domingo, 15 de dezembro de 2013

Obstáculos 5 - Gula e Luxúria


Saudações a todos.

Os dois obstáculos que são temas deste post são, para a visão mística, muito similares entre si, embora haja reações muito diferenciadas a cada um desses comportamentos.
 
Para a sociedade em geral, a gula é um dos comportamentos mais tolerados pois ela tem por consequência somente uns quilinhos a mais, prejudicando somente a saúde dos envolvidos, no longo prazo. 
 
Já a luxúria, por outro lado, é um dos obstáculos que mais foi combatido e condenado ao longo dos tempos, embora, em termos objetivos, seja uma conduta que não gera grandes prejuízos a outras pessoas, somente aos que tenham algum tipo de relacionamento afetivo com os envolvidos.  Recentemente, a luxúria tem sido pouco combatida, e em vários contextos até estimulada, em uma reação a séculos de repressão rígida.
 
Essas condenações radicais, em geral, tem razões absurdas, dificilmente assumidas pelos “condenadores”.  Por exemplo, um motivo que vejo para a repressão à luxúria feminina é o fato de que antigamente não havia métodos anticoncepcionais confiáveis e, com isso, um dos mais frequentes “efeitos colaterais” da luxúria era a gravidez indesejada.  Tal fato, aliado à condição natural de que a mãe tem absoluta certeza da maternidade de seu filho e o pai não a tem (ou não a tinha antes do exame de DNA), gerava o risco de que um homem criasse o filho de outro, sem saber, e deixasse parte de sua herança para ele, algo que não era tolerado na sociedade tradicional da época.  Na verdade, esse medo ainda é muito presente hoje em dia, em diversos segmentos da sociedade.
 
Assim, a repressão à luxúria feminina no passado possuía um componente essencial que não tinha nada de sexual: a avareza, que será melhor detalhada no próximo post.  Em minha visão, a avareza foi e é determinante na fixação de diversas regras familiares e sociais, que se baseiam na visão distorcida de que temos pouco, de que algo nos falta, ou seja, no princípio da escassez.
 
Antes de entrar na visão mística sobre a gula e a luxúria, vamos falar da Lei da Justa Medida, que serve de base ao denominado “Caminho do Meio”.  Essa Lei postula que tudo em nossa vida, e tudo no universo, se manifesta de forma harmoniosa em uma medida justa.  Quando há falta ou excesso de certos atributos relevantes, a manifestação deixa de ser harmoniosa, deixa de estar consonante com o Amor Divino, trazendo consequências dissonantes para os envolvidos.
 
Assim, qualquer ação a ser realizada tem sua medida mais eficaz, que leva a consequências mais harmoniosas.  Se fizermos demais ou de menos, a eficácia vai se reduzindo, e as consequências são menos harmoniosas, chegando, em casos extremos, a prejudicar outras pessoas e/ou a si próprio.
 
Acredito que nem é necessário dar exemplos concretos desse princípio, é só usar a imaginação, ou as lembranças, para verificar que em muitos momentos de nossa vida podemos ter sérios problemas por fazermos demais ou de menos.  Posso citar alguns pontos relevantes: trabalhar demais x de menos, falar demais x de menos, se exercitar demais x de menos, dormir demais x de menos, e por aí vai.
 
Como sabemos a justa medida de cada coisa?  A melhor resposta é: usando a nossa sabedoria.  Só que essa resposta suscita outra pergunta: como usar nossa sabedoria?  Conjugando razão, emoção, percepção e intuição de forma equilibrada, sábia.  Para termos essa sabedoria, é necessário experiência de vida, maturidade emocional, desenvolvimento intelectual, traquejo social e uma intuição desenvolvida, tudo isso combinado de forma harmônica.  Parece difícil, e realmente é, mas é um desafio que vale a pena encarar, na busca da felicidade, do equilíbrio nas diversas situações da vida.
 
Uma boa indicação de que falta fazer algo vem dos resultados insatisfatórios de nossas ações – simplesmente não alcançamos os objetivos desejados, já que fizemos pouco, nos esforçamos pouco, nos dedicamos pouco, não pusemos energia naquilo, fomos negligentes ou displicentes ou preguiçosos.
 
Por outro lado, podemos perceber quando fizemos demais no momento em que as pessoas à nossa volta começarem a enviar sinais de desaprovação, que podem ser olhares, gestos, palavras ou mesmo partirem para a violência – isso significa, em geral, que você abusou de seu direito em detrimento do direito delas, e elas, se sentindo ameaçadas, revidaram.  Os resultados, embora diversos, são também insatisfatórios.
 
