terça-feira, 10 de setembro de 2013

A Criação do Mundo - Aspectos Básicos



Saudações a todos,

Agora devo falar de outro tema que também é aparentemente muito distante de nosso dia a dia, mas que na realidade interfere diretamente em nossas ações, e em especial nas consequências de nossas ações: a criação do mundo.

Esse é um tema que sempre fascinou as pessoas desde a antiguidade, tendo sido criados inúmeros mitos para tentar responder à pergunta: como tudo começou?  Ouso dizer que não há nenhuma crença religiosa que não tenha elaborado um mito de criação, e isso ocorre por um motivo muito simples; a criação do mundo é o ponto de partida para entendermos o funcionamento do mundo.

Desenvolvendo melhor essa ideia, a concepção mítica da criação do mundo busca explicar como o mundo funciona atualmente a partir de uma história de sua origem, que normalmente é assim: um ente criador executou algumas ações, interagiu com algumas criaturas, em especial o homem (ou animais ou outros seres mais fantásticos), e então o mundo se tornou do jeito que é hoje.

Sendo assim, o mito da criação busca explicar não só como tudo começou, mas uma série de dúvidas que o homem sempre teve a respeito do nosso universo sensível: por que existe o dia e a noite?  Por que há as estações do ano?  Por que o clima é tão variável?  Por que a sobrevivência é tão difícil?  Por que tanta injustiça e imperfeição visíveis, se o ente criador é supostamente perfeito?  E por aí vai.

A ciência moderna tem uma visão bastante diferente, mas sua investigação segue o mesmo princípio básico: tentar entender como o mundo começou para entender melhor seu funcionamento – a grande diferença é que a ciência tem uma perspectiva puramente material, das interações físicas que se estabeleceram no universo, sem considerar fatores humanos e comportamentais no processo – a criação do mundo é estudada somente pela física.

A teoria científica mais aceita para o início do universo é a do Big Bang, que postula que o Universo, no início, era infinitamente pequeno e, após uma explosão, foi liberada a energia primordial, que possibilitou a expansão e a formação do universo físico como ele é hoje.  É interessante notar que o Zohar, um texto místico cabalista de alguns séculos atrás, descreve essencialmente o mesmo processo de criação do mundo.

A visão mística não considera o aspecto físico do universo desacoplado do aspecto humano.  Pelo contrário, ela desenvolve uma visão holística do universo, em que tudo está interconectado de alguma forma – tal visão baseia-se, naturalmente, no princípio da Unidade Cósmica, já descrito em outro post.  Assim, a criação do mundo e a criação do homem seriam partes do mesmo processo dinâmico de criação.

Existe, ainda, outro aspecto muito interessante na visão mística do Universo, que é o princípio da Analogia.  Por esse princípio, existem diversos “níveis energéticos” no universo, ou seja, diversos planos de existência, e existem leis fundamentais universais, que regem todos os níveis de forma análoga.  Deve-se também acrescentar que existe um atributo que distingue cada “nível energético”, dando uma base de comparação a eles.   Podemos chamar esse atributo básico de “frequência energética”, que define os planos mais “sutis” (os de frequência mais alta) e os mais “densos” (os de frequência mais baixa).  Essa é uma das formas de conceituar esses “níveis energéticos”, que estou escolhendo por ser a que acho mais simples, e que preserva a essência da questão.

Em um post anterior, já havia falado do plano transcendente, ou seja, o plano de existência que está além dos nossos sentidos físicos, mas agora devo acrescentar que este plano transcendente não compreende um único “nível energético”, e sim vários, cada um mais sutil que o outro, ou seja, cada nível mais distante do nosso plano sensível de existência, que vem a ser o “nível energético” mais denso que conhecemos.  E o mais sutil, por sua vez, se identificaria com Deus.  Para sermos mais precisos, devemos acrescentar que são na realidade infinitos níveis, e Deus se situaria no “último” deles – difícil imaginar isso, não é mesmo?

O princípio da Analogia é ilustrado pela mais famosa frase da Tábua da Esperalda, texto místico medieval: “O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo”.  Esta frase, uma das mais citadas em textos místicos, resume muito bem e ilustra a importância dada a este princípio na visão mística. 



Deve-se lembrar que esse princípio da Analogia é místico e, como tal, não é resultado de deduções racionais, e sim da intuição como fonte de conhecimento.  Porém, assumindo-se a validade desse princípio, facilmente pode-se deduzir que, se no universo físico existem energias de diversas frequências, com diversos efeitos sobre o ambiente, também existirá uma grande variedade de energias no plano transcendente.  Pode-se notar então como esse princípio é um poderoso instrumento de investigação do plano transcendente – basta observar atentamente o mundo à nossa volta, e teremos uma ideia essencial de como é esse “outro plano”.

E porque estou discorrendo sobre esses “planos de existência”?  Para ilustrar melhor como se deu a criação do mundo na visão mística.  Vamos a um raciocínio simples: se Deus está situado em um nível energético “infinitamente distante” de nosso mundo sensível (e de nós, por consequência), existindo uma infinidade de níveis intermediários, como ele poderia criar nosso mundo?  Naturalmente, criando sucessivamente níveis energéticos cada vez mais próximos de nosso mundo atual, em um processo de “densificação” do universo.

Como consequência natural dessa ideia, vem o fato de que Deus, antes de fazer o universo, pensou-o, ou seja, fez um projeto de mundo, e esse projeto encontra-se registrado no plano transcendente, com suas leis fundamentais.  Por isso, muitas tradições místicas chamam Deus de “O Grande Arquiteto do Universo”, por essa característica da criação.  Na realidade, foram feitos projetos sucessivos de mundo, cada um mais próximo do universo sensível, até surgir o universo como o conhecemos.

E por que falei sobre o princípio da Analogia?  Para ilustrar que, no processo de criação, as mesmas leis fundamentais valem para todos os níveis energéticos, incluindo nosso universo sensível.  E a lei mais importante e dominante de todo esse processo é a Lei do Amor, que consiste no atributo ativo de Deus – em outras palavras, Amor é Deus em ação.  Note-se que eu grafei Amor, em maiúsculas, para designar um Amor Divino, mais sutil e sublime que o amor que o ser humano pode experimentar – sobre esse ponto, discorrerei em outro post.  Devo notar que Amor não é algo racional – isso pode parecer bem óbvio, mas não custa lembrar.

Assim, podemos afirmar que a criação do mundo foi um processo perfeitamente harmônico e amoroso, em que, a partir de Deus, sucessivos níveis energéticos foram criados obedecendo a um conjunto de leis fundamentais, simples e análogas em todos os níveis, em uma tendência cada vez maior de diversificação de seres e de redução da frequência energética, até chegarmos ao nível mais denso, o nosso universo sensível, incluindo a nós.

Essa concepção essencial da criação está presente em inúmeros mitos de criação, e os diversos textos religiosos sobre esse assunto, se interpretados de forma simbólica e não literal, representam, em linhas gerais, o que está descrito no parágrafo anterior.  É um interessante exercício tentar ler algum texto mítico de criação e meditar sobre ele, certamente alguns desses aspectos vão surgir.  Como sugestão de leitura, tem-se os primeiros versículos do Gênesis, o primeiro livro da Bíblia.

Bem, mas a criação do mundo não parou aí.  Esse esquema básico explica o surgimento da matéria inanimada, na origem de nosso universo físico – é como uma descrição do momento do Big Bang.  Porém, a criação continuou, por ser um processo dinâmico, e deu origem à variedade de seres que percebemos no universo, incluindo o ser humano.  Essa parte da criação será objeto do próximo post.

Saudações fraternas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário