sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Harmonização e Reintegração Divina



Saudações a todos,

Vou falar agora de um tema tipicamente místico – a Harmonização com Deus, na direção da Reintegração Divina, meta principal de todo místico, como já dito inúmeras vezes nesses posts.

Pretendo realizar uma tarefa que é impossível de ser feita a contento – passar, por meio de um texto escrito, uma noção do que seja a Harmonização com Deus.  Nesse ponto específico, a prática é o que vale, a teoria pouco pode ajudar, a razão muitas vezes até atrapalha, bloqueando nossos naturais impulsos à Harmonização.  Mas vou tentar, evitando um texto muito prolixo, porque não são as palavras que o levarão a se harmonizar, e sim seu coração, harmonizado com sua mente.

Mas posso lançar algumas ideias sobre a questão, que podem orientar de forma útil o buscador sincero, que pretende se dedicar a esse objetivo tão nobre.

Para começar, o processo de Harmonização com Deus é individual, pessoal e intransferível.  Cada um sente e encara o processo da sua forma.  Não há como impor regras gerais, que indiquem um caminho “preferencial” para essa Harmonização.

Essa questão dificulta imensamente a identificação da própria Harmonização.  Afinal, como podemos saber se experimentamos uma Harmonização genuína?  Para complicar um pouco mais, cada vertente mística dá um nome diferente, e além disso qualifica de forma mais ou menos detalhada a experiência, numa tentativa de ajudar o buscador, mas, devido à ampla variedade de descrições conflitantes, acaba atrapalhando mais ainda.

O único guia eficaz a indicar se aquela experiência marcante é uma Harmonização autêntica é o seu Eu Superior, a parte íntima de você que já está harmonizada com os planos superiores.  Mas daí a razão dá um nó: como poderemos consultar esse “Eu Superior” se não nos encontramos harmonizados ainda?  Não há resposta lógica a essa questão, que é um legítimo paradoxo – o que nos faz concluir que a razão é mesmo limitada para alcançar essas questões.  Posso somente adiantar que esse processo é possível sim, em etapas, com disciplina e vontade, tendo contatos cada vez mais frequentes com seu Eu Superior e validando as experiências de Harmonização que venham a ocorrer.

Naturalmente, existem indicações bem mais objetivas e racionais, que serão descritas mais adiante, quando eu descrever a Harmonização em si.  Em resumo, uma legítima Harmonização envolve uma sensação muito forte e inesquecível de arrebatamento por uma energia muito suave, harmoniosa e poderosa, de pertencimento, de ser uno com o Universo à sua volta, com Deus. 

Vou detalhar um pouco melhor a ideia de “Deus” aqui.  Não estou me referindo a Deus em seu sentido mais esotérico e abstrato, e sim a um Deus presente e atuante.  Na realidade, não é muito preciso falar de Deus aqui, pois não se trata de “Deus em Si”, mas sim de um atributo de Deus, o Amor Divino.

O Amor Divino, dentre os atributos sensíveis de Deus (que podem ser percebidos por meio da Harmonização), é o mais palpável, o mais próximo de nossa vida física.  Trata-se da energia primordial e amorosa que infunde todo o nosso universo e serve de base a todas as energias conhecidas.  Pode ter diversos nomes, sendo que um dos mais populares no Ocidente é “Espírito Santo”.  Esse Amor pode ser literalmente sentido por qualquer um de nós, a qualquer momento – basta querer, e se preparar adequadamente para isso.  Trata-se do atributo de Deus mais acessível a nossos sentidos mais sutis.

