Saudações a todos.
Agora iremos iniciar uma série de sete textos, contendo
explicações mais detalhadas sobre os pensamentos, vontades e ações dissonantes
que são muito frequentes em nossa vida, e que nos afastam do Amor Divino,
atrasando nosso caminho para a Reintegração.
Como já dito no post anterior, os conceitos de “mal” e de “Diabo” podem ser úteis para entendermos melhor esses impulsos dissonantes – podemos imaginar que eles são algo como “tentações do Diabo”, o que pode facilitar nosso entendimento e ação frente a essas questões. Mas com a importante ressalva: esses conceitos de “mal” e “Diabo” não devem ser usados para nos fazer de vítimas de “forças ocultas” externas a nós, pois na realidade essas “forças” têm seu poder outorgado por nós mesmos.
Esses impulsos dissonantes nos acompanham no dia a dia e
fatalmente nos levam a atitudes desequilibradas e desarmônicas, que trazem suas
consequências: os contratempos da vida.
E esses contratempos, dos mais simples aos mais graves, servem como
indicadores de que estamos no rumo errado em algum aspecto mais ou menos
importante de nossa vida – eles são a principal fonte das chamadas “lições de
vida”, tão importantes e preciosas. Esse
processo de aprendizado pelo erro é o mais frequente em nossa vida, sendo chamado
por algumas tradições de “caminho da dor”.
Deve-se ressaltar que esse processo não é o único – existem formas menos
“dolorosas” de se progredir no caminho da Reintegração.
Assim, uma atitude verdadeiramente mística e harmonizada com
o Amor Divino é ser grato a tudo o que lhe ocorre, em especial aos contratempos
– eles contêm as lições que você precisa, naquele exato momento. A gratidão é realmente um sentimento sublime,
e deve ser exercitada o tempo inteiro, em especial nas situações que não nos
favorecem. Essa gratidão tem por
fundamento a confiança nas leis do universo, a fé em Deus – Ele sempre provê o
melhor para nós, a todo momento.
Para podermos lidar melhor com os contratempos da vida, é
importante ter uma ideia mais detalhada das dissonâncias que se desenvolvem em
nosso interior, na nossa relação com o mundo, com as outras pessoas, ou conosco
mesmos. Como é bem óbvio, existem
diversos tipos de dissonâncias, que dão origem a diversos sentimentos, pensamentos
e ações desequilibradas e “negativas”, que trazem consequências
autodestrutivas. Neste e nos próximos
posts, iremos nos dedicar a essa tarefa.
Antes de começar, devo lembrar que o conceito religioso de
“pecado” é muito próximo ao de “impulso dissonante” que exponho em meu
texto. A restrição que tenho àquele
conceito tem origem na forma que as religiões ensinam a lidar com ele,
renegando-o e culpando-se por estar “sob a influência do Diabo”, em uma atitude
de “combate”, de luta interior, que normalmente não é a mais construtiva. Por outro lado, penso que devemos sempre
lembrar o princípio da Unidade Divina, que diz que tudo está em Deus, e tudo
merece ser abençoado, sem condenações, sem culpas.
Assim devemos encarar nossas dissonâncias como partes
integrantes de nós, merecedoras de carinho e atenção, para serem transformadas
em algo melhor, para serem “banhadas no Amor Divino”, de forma a se dissiparem
as “sombras da ignorância”. Essa é a
“Grande Obra” dos místicos, tão citada na Alquimia.
Na realidade, essa transformação interior é o principal
processo que devemos buscar em nossa vida, e o tempo inteiro o mundo nos estimula
a ir em frente, com novos desafios – justamente os contratempos já
citados. Vamos seguir então, nessa
caminhada tão linda da Reintegração Divina!
Devo dizer também que essa série de posts vai abordar cada um dos sete pecados capitais da tradição cristã, e mais outras sete dissonâncias básicas, no total de 14 dissonâncias, sendo duas por post. O tema deste post são as dissonâncias do egoísmo e da separação, tão ligados entre si.
Estou começando pelo egoísmo porque, para mim, ele é “O
Pecado Capital”, ou seja, ele representa a dissonância de onde provêm todas as
outras dissonâncias. E o egoísmo se origina na ilusão mais básica do eu
sensível: a separação de Deus.
Pelo princípio da Unidade, somos todos unos com Deus, e unos
entre si, unos com o universo à nossa volta.
A nossa consciência objetiva não percebe tal união, e isso tem uma razão
de ser: precisamos da ilusão da separação, da individualidade, para podermos
agir de forma efetiva em nosso universo sensível. Na realidade, a individualidade é uma
ferramenta básica para uma vida saudável.
Quem não consegue desenvolver de forma adequada sua personalidade
individual, certamente terá problemas psicológicos sérios.
Esse tema da unidade x individualidade já foi explorado em
outro post, por ora basta dizer que, em nosso processo de amadurecimento e
desenvolvimento de nossa personalidade, a consciência individual é de
fundamental importância, e ela será o ponto de partida para a caminhada
mística, em busca da Reintegração Divina.
Só que a sociedade e a cultura atual supervalorizam a noção de
individualidade, de independência em relação ao resto do mundo, estimulando um
individualismo cada vez mais exacerbado, que traz como consequência um
crescente sentimento de “vazio interior”.