Outro indicativo de que fizemos demais vem de nosso próprio corpo, que muitas vezes nos avisa que estamos abusando dele, exigindo demais, com muitos exercícios físicos, muita tensão, muitos aborrecimentos – nesses casos, uma doença pode ser uma oportunidade para pararmos e refletirmos quanto aos abusos que estamos fazendo com o nosso próprio corpo, que deveria ser tratado com o maior respeito, solicitando-o e forçando-o na justa medida.
 
Agora tratando da gula e da luxúria, para a visão mística elas são duas formas da mesma conduta: fazer demais.  A gula consiste simplesmente em comer demais, e a luxúria em fazer sexo demais.
 
Em resumo, é isso mesmo, em termos místicos não há muita diferença entre alguém que não se contém diante de uma pessoa sensual, atraente, ou diante de um pudim de leite, já que as concepções, as visões de mundo, que levam a essas atitudes são similares. 
 
Sendo assim, pela Lei da Justa Medida, os gulosos e ninfomaníacos teriam o mesmo problema: o de compulsão por algo que gostam.  Nesse mesmo problema incorrem os viciados em geral: alcóolatras, fumantes, usuários de drogas, consumidores vorazes de remédios.
 
Aplicando-se a mesma Lei, pode-se generalizar mais um pouco e dizer que os que fazem de menos também têm o mesmo problema de desequilíbrio em suas atitudes, mas para o extremo oposto, que é igualmente prejudicial.  Assim, os frígidos e sem interesse sexual, além dos anoréxicos, também têm seus problemas, e não se encontram harmonizados com o Amor Divino.  E quanto aos celibatários e os que praticam jejum por motivos filosóficos ou religiosos?  Também são desequilibrados?  Trataremos disso adiante.
 
Devemos concluir então que, para percebermos se estamos ou não com esses problemas de gula ou luxúria, basta, como já descrito, observar as reações de nossa mente e corpo, bem como as reações das pessoas à nossa volta.  Normalmente os sinais de que estamos passando da medida são bem evidentes.  E como resolver essa questão?  A resposta é bem curta e complexa: basta se harmonizar com o Amor Divino e desenvolver sua intuição, de forma a ter mais sabedoria e perceber a medida certa a cada momento.
 
 


Vamos agora falar um pouco de repressão social em relação a alimentação e sexo.  Devo dizer que, conforme a visão mística, Deus criou todas as coisas desse mundo para que sejam utilizadas de forma harmoniosa.  Ele não criou nada que não possa ser usufruído com harmonia e equilíbrio. 

Assim, pode-se dizer que o sexo é uma das atividades mais incríveis que o ser humano pode realizar, mobiliza energias incríveis e, quando associado a bons sentimentos de amor, cumplicidade, companheirismo, pode dar frutos maravilhosos, inclusive uma nova vida humana.  Devemos ressaltar que, para haver procriação, o sexo nem precisa estar associado a nada, pois até um estupro pode resultar numa gravidez, mas o grau de harmonia na relação do casal é sim determinante na saúde física e psicológica da futura criança.

Da mesma forma, a comida é algo a ser celebrado, tal a variedade e qualidade do que dispomos para nosso consumo todos os dias – infelizmente nem todos têm acesso a essa riqueza nutricional, devido à imensa desigualdade na distribuição das riquezas do mundo, mas essa é outra questão, que foge ao escopo deste texto.  De qualquer forma, sempre que pudermos, devemos nos alimentar de forma equilibrada e saudável, buscando todos os nutrientes essenciais à saúde de nosso corpo, que merece ser muito bem tratado, afinal ele é o suporte atual de nossa vida, sendo um bem extremamente precioso para nós neste momento.

Assim, considero absurdo o que certas filosofias místicas afirmam, de que é necessário o sacrifício de nossos desejos materiais, o chamado “ascetismo”, para que possamos evoluir espiritualmente.  Essa visão decorre da ilusão da separação, no caso a separação entre matéria e espírito, como se um pudesse existir sem o outro em nosso universo.  A ciência já comprovou a dualidade de natureza – tudo é matéria e energia ao mesmo tempo, não há como desvincular esses dois conceitos, eles convivem e coabitam em nós o tempo inteiro.