Existem diversos graus de Harmonização com Deus, e vou destacar três classificações usadas para simplificar essa questão:

a)      Intuição: contato rápido e instantâneo com o Amor Divino, que normalmente se manifesta na forma de uma ideia repentina, um insight, que percebemos claramente como “verdadeiro” ou “autêntico”, sem sabermos racionalmente o porquê.  Relaciona-se com uma questão específica daquele momento, e em geral trata-se de mensagem curta, muitas vezes na forma de um “sim” ou “não”.  Seria o Amor Divino agindo prontamente em “emergências”.

b)      Inspiração: contato mais demorado e frequente com o Amor Divino, que normalmente ocorre em etapas (mas que também pode ser contínuo), durante um período de horas, dias ou mesmo semanas.  Relaciona-se com o cumprimento específico de uma tarefa, normalmente uma obra de arte, um trabalho técnico ou experimento científico. Manifesta-se em geral como uma sensação de harmonia, de tranquilidade, de “saber o que deve ser feito”, sem saber o porquê.  Seria o Amor Divino atuando em momentos relevantes, em tarefas determinadas.

c)      Iluminação: contato pleno com o Amor Divino, em que a pessoa passa a conviver o tempo inteiro na Harmonia com Deus.  Refere-se a todos os aspectos da vida da pessoa, a todo o tempo, e manifesta-se como uma sensação de total bem-estar e felicidade, perene e dinâmica.

Posso então dizer que o primeiro nível, o da intuição, é bem mais fácil de identificar, por ser o mais frequente – praticamente todas as pessoas, em vários momentos de sua vida, têm contato com a intuição, por exemplo: sensação de perigo iminente, impressão de estar sendo observado, afinidade à primeira vista, ideia “repentina” que resolve um problema muito complexo, que você já tinha até deixado de lado.  Todas essas experiências podem estar relacionadas à intuição, mas também podem ser decorrentes de preconceitos, de ideias dissonantes que ficam em nossa mente.  Como distinguir uma intuição autêntica de uma ilusão de nossa mente?

Só a experiência pode dar essa resposta, e normalmente os resultados respondem essa questão: se a realidade confirma a impressão “estranha”, então é bem provável que seja autêntica, e vice-versa.  Mas nem sempre é assim.  O guia mais certo para verificar a intuição autêntica é a sensação que acompanha essa impressão.  Se ela for positiva, integradora, harmoniosa, se ela despertar uma certeza interior – você sabe porque sabe, e pronto – se ela traz ideias amorosas e construtivas, então ela deve ser uma intuição legítima, ou seja, um lampejo de Harmonização com Deus.

A intuição, ao contrário do que muitos pensam, não é somente um dom inato, ela pode e deve ser desenvolvida.  Algumas pessoas realmente já nascem com uma intuição acima da média, mas todos podem ter uma intuição razoavelmente desenvolvida.  Posso afirmar que, se todos dessem mais atenção a sua intuição, muitos aborrecimentos e conflitos seriam evitados.  Quantas vezes não nos pegamos com aquele pensamento: “eu sabia que não ia dar certo”.  Ora, se sabia, então por que seguiu adiante?

Como desenvolver a intuição?  Exercitando-a e dando o devido crédito que ela merece.  Não reprimindo-a ou submetendo-a ao juízo implacável da razão.  A razão pode e deve ser muito útil como moderadora da mensagem intuitiva, evitando conclusões fantasiosas ou absurdas, mas ela não pode ser uma tirana, dominando completamente sua mente e afastando tudo o que não seja absolutamente lógico.  Deve-se dar espaço para ideias criativas, diferentes, muitas vezes ali está a solução tão esperada, ou a realidade tão disfarçada. 

Assim, a receita é simples: ouça mais sua intuição, tome às vezes uma atitude irracional, porque simplesmente uma “voz” sussurrou a você que fizesse isso.  Permita-se ser impulsivo em alguns momentos.  Você verá que muitas vezes aquela “voz” era uma ilusão de sua cabeça, no início esses erros de avaliação são muito frequentes, fazem parte da caminhada, mas em outros momentos ela estará muito correta, e você será grandemente beneficiado por seus conselhos. 

