
Assim, considero absurdo o que certas filosofias místicas
afirmam, de que é necessário o sacrifício de nossos desejos materiais, o
chamado “ascetismo”, para que possamos evoluir espiritualmente. Essa visão decorre da ilusão da separação, no
caso a separação entre matéria e espírito, como se um pudesse existir sem o
outro em nosso universo. A ciência já
comprovou a dualidade de natureza – tudo é matéria e energia ao mesmo tempo,
não há como desvincular esses dois conceitos, eles convivem e coabitam em nós o
tempo inteiro.
Essa visão separada, também chamada de “dualismo”, é ainda
bastante popular entre várias correntes místicas e religiões, levando muitas
pessoas a renegarem seus desejos mais básicos, em um processo que tem um imenso
custo emocional para essas pessoas, como já demonstra a psicologia
moderna. Devo então dizer que misticismo
não é de forma alguma sinônimo de repressão, e que não devemos adotar modos de
vida que nos agridam ou que sejam antinaturais.
Vamos celebrar a vida, em tudo o que ela tem de bom, em harmonia com o
Amor Divino!
Falando agra da questão dos celibatários e dos jejuadores,
que normalmente se consideram mais “puros” que o restante dos seres
humanos. Deve-se considerar, de um lado,
que a regra geral é de que tudo deve ser realizado na justa medida. Sendo assim, a princípio, essas pessoas
estariam trilhando um caminho de desequilíbrio, em desarmonia com o Amor
Divino. Considero este o caso da maioria
das pessoas, e inclusive da maioria dos que praticam celibato ou jejum.
Mas, por outro lado, cada pessoa tem suas característica
únicas, e pode ocorrer de, para algumas pessoas, sexo realmente não ser algo
relevante, ou comer não ser algo tão essencial.
Essas pessoas podem sentir uma necessidade de se dedicar de forma muito
intensa à harmonização, ao contato com o Amor Divino, de uma forma tão forte e
íntima que certas necessidades básicas são transcendidas. Assim, existem casos muito raros de pessoas
que perdem a necessidade natural de comer – elas comem muito pouco ou às vezes
deixam completamente de se alimentar, passando a “viver de luz” – ou de fazer
sexo – elas se tornam celibatárias, sem se sentirem reprimidas em função disso.
Devo frisar, porém, que se trata de casos excepcionais, ou
seja, não pode ser exigido que a maioria das pessoas de uma comunidade siga
compulsoriamente qualquer tipo de jejum ou abstenção, ou defender isso como o
meio “mais saudável” de se harmonizar com o Amor Divino. Tais práticas não são realmente necessárias,
devendo ser adotadas somente em caráter voluntário, em casos muito especiais.
Quanto a restrições alimentares ou sexuais, entendo que,
nesse tipo de assunto, cada um deve ser livre para escolher o que for mais
saudável para si próprio. Nesse sentido,
vale a Lei do Livre Arbítrio, que normalmente é a mais sábia para lidar com a
diversidade quase infinita de gostos e orientações dos seres humanos. Naturalmente, trata-se de liberdade com
responsabilidade, em que cada um deve assumir quaisquer consequências de sua
conduta e respeitando incondicionalmente as preferências alheias.
Assim, há os que não comem carne de jeito nenhum, e os que
adoram um bom churrasco. Há os que só
comem saladas e frutas e os que não suportam esses alimentos. Há os que se proíbem de consumir carne de
porco, ou de boi, ou de frango, ou de peixe, e há os têm intolerância a algum
tipo de alimento – o trigo ou o camarão, por exemplo. Há os que comem muitas frituras e massas e os
que têm uma dieta mais “estranha”, ingerindo gafanhotos, cogumelos, cachorros,
ou outras iguarias “exóticas”. E assim
por diante.
E então, quem está certo? Todos, desde que vivam bem com sua
alimentação, e consigam os nutrientes necessários para uma vida equilibrada e
saudável. Acredito que a melhor
alimentação para você somente pode ser descoberta por você mesmo, por tentativa
e erro, já que cada pessoa, cada organismo, tem características únicas. Cabe a nós observarmos com atenção nossas
reações aos diversos alimentos, e irmos aprendendo quais os mais adequados, e
quais os que não podemos tolerar. Nesse
sentido, nosso corpo tem muito a nos dizer, basta saber escutar.
É interessante notar os modismos relacionados à alimentação,
e a profusão de dietas “milagrosas”, para fazerem você ter o “corpo dos sonhos”
– mas dos sonhos de quem? De quem quer
impor um padrão único a todos? Quem
disse que sobrepeso é algo necessariamente doentio e mórbido, ou feio e
repulsivo? E se a sua compleição física
for mais corpulenta, e você estiver sujeito a um sobrepeso natural e saudável,
você tem que se submeter a dietas totalmente artificiais, para caber em um
padrão arbitrário imposto a você?