Essa visão separada, também chamada de “dualismo”, é ainda bastante popular entre várias correntes místicas e religiões, levando muitas pessoas a renegarem seus desejos mais básicos, em um processo que tem um imenso custo emocional para essas pessoas, como já demonstra a psicologia moderna.  Devo então dizer que misticismo não é de forma alguma sinônimo de repressão, e que não devemos adotar modos de vida que nos agridam ou que sejam antinaturais.  Vamos celebrar a vida, em tudo o que ela tem de bom, em harmonia com o Amor Divino!

Falando agra da questão dos celibatários e dos jejuadores, que normalmente se consideram mais “puros” que o restante dos seres humanos.  Deve-se considerar, de um lado, que a regra geral é de que tudo deve ser realizado na justa medida.  Sendo assim, a princípio, essas pessoas estariam trilhando um caminho de desequilíbrio, em desarmonia com o Amor Divino.  Considero este o caso da maioria das pessoas, e inclusive da maioria dos que praticam celibato ou jejum.

Mas, por outro lado, cada pessoa tem suas característica únicas, e pode ocorrer de, para algumas pessoas, sexo realmente não ser algo relevante, ou comer não ser algo tão essencial.  Essas pessoas podem sentir uma necessidade de se dedicar de forma muito intensa à harmonização, ao contato com o Amor Divino, de uma forma tão forte e íntima que certas necessidades básicas são transcendidas.  Assim, existem casos muito raros de pessoas que perdem a necessidade natural de comer – elas comem muito pouco ou às vezes deixam completamente de se alimentar, passando a “viver de luz” – ou de fazer sexo – elas se tornam celibatárias, sem se sentirem reprimidas em função disso.

Devo frisar, porém, que se trata de casos excepcionais, ou seja, não pode ser exigido que a maioria das pessoas de uma comunidade siga compulsoriamente qualquer tipo de jejum ou abstenção, ou defender isso como o meio “mais saudável” de se harmonizar com o Amor Divino.  Tais práticas não são realmente necessárias, devendo ser adotadas somente em caráter voluntário, em casos muito especiais.

Quanto a restrições alimentares ou sexuais, entendo que, nesse tipo de assunto, cada um deve ser livre para escolher o que for mais saudável para si próprio.  Nesse sentido, vale a Lei do Livre Arbítrio, que normalmente é a mais sábia para lidar com a diversidade quase infinita de gostos e orientações dos seres humanos.  Naturalmente, trata-se de liberdade com responsabilidade, em que cada um deve assumir quaisquer consequências de sua conduta e respeitando incondicionalmente as preferências alheias. 

Assim, há os que não comem carne de jeito nenhum, e os que adoram um bom churrasco.  Há os que só comem saladas e frutas e os que não suportam esses alimentos.  Há os que se proíbem de consumir carne de porco, ou de boi, ou de frango, ou de peixe, e há os têm intolerância a algum tipo de alimento – o trigo ou o camarão, por exemplo.  Há os que comem muitas frituras e massas e os que têm uma dieta mais “estranha”, ingerindo gafanhotos, cogumelos, cachorros, ou outras iguarias “exóticas”.  E assim por diante.

E então, quem está certo? Todos, desde que vivam bem com sua alimentação, e consigam os nutrientes necessários para uma vida equilibrada e saudável.  Acredito que a melhor alimentação para você somente pode ser descoberta por você mesmo, por tentativa e erro, já que cada pessoa, cada organismo, tem características únicas.  Cabe a nós observarmos com atenção nossas reações aos diversos alimentos, e irmos aprendendo quais os mais adequados, e quais os que não podemos tolerar.  Nesse sentido, nosso corpo tem muito a nos dizer, basta saber escutar.

É interessante notar os modismos relacionados à alimentação, e a profusão de dietas “milagrosas”, para fazerem você ter o “corpo dos sonhos” – mas dos sonhos de quem?  De quem quer impor um padrão único a todos?  Quem disse que sobrepeso é algo necessariamente doentio e mórbido, ou feio e repulsivo?  E se a sua compleição física for mais corpulenta, e você estiver sujeito a um sobrepeso natural e saudável, você tem que se submeter a dietas totalmente artificiais, para caber em um padrão arbitrário imposto a você?  Quantas pessoas não vivem sofrendo, brigando contra seus corpos, para tentar conquistar uma “estética” totalmente inadequada?  São questões para se pensar...