Com o tempo você identificará melhor a “voz” legítima, e poderá ter mais “intimidade” com ela – essa “voz da consciência” está ali, sempre alerta, para ajudar você em qualquer situação, desde que você permita.  Uma indicação que pode ajudar é que normalmente a “voz” autêntica é baixa, suave e amorosa, e a “voz” ilusória muitas vezes grita, enfática, uma “certeza” que vem do egoísmo.  Esse é o exercício importante, dar ouvidos ao seu Eu interior, e então distinguir o que é harmonizado do que não é.

Quanto à inspiração, não me alongarei muito, pois é um tipo de harmonização muito famoso, servindo de fonte inesgotável de criatividade para artistas em geral.  Basta apreciar as incríveis obras que o gênio humano foi capaz de produzir, muitas vezes com recursos escassos e primitivos, para se convencer de que há uma “Inteligência Superior” por trás dessas criações.  Como foi criada a Nona Sinfonia de Beethoven?  E a Pietá de Michelângelo?  E os Girassóis de Van Gogh?  E o Hamlet de Sheakespeare?  E a lâmpada elétrica por Edison?  E a máquina a vapor por Watt?  E a imprensa por Gutemberg?  E a Divina Comédia de Dante?  E as pirâmides do Egito?  E o Empire State?  E o Palácio de Versalhes?  E o Taj Mahal?

Inúmeros outros exemplos de criações do gênio humano poderiam ser citadas, para fazer-nos perceber que, em muitos momentos, os seres humanos conseguem se aproximar da harmonia, do equilíbrio, da beleza que estão na essência do Amor Divino.  Posso falar, sem nenhuma licença poética, que essas e muitas outras obras foram divinamente inspiradas.  Ou seja, conforme a visão mística, essas obras foram criadas por seus autores, individual ou coletivamente, com a direta influência do Amor Divino, em algum grau.  Esses autores, de alguma forma (a forma varia com a cultura dominante em cada local e época), conseguiram um grau de harmonização com Deus que lhes permitiu ter a inspiração para realizar suas obras – que são um dos maiores tesouros da humanidade, sem dúvida.

Agora, o que falta dizer sobre a inspiração é que não é necessário ser um desses gênios da humanidade para realizar obras inspiradas.  Qualquer pessoa, na realização de seu trabalho diário, mesmo que seja um trabalho doméstico, braçal, rotineiro, desvalorizado perante a sociedade, pode e deve buscar inspiração divina.  Um dos grandes meios de se avançar na senda mística, na direção da Reintegração Divina, é exatamente por meio do trabalho, do serviço bem feito, realizado com amor, ou seja, harmonizado com o Amor Divino. 

Podemos chamar esse trabalho inspirado de “sagrado ofício”, ou ainda “sacro ofício”.  Infelizmente, essa expressão foi sendo deturpada com o tempo a ponto de se transformar na palavra “sacrifício”, que tem sentido oposto ao original.  Não se trata de fazer um trabalho que não se gosta, porque é “sua missão”, ou é necessário para se avançar no caminho místico.  Existem várias correntes místicas que exaltam o trabalho com sofrimento, a negação dos prazeres, como forma de se “purificar” e avançar na senda.

Mas existem outras correntes místicas que defendem que o trabalho inspirado pouco tem de sofrimento, pelo contrário, é um trabalho feito com facilidade, com harmonia, com uma sensação de que você está fazendo o que gosta, o que deve ser feito, que você está dando o seu melhor e o resultado vai ser muito bom. 

Claro que há a fadiga, nosso corpo tem energias que devem ser repostas periodicamente, e às vezes é necessário atingir ou mesmo forçar um pouco os limites físicos, mas isso só se justifica em momentos específicos, nunca deve ser uma rotina.  O trabalho realmente inspirado pode ser até penoso ou fatigante, mas nunca sacrificante, pois a alegria da realização e a harmonia da mente podem superar amplamente os desconfortos provenientes do esforço físico ou mental.  Mas, de forma geral, o trabalho deve ter um ritmo que permita a cada um refletir, avaliar o que está fazendo e buscar sempre se harmonizar mais e mais.