Quantas pessoas não vivem sofrendo, brigando contra seus corpos, para
tentar conquistar uma “estética” totalmente inadequada? São questões para se pensar...
Pela visão mística, devemos resistir a todos esses apelos
por “comer isso” ou “não comer aquilo”, e devemos ouvir a “voz” do nosso corpo,
que vai reagir mais ou menos positivamente aos diversos alimentos que
ingerirmos. Daí, é só ir selecionando o
que melhor funciona para cada um de nós – posso dizer que, também nesse caso, a
intuição pode ajudar bastante. Devo
acrescentar que um bom nutricionista sempre tem seu valor, que vale a pena uma
orientação especializada, mas que devemos sempre criticar e não aceitar
gratuitamente tudo o que nos dizem – pode ser muito bom para a maioria das
pessoas, mas não muito adequado a você.
Aliás, um bom nutricionista de verdade sabe da importância do gosto
pessoal, e sempre oferece dietas alternativas, deixando a escolha final a cargo
da própria pessoa.
Essa questão de sempre ter uma visão crítica do que nos falam
ou aconselham vale para qualquer assunto pessoal – sempre devemos testar
internamente a validade de quaisquer “verdades” ou “conhecimentos” que nos são
repassados. A voz mais importante a ser
seguida é a de nossa própria consciência, devidamente harmonizada com o Amor
Divino. Se estivermos em estado de
harmonia, nossa “voz interior” sempre terá a palavra mais sábia para nós, a
cada situação. Daí, o grande desafio é
tentar estar o mais harmonizado possível, a todo momento.
Assim, peço que não aceitem sem criticar nada do que
disserem para vocês, nem esse texto, nem essa frase que estou escrevendo. Sempre procurem refletir, consultar seu eu interior,
de forma tranquila, equilibrada e harmonizada, e daí formem seu conhecimento, e
tomem as atitudes que considerarem mais saudáveis e construtivas ara si e para
os que estão a sua volta. Considero esse
um bom conselho – pensem sobre isso!
Aproveito o que escrevi acima para dizer que, em minha
opinião, essa é a atitude que devemos adotar na esfera sexual – observar o que
dizem os outros, o que realmente fazem, e então refletir e verificar o que é
mais construtivo para você e seu parceiro(a).
De forma geral, deve valer o Livre Arbítrio nessa questão, mas neste
caso deve-se combinar tudo com o parceiro(a), no caso mais frequente de haver
outra pessoa envolvida (na realidade, pode haver mais pessoas também, ou mesmo
nenhuma outra, as possibilidades são múltiplas).
Assim, uma boa regra de conduta sexual seria: “se está combinado
entre os envolvidos, e todos aceitam sem coação, é válido”. Além disso, há um
pressuposto relevante nessa regra: todos os envolvidos devem ter maturidade
emocional e racional suficiente para concordar de forma consciente com alguma
prática sexual. A partir desses
princípios simples, pode-se facilmente perceber, usando sabedoria já citada, quais práticas são ou
não são harmoniosas e construtivas.
Acredito então que qualquer prática que contribua para a
realização física, emocional e social das pessoas envolvidas é válida, e por
que não seria? Sempre lembrando que o
ser humano é livre, porém sujeito aos efeitos de suas decisões – liberdade com
responsabilidade, é simples assim.
O que está aqui descrito discorda radicalmente da maioria
das regras de conduta sexual previstas em comunidades místicas ou religiosas,
que em geral são muito mais restritas, tratando o sexo como algo “sagrado
demais” para ser praticado livremente a qualquer hora.
Algumas dessas regras preveem que o sexo deva ser praticado
apenas para efeitos de reprodução, o que, em minha visão, seria similar a
limitar o ato de comer somente quando a fome estiver extrema, e for necessária
a alimentação. Nosso corpo, em
princípio, não foi feito para essas abstinências, então porque temos que criar
esses limitantes antinaturais? Como já
dito, não vejo motivo para termos qualquer limitação externa, arbitrada a priori,
quanto a essas práticas alimentares ou sexuais.
Depois de falar sobre normas gerais de conduta que considero
mais saudáveis e naturais, mais próximas do Amor Divino, devo voltar à questão
da justa medida. Devo deixar bem claro que a Lei do Livre Arbítrio não significa
de forma alguma um “liberou geral”, pois ela está associada à Lei da Causa e
Efeito. Assim, deve-se sempre buscar
atitudes harmoniosas, em consonância com o Amor Divino.
Em outras palavras, deve-se respeitar o livre-arbítrio
alheio, deve-se seguir a máxima: “meu direito termina onde o outro começa”,
sempre buscando o devido equilíbrio de interesses nas relações humanas. E isso representa o equilíbrio preconizado
pela Lei da Justa Medida, já citada neste texto.