Pela visão mística, devemos resistir a todos esses apelos por “comer isso” ou “não comer aquilo”, e devemos ouvir a “voz” do nosso corpo, que vai reagir mais ou menos positivamente aos diversos alimentos que ingerirmos.  Daí, é só ir selecionando o que melhor funciona para cada um de nós – posso dizer que, também nesse caso, a intuição pode ajudar bastante.  Devo acrescentar que um bom nutricionista sempre tem seu valor, que vale a pena uma orientação especializada, mas que devemos sempre criticar e não aceitar gratuitamente tudo o que nos dizem – pode ser muito bom para a maioria das pessoas, mas não muito adequado a você.  Aliás, um bom nutricionista de verdade sabe da importância do gosto pessoal, e sempre oferece dietas alternativas, deixando a escolha final a cargo da própria pessoa.

Essa questão de sempre ter uma visão crítica do que nos falam ou aconselham vale para qualquer assunto pessoal – sempre devemos testar internamente a validade de quaisquer “verdades” ou “conhecimentos” que nos são repassados.  A voz mais importante a ser seguida é a de nossa própria consciência, devidamente harmonizada com o Amor Divino.  Se estivermos em estado de harmonia, nossa “voz interior” sempre terá a palavra mais sábia para nós, a cada situação.  Daí, o grande desafio é tentar estar o mais harmonizado possível, a todo momento.

Assim, peço que não aceitem sem criticar nada do que disserem para vocês, nem esse texto, nem essa frase que estou escrevendo.  Sempre procurem refletir, consultar seu eu interior, de forma tranquila, equilibrada e harmonizada, e daí formem seu conhecimento, e tomem as atitudes que considerarem mais saudáveis e construtivas ara si e para os que estão a sua volta.  Considero esse um bom conselho – pensem sobre isso!

Aproveito o que escrevi acima para dizer que, em minha opinião, essa é a atitude que devemos adotar na esfera sexual – observar o que dizem os outros, o que realmente fazem, e então refletir e verificar o que é mais construtivo para você e seu parceiro(a).  De forma geral, deve valer o Livre Arbítrio nessa questão, mas neste caso deve-se combinar tudo com o parceiro(a), no caso mais frequente de haver outra pessoa envolvida (na realidade, pode haver mais pessoas também, ou mesmo nenhuma outra, as possibilidades são múltiplas).

Assim, uma boa regra de conduta sexual seria: “se está combinado entre os envolvidos, e todos aceitam sem coação, é válido”. Além disso, há um pressuposto relevante nessa regra: todos os envolvidos devem ter maturidade emocional e racional suficiente para concordar de forma consciente com alguma prática sexual.  A partir desses princípios simples, pode-se facilmente perceber, usando  sabedoria já citada, quais práticas são ou não são harmoniosas e construtivas. 

Acredito então que qualquer prática que contribua para a realização física, emocional e social das pessoas envolvidas é válida, e por que não seria?  Sempre lembrando que o ser humano é livre, porém sujeito aos efeitos de suas decisões – liberdade com responsabilidade, é simples assim.

O que está aqui descrito discorda radicalmente da maioria das regras de conduta sexual previstas em comunidades místicas ou religiosas, que em geral são muito mais restritas, tratando o sexo como algo “sagrado demais” para ser praticado livremente a qualquer hora. 

Algumas dessas regras preveem que o sexo deva ser praticado apenas para efeitos de reprodução, o que, em minha visão, seria similar a limitar o ato de comer somente quando a fome estiver extrema, e for necessária a alimentação.  Nosso corpo, em princípio, não foi feito para essas abstinências, então porque temos que criar esses limitantes antinaturais?  Como já dito, não vejo motivo para termos qualquer limitação externa, arbitrada a priori, quanto a essas práticas alimentares ou sexuais.

Depois de falar sobre normas gerais de conduta que considero mais saudáveis e naturais, mais próximas do Amor Divino, devo voltar à questão da justa medida.  Devo deixar bem claro que a Lei do Livre Arbítrio não significa de forma alguma um “liberou geral”, pois ela está associada à Lei da Causa e Efeito.  Assim, deve-se sempre buscar atitudes harmoniosas, em consonância com o Amor Divino.

Em outras palavras, deve-se respeitar o livre-arbítrio alheio, deve-se seguir a máxima: “meu direito termina onde o outro começa”, sempre buscando o devido equilíbrio de interesses nas relações humanas.  E isso representa o equilíbrio preconizado pela Lei da Justa Medida, já citada neste texto.