Assim, podemos e devemos buscar a inspiração do Amor Divino em tudo o que fazemos, mesmo em tarefas rotineiras, que muitas vezes executamos no automático.  Para isso, é necessário que nós demos mais valor à nossa presença, a cada momento, nesse mundo, e que busquemos essa consciência alerta a cada instante, percebendo a alegria e o privilégio de estar vivo e poder realizar obras cada vez mais inspiradas.  A meditação é uma ótima ferramenta para se chegar a esse objetivo. 

Em relação à iluminação, trata-se de um processo muito mais abrangente e complexo, e muito mais difícil de se descrever.  Na realidade, quem já alcançou a iluminação somente pode dar alguns lampejos sobre o processo, sem descrever de forma objetiva e detalhada como ocorre a iluminação, nem como se chega lá.  Existem vários caminhos e ferramentas para facilitar o processo, mas este é absolutamente individual, devendo ser trilhado por cada pessoa, conforme sua história e suas características peculiares.

O que posso afirmar, sem experiência própria, somente com base em leituras, intuições e revelações esparsas ocorridas em meditações, que um iluminado é um ser que vive permanentemente em Harmonização com Deus, ou seja, seu estado de consciência é sempre perfeitamente conectado ao Amor Divino.

E como descrever essa conexão?  Eis uma tarefa ingrata, somente posso dar vagas ideias a respeito.  Posso dizer, baseado em leituras e lampejos de experiências curtas, que trata-se de um estado de arrebatamento, em que sentimos nosso ser por completo – coração e mente, emoção e razão – com uma sensação de total harmonia e bem estar. 

É como se estivéssemos sentindo um amor fraternal, terno, como o amor por um filho, em momento de harmonia, mas direcionado a tudo o que existe, ao mundo inteiro.  Como se estivéssemos aceitando, compreendendo, amando tudo e todos, em estado de profunda gratidão simplesmente por existirmos, por fazermos parte de um todo maior perfeitamente harmonioso – Deus e sua criação.

Seria como ter um amor infinito por tudo e todos, como transbordar de felicidade, sem preocupações, sem culpas, sem tensões, sem desejos, somente vivendo, em perfeita paz interior, somente existindo, junto com todos e com Deus.  Acredito que essa é uma descrição muito pobre, certamente uma forma mais poética de descrever seria mais próxima ao verdadeiro sentido da experiência.

Devo acrescentar que, para se atingir a iluminação, é necessária uma preparação prévia, um “trabalho místico”, mas que é ilusão pensar que a iluminação vem a ser um “fruto” desse trabalho.  A iluminação não é algo a ser conseguido com esforço, conquistado a duras penas, nada disso.  Trata-se simplesmente de uma harmonização permanente com uma energia – o Amor Divino – que permeia todo o nosso universo, estando presente aqui, agora, enquanto você lê esse texto.

Assim, o “trabalho” para se chegar à condição de ser um iluminado não é um “esforço para se conquistar algo que não se tem”, sendo muito mais uma “sintonia com o que já temos de melhor”.  No fundo, todos temos os requisitos necessários e suficientes para a iluminação dentro de nós, em nossa essência, basta ter consciência disso – aí “cai a ficha” e podemos nos iluminar.

Posso dizer também que a iluminação é o maior e melhor prazer que um ser consciente pode ter, um prazer tranquilo, harmônico, infinito, que preenche todo o nosso ser e nos deixa totalmente satisfeitos.  Os desejos desaparecem, as carências não existem, é como se você fosse uno com todos e com Deus – e na realidade mais sutil você realmente é.

Vale a pena ler textos místicos, textos que descrevem êxtases, visões, impressões, percepções que já ocorreram a diversas pessoas em experiências desse tipo ao longo da História.  Existem muitos autores inspirados por aí, aconselho a todos que busquem esses textos, que podem ser realmente preciosos em sua caminhada. 