Quais seriam então as consequências de se fazer demais –
comer demais ou fazer sexo demais? Além
de eventuais questões físicas – obesidade ou doenças sexualmente
transmissíveis, por exemplo – o excesso causado pela compulsão tem
consequências psicológicas negativas, já reconhecidas pela ciência: a pessoa se
“escraviza” por seus desejos, podendo prejudicar o seu equilíbrio psicológico.
Além dessas consequências, há um outro efeito, mais sutil,
de ações em excesso: a perda da “dignidade” desses atos – alimentar-se ou fazer
sexo. Pois, quando fazemos algo de forma
comedida, na justa medida, naturalmente damos mais valor ao que fazemos,
podemos “saborear” melhor cada ato de nossa vida, percebendo a importância de
cada dia, de cada momento, em nossa caminhada maior.
Assim, cada refeição, cada relação sexual, pode ter um
significado especial, e poderemos associá-la à nossa caminhada de reintegração,
e harmonizá-la com o Amor Divino.
Afinal, toda a nossa vida pode e deve ser uma grande celebração, uma grande
e única oportunidade de buscarmos nos harmonizar melhor com Deus, de
descobrirmos as maravilhas divinas em cada momento, em cada mínimo gesto. Afinal, uma boa refeição ou uma boa noite de
sexo podem ser realmente sublimes, ou mesmo divinas.
E quando a pessoa exagera, busca de forma desesperada comer
demais ou fazer sexo o tempo inteiro, é muito difícil sentir todas as energias
presentes em cada momento. A compulsão
leva a pessoa a perder boa parte da sensibilidade, pois o importante é ter a
“saciedade eterna”, algo que é não é realista, e o resultado desse processo é
em geral frustrante – a pessoa nem sente mais prazer em comer ou fazer sexo.
Não estou dizendo que toda refeição ou todo ato sexual só
são válidos se tiverem todo um ritual de harmonização divina, se forem
“perfeitos”, já que atos rotineiros fazem parte de nossa vida, e são muito
saudáveis, de forma geral. Mas deve-se,
ocasionalmente, buscar momentos especiais, em que possamos dar o
devido valor a nosso ser, a nosso corpo, a nossas necessidades (e as de nossos
parceiros sexuais ou de refeição), e perceber o quão perfeito é nosso corpo, o
quão harmonioso podemos estar quando impulsos naturais são plenamente
satisfeitos, com muita harmonia e amor.
E esses momentos especiais são quase inexistentes para o compulsivo,
para quem não tem a justa medida.
Da mesma forma, não é saudável fazer de menos, pois nesse
caso, além de eventuais consequências físicas – subnutrição, por exemplo – ou
emocionais, por carências afetivas básicas, existe também outra consequência
mais sutil: a sobrevalorização da experiência não realizada, a idealização do
seu próprio desejo. Pois, quando há
grande carência de comida ou sexo, tendemos a idealizar a experiência de ter
uma refeição completa ou um ato sexual gratificante, passando a considerar
essas experiências como o ápice de nossas vidas, e então dando uma atenção
excessiva a esses assuntos.
Pode-se notar essas características em adolescentes, que
atualmente são submetidos a uma enxurrada de estímulos de conteúdo sexual, mas que
em sua vida pessoal não praticam sexo regularmente. Pode-se notar que, muitas vezes, essas
pessoas só pensam “naquilo”, por considerarem aquela a única experiência de
vida que seria realmente gratificante e realizadora, dando muito pouca atenção
a outros assuntos.
Naturalmente, essa é uma visão completamente distorcida,
desarmoniosa, que deixa a pessoa com vários problemas emocionais e
psicológicos. Na adolescência, esses
problemas são tolerados, uma vez que fazem parte dessa etapa do desenvolvimento
do ser humano, mas um dia a pessoa deve amadurecer e superar essa fase
“ansiosa”, de forma a encarar os impulsos sexuais de forma mais equilibrada.
Em suma, não devemos de forma alguma considerar que a
repressão pura e simples a algum impulso natural seja uma boa ideia – a Lei do
Livre Arbítrio postula que somos livres por natureza, e necessitamos dessa
liberdade para nos harmonizarmos com o Amor Divino. Porém, ao lado da liberdade existe a
responsabilidade, e devemos evitar as compulsões, as atitudes exageradas, que
também podem ser muito prejudiciais.
Devemos então lembrar que, no campo alimentar e no sexual,
além de todos os outros assuntos de nossa vida, vale a Lei da Justa
Medida. Que possamos, por meio de nossa
percepção, emoção, razão e intuição, devidamente harmonizadas, saber qual a
justa medida adequada a cada um de nossos atos.
Que assim seja!
Saudações fraternas.
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