Quais seriam então as consequências de se fazer demais – comer demais ou fazer sexo demais?  Além de eventuais questões físicas – obesidade ou doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo – o excesso causado pela compulsão tem consequências psicológicas negativas, já reconhecidas pela ciência: a pessoa se “escraviza” por seus desejos, podendo prejudicar o seu equilíbrio psicológico.

Além dessas consequências, há um outro efeito, mais sutil, de ações em excesso: a perda da “dignidade” desses atos – alimentar-se ou fazer sexo.  Pois, quando fazemos algo de forma comedida, na justa medida, naturalmente damos mais valor ao que fazemos, podemos “saborear” melhor cada ato de nossa vida, percebendo a importância de cada dia, de cada momento, em nossa caminhada maior.

Assim, cada refeição, cada relação sexual, pode ter um significado especial, e poderemos associá-la à nossa caminhada de reintegração, e harmonizá-la com o Amor Divino.  Afinal, toda a nossa vida pode e deve ser uma grande celebração, uma grande e única oportunidade de buscarmos nos harmonizar melhor com Deus, de descobrirmos as maravilhas divinas em cada momento, em cada mínimo gesto.  Afinal, uma boa refeição ou uma boa noite de sexo podem ser realmente sublimes, ou mesmo divinas.

E quando a pessoa exagera, busca de forma desesperada comer demais ou fazer sexo o tempo inteiro, é muito difícil sentir todas as energias presentes em cada momento.  A compulsão leva a pessoa a perder boa parte da sensibilidade, pois o importante é ter a “saciedade eterna”, algo que é não é realista, e o resultado desse processo é em geral frustrante – a pessoa nem sente mais prazer em comer ou fazer sexo.

Não estou dizendo que toda refeição ou todo ato sexual só são válidos se tiverem todo um ritual de harmonização divina, se forem “perfeitos”, já que atos rotineiros fazem parte de nossa vida, e são muito saudáveis, de forma geral.  Mas deve-se, ocasionalmente, buscar momentos especiais, em que possamos dar o devido valor a nosso ser, a nosso corpo, a nossas necessidades (e as de nossos parceiros sexuais ou de refeição), e perceber o quão perfeito é nosso corpo, o quão harmonioso podemos estar quando impulsos naturais são plenamente satisfeitos, com muita harmonia e amor.  E esses momentos especiais são quase inexistentes para o compulsivo, para quem não tem a justa medida.

Da mesma forma, não é saudável fazer de menos, pois nesse caso, além de eventuais consequências físicas – subnutrição, por exemplo – ou emocionais, por carências afetivas básicas, existe também outra consequência mais sutil: a sobrevalorização da experiência não realizada, a idealização do seu próprio desejo.  Pois, quando há grande carência de comida ou sexo, tendemos a idealizar a experiência de ter uma refeição completa ou um ato sexual gratificante, passando a considerar essas experiências como o ápice de nossas vidas, e então dando uma atenção excessiva a esses assuntos.

Pode-se notar essas características em adolescentes, que atualmente são submetidos a uma enxurrada de estímulos de conteúdo sexual, mas que em sua vida pessoal não praticam sexo regularmente.  Pode-se notar que, muitas vezes, essas pessoas só pensam “naquilo”, por considerarem aquela a única experiência de vida que seria realmente gratificante e realizadora, dando muito pouca atenção a outros assuntos. 

Naturalmente, essa é uma visão completamente distorcida, desarmoniosa, que deixa a pessoa com vários problemas emocionais e psicológicos.  Na adolescência, esses problemas são tolerados, uma vez que fazem parte dessa etapa do desenvolvimento do ser humano, mas um dia a pessoa deve amadurecer e superar essa fase “ansiosa”, de forma a encarar os impulsos sexuais de forma mais equilibrada.

Em suma, não devemos de forma alguma considerar que a repressão pura e simples a algum impulso natural seja uma boa ideia – a Lei do Livre Arbítrio postula que somos livres por natureza, e necessitamos dessa liberdade para nos harmonizarmos com o Amor Divino.  Porém, ao lado da liberdade existe a responsabilidade, e devemos evitar as compulsões, as atitudes exageradas, que também podem ser muito prejudiciais. 

Devemos então lembrar que, no campo alimentar e no sexual, além de todos os outros assuntos de nossa vida, vale a Lei da Justa Medida.  Que possamos, por meio de nossa percepção, emoção, razão e intuição, devidamente harmonizadas, saber qual a justa medida adequada a cada um de nossos atos.  Que assim seja!
 
Saudações fraternas.

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