Nem preciso indicar autores, basta passear pela internet, hoje tais preciosidades estão muito mais acessíveis.  Provavelmente vocês terão ótimas surpresas, a quantidade de pessoas que têm algo positivo a dizer sobre iluminação é muito maior do que parece – não há necessidade de ser um avatar, um místico muito avançado para se escrever de forma inspirada sobre harmonia com Deus, basta ter uma experiência limitada, um vislumbre, para se ter uma boa ideia e descrever a experiência de forma útil a todos.




E como alcançar a iluminação?  Como avançar nessa caminhada, desejo de todo buscador sincero?

Infelizmente, não há como dar uma fórmula, uma receita, de como se experimentar esse momento tão especial, até porque sei que ainda não consegui chegar nesse estágio – todas as experiências limitadas de harmonização mística que já tive, em minha opinião, foram meros vislumbres do que ainda vem por aí, da verdadeira iluminação.  Como já dito, a iluminação vem a ser nosso destino místico, uma etapa fundamental na Reintegração Divina, e todos deverão passar por ela, em tempo mais ou menos distante, nessa vida ou em uma próxima.

Por outro lado, tal experiência é pessoal e intransferível, ela não pode ser diretamente ensinada, não há um procedimento padrão a ser seguido, não é replicável objetivamente, ou seja, não é algo que possa ser sistematizado de maneira científica.  Trata-se de uma vivência que tem muitos pré-requisitos, sendo o principal deles uma imensa dose de amor no coração, um amor puro, sem interferências de emoções dissonantes, um amor impessoal, dirigido a tudo, à vida em si, ao universo, à humanidade, a si próprio, a Deus.

Mas posso dar algumas dicas, alguns passos que podem e devem ser seguidos e que certamente ajudarão a se alcançar esse nobre objetivo.

Em primeiro lugar, as ferramentas mais básicas de um místico: oração e meditação.  Elas devem ser praticadas regularmente, se possível diariamente, pois representam um momento de recolhimento interior e de contato mais consciente com Deus.  A oração representa um aspecto mais ativo desse contato, sendo o momento de expressão de seu Eu perante Deus e a meditação representa um aspecto mais passivo desse contato, sendo o momento de harmonização passiva, com eventuais intuições e inspirações.

Somente a repetição das práticas místicas pode levar à iluminação.  Esse vem a ser um processo lento, com esforço e disciplina, por dias, meses, anos a fio, para que se atinjam resultados relevantes.  Muitos místicos comparam esse processo com um trabalho manual demorado, por exemplo o polimento de um cristal, que deve ser feito paulatinamente, com cuidado, até que este esteja perfeitamente brilhante, sem impurezas ou imperfeições aparentes.  Outros comparam com o processo alquímico, em que se realizam experimentos repetitivos, por anos a fio, com uma substância básica, a matéria prima, a fim de transmutá-la em uma substância nobre, o ouro.

Na realidade, paralelamente à oração e meditação e demais práticas místicas, as vivências do místico são preciosas nesse processo, pois permitem expor, na prática, os pontos de melhoria, os assuntos que necessitam de um “polimento”, ou seja, de um trabalho específico de conscientização, de mudança de preconceitos, atitudes e hábitos, para que se possa evoluir nesse processo.

Desta forma, toda a vida de um místico consciente passa a servir a esse propósito maior, tudo se passa como se ele estivesse em uma gigantesca “sessão de terapia”, que envolve todas as suas vivências, com o objetivo de “curá-lo” de seus aspectos dissonantes, ou seja, dos pensamentos, vontades e atitudes que não são compatíveis com o Amor Divino.  E a oração e a meditação cumprem um papel fundamental nesse processo maior: o de trazer à consciência, o tempo inteiro, o “plano geral” e seu andamento efetivo.

À medida que ele vai avançando no caminho, experiências místicas começam a ocorrer, ou seja, ele vai vivenciando situações de harmonização limitada com Deus.  Como “harmonização limitada” entendo períodos limitados (normalmente curtos) de imenso bem estar, em determinado aspecto da vida do místico.  Tais experiências são fundamentais, para manterem a motivação do místico em prosseguir, mesmo diante das inevitáveis dificuldades, e para dar uma ideia do que vem adiante, dando uma orientação segura de que se está no caminho certo.

No início da caminhada, essas experiências tendem a ser curtas e involuntárias, ou seja, o místico não tem nenhum domínio sobre quando e como elas ocorrem.  Com o tempo, essas experiências vão se tornando cada vez mais frequentes, intensas e duradouras, sob o comando cada vez mais consciente do místico, que passa a determinar o local, horário e condição de sua ocorrência, até que se chega ao ponto da iluminação, que  vem a ser a Harmonização permanente com Deus, no nosso nível de consciência.

Existem outras ferramentas místicas muito úteis para um místico nesse processo e busca da iluminação são:

a)      Iniciação: ferramenta extremamente útil, por propiciar ao místico um contato muito especial com energias de vibrações muito sutis, em um ambiente específico, num contexto racional e emocionalmente favorável.  A iniciação pode ser um poderoso “atalho” na caminhada mística, sendo muito utilizada por diversas organizações místicas, ditas “iniciáticas”.  È uma prática em geral coletiva, ou seja, realizada no seio de uma organização mística, mas é possível haver “autoiniciações”, em que o místico tem uma experiência similar à iniciação sozinho, acompanhado somente de sua essência e de “presenças espirituais”, que são as energias mais sutis com as quais ele tem contato naquele momento.

b)      Serviço: ferramenta muito útil, por representar a atitude mística por excelência, aplicável ao dia a dia.  Muitas correntes místicas consideram que somente o serviço possibilita efetivo avanço na caminhada.  Embora não pense de forma tão radical, reconheço que o serviço é uma forma poderosa de se facilitar a caminhada, por propiciar vivências incríveis, possibilitando contato com energias muito harmoniosas.  Porém, para que isso ocorra, há necessidade de que o serviço seja feito com amor, de forma pura e desinteressada – “estou servindo porque sei que é o melhor a fazer, sei que terei a devida compensação”.  Ou seja, não esperar recompensa ou reconhecimento do auxiliado ou de terceiros – não é necessário para quem sabe que, pela Lei da Causa e Efeito, fazer o bem sempre atrai o bem para nós.  E o maior bem que pode vir é a alegria sincera de estar servindo.

c)      Visualização Criativa: ferramenta extremamente poderosa, permite exercer plenamente nosso potencial criativo, em busca de desejos cada vez mais harmonizados com o Amor Divino.  Com a prática, passa-se a ter mais confiança e harmonia em todas as situações da vida, criando as condições mais favoráveis para a evolução pessoal e também coletiva – cada vez mais o buscador passa a visualizar benefícios a outras pessoas ou à própria humanidade.

d)     Bons hábitos de saúde e higiene: são a base para qualquer trabalho, místico ou não.  Nosso corpo físico deve ser bem cuidado, de forma harmoniosa, respeitando-se, de maneira geral, seus limites físicos e mentais.  Deve-se lembrar da lição de Buda, que, em sua busca da Iluminação, experimentou uma vida de miséria e jejum extremo, para ao final perceber que aquele não era o melhor caminho.  Devemos, sem dúvida, disciplinar nosso corpo, buscar transpor certos limites quando necessário e não ser escravos de nossos impulsos materiais.  Porém, devemos também respeitar-nos e termos temperança e equilíbrio interior, oferecendo alimentação, abrigo, repouso e cuidados básicos de higiene a nosso corpo.  Um estado de dor ou desconforto físico ou mental tende a atrapalhar nosso esforço de harmonização, e precisamos de boas energias físicas para caminhar de forma segura e confiante.

e)      Bons pensamentos: esse é um dos maiores desafios: disciplinar a mente.  De forma geral, nossa mente funciona de forma autônoma e meio caótica, com uma série de pensamentos e emoções se sucedendo de forma descontrolada e impulsiva.  O fato é que nossa essência não está ali, e os “ruídos” de nossa mente atrapalham muito a conexão necessária com nosso Eu Superior.  Na realidade, são barreiras criadas por nosso ego, em sua ânsia por sobreviver a qualquer custo, com o máximo de poder sobre nosso livre-arbítrio.  Não de deve deixar dominar por essa montanha de “lixo mental”.  Mas como fazer isso?  Devo detalhar melhor esse ponto em outro post, mas posso dizer que a meditação é a melhor ferramenta disponível para disciplinar nossa mente, e nos dar o domínio necessário para que possamos cultivar os nos pensamentos tão importantes em nossa caminhada.

Além dessas ferramentas básicas, existem muitas iniciativas que podem ser tomadas para se facilitar a caminhada mística.  Na realidade, podemos buscar ativamente maior harmonização com Deus em todos os aspectos de nossa vida, e há praticamente infinitas formas de se fazer isso, basta agir com amor e inspiração.

Para fechar o texto, devo somente falar de alguns aspectos que devem prevalecer na atitude do buscador – na realidade, a atitude, a intenção, o sentimento dominante são mas relevantes que o resultado da ação em si, pois uma intenção pura atrai energias mais sutis, e contribui de forma mais efetiva para a Harmonização.  Seguem os aspectos mais relevantes:

- Disciplina: esse aspecto é essencial, não só para a harmonização com Deus, como para qualquer objetivo em nossa vida, se não buscarmos ativamente, direcionando nossas energias da melhor forma e dando o melhor de si, dificilmente conseguiremos algo relevante.  A harmonização exige um trabalho interior de transmutação de energias (pensamentos e emoções) dissonantes, o que exige persistência e esforço – até que você consegue se harmonizar, e tudo se ajeita naturalmente.  Nesse momento, a disciplina passa a ser algo natural, mas, até se chegar a esse ponto, há que se fazer muito esforço sim.

- Humildade: também muito importante nesse esforço é sempre manter a consciência de que você está ali para buscar amar cada vez mais e se harmonizar com o mundo à sua volta, sem cair na ilusão básica do ego, de se achar alguém “especial” por ter uma “visão diferenciada”.  Sabemos que somos todos muito especiais, todos sem exceção, pois temos em nós a centelha divina.  Assim, não é porque alguns têm mais consciência que eles são melhores ou dignos de algum privilégio.  Todas as pessoas fazem parte da grande Unidade, em essência, é sempre bom frisar.

- Integridade/Honestidade: para termos sucesso na caminhada devemos sempre estar coerentes e íntegros com nossos pensamentos, palavras e ações.  Não adianta fazer discursos inspirados se eles não são reflexos de seus pensamentos e emoções íntimas, nem têm correspondência com suas atitudes.  Pensar uma coisa, falar outra “para agradar” e fazer outra “por ser mais conveniente” dificulta imensamente a tomada de consciência integral necessária à Harmonização.  Devemos assumir nossas falhas, nossas limitações, pois só assim poderemos transmutá-las e realizar a alquimia interior.

Em suma, tão importante quanto realizar a caminhada com as ferramentas disponíveis é estar sempre atento às motivações íntimas, a nossas emoções e pensamentos que surgem, mesmo que dissonantes, para que possamos sempre cultivar as virtudes, pois só assim poderemos efetivamente avançar na caminhada.

Desejo então a todos que se comprometam de verdade nesse esforço, para se harmonizar cada vez mais com Deus e com si mesmo.  Normalmente é um esforço longo, de uma vida inteira ou ainda mais, que vale a pena, posso falar por experiência própria.  Que sejam muito felizes na caminhada, e consigam brevemente alcançar a iluminação!  Acredito realmente que todos chegaremos lá um dia!

Saudações fraternas.

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