Esse “vazio” ocorre porque a consciência individual não existe
para ser um fim em si mesmo, ela tem por função ser uma orientação, uma
referência no caminho da Reintegração, que inclui a harmonização com o Amor
Divino. E quando ignoramos esse ponto
fundamental nos sentimos sem um norte, sem rumo, sem saber o que fazemos nesse
mundo. Mas quando encontramos o caminho
da Reintegração, quando sentimos o Amor Divino em nosso coração, qualquer
angústia se dissipa, e sentimos uma paz realmente profunda.
Vou fazer uma ressalva aqui, deixando claro que não estou
defendendo o caminho místico como o único que traz felicidade. Se a pessoa se sente feliz em uma outra via
qualquer, por exemplo, se realizando em sua profissão, sendo um esportista, um
artista, um realizador nesse mundo, sem precisar pensar ou ter alguma relação
com Deus, que seja muito feliz! Mas acredito
que, mesmo nesse caso, essa pessoa encontrou uma forma de se harmonizar com o
Amor Divino, somente não tendo consciência disso – mas isso não é relevante, já
que, para a visão mística, o mais importante é mesmo ser feliz.
Devo dizer que a principal característica do Amor Divino é
ser totalmente inclusivo, solidário, gregário, é nos fazer enxergar o outro,
prestar atenção nele, reconhecer suas semelhanças e diferenças conosco e...
amá-lo do jeito que ele é,de qualquer jeito.
Esse é o amor incondicional, tão difícil de se colocar em prática, e tão
necessário ao ser humano.
Pode-se dizer que o egoísmo, então, é a negação dessa
Unidade, é a ilusão primordial de nossa consciência, a de achar que somos
separados, que somos independentes e, que, com isso, existe real conflito,
disputa, competição entre as pessoas. O
egoísta é aquele que desenvolve sua consciência individual e se encanta com
essa consciência, a ponto de considera-la o máximo, o valor supremo, negando a
presença íntima e indissociável de Deus em nós, dando as costas para o Amor
Divino.
Sendo assim, todas as vezes que tenho uma atitude egoísta,
que penso primeiro em mim, que entendo que o outro é meu “inimigo”, que vai me
prejudicar e que tenho que me prevenir e prejudicá-lo antes, todas as vezes que
nego ajuda a quem efetivamente precisa, que maltrato alguém, que minto para
levar vantagem sobre alguém, que exploro a boa vontade de alguém, que contribuo
para preconceitos e discriminações contra alguém, que me envolvo em intrigas e
fofocas contra alguém, que me sinto vítima de alguém, que manipulo os
sentimentos de alguém, que me aproveito de alguma posição de vantagem para meu
próprio proveito, que não faço o que seria esperado de mim em favor da
coletividade, e muitas outras situações desse tipo, em todos esses momentos,
estou com um pensamento egoísta, do tipo: “eu sou assim e o outro é diferente,
é ameaçador, é estranho, não merece ser amado”.
E esse pensamento contém a ilusão máxima da separação.
Porque, em um nível essencial, todos somos um, todos estamos
conectados de forma indelével à Deus, todos estamos aqui nesse mundo com o
mesmo objetivo fundamental: se harmonizar com Deus. Posso afirmar então que todas essas atitudes
acima descritas tem como grande vítima eu mesmo, que certamente sofrerei
consequências naturais dessas atitudes destrutivas – “quem semeia ventos, colhe
tempestades”.
Então, como agir? Como ter uma atitude altruísta sem ser
ingênuo, sem andar por aí rindo à toa e aceitando tudo, sendo o “bonzinho” que
nunca progride ou conquista nada de relevante, por não se opor a nada e a
ninguém. Essa questão é bem complexa,
sendo uma questão fundamental no que chamo de “arte de viver”, mas uma boa
imagem que nos ajuda a entender melhor a correta atitude é a educação de um
filho.
Como agir ao educar seu filho? Deve-se aceitar tudo o que ele faz, confiando
que “somos todos um”, que ele tem a mesma consciência que nós, que a vida vai
ensinar, que temos que “amar incondicionalmente”? Claro que não, os especialistas em educação
já escreveram muitos livros mostrando a importância de dizer não, de dar
limites, de mostrar o certo e o errado, de adverti-los, castigá-los se
necessário. E deixamos de amar nossos
filhos por causa disso? E eles deixam de
nos amar por receberem palavras duras, castigos na hora apropriada? Pelo contrário, quando se educa com amor, os
filhos são eternamente gratos a nós por darmos os limites, que são fundamentais
na formação de suas personalidades.
E assim devemos agir com todas as pessoas no mundo,
amando-as incondicionalmente sim, como filhos, como irmãos, mas dando os limites,
mostrando a elas quando se está feliz ou triste, satisfeito ou não, mostrando
que eles são muito importantes para nós, mas que eu também sou muito
importante, e não devo me anular ou aceitar tudo sem restrições. Afinal, como posso amar alguém se não amo a
mim mesmo?
E esse ponto é muito importante: devemos amar e aceitar
todos como são, a começar por nós mesmos.
Todos temos nossas necessidades básicas, que não são só de comida e
abrigo, não são somente materiais, não estamos nesse mundo somente para
sobreviver. Todos temos direito à
realização, no sentido mais amplo dessa palavra: realização pessoal, afetiva,
profissional, todos temos direito a uma vida digna, com oportunidades para
desenvolvermos nossos talentos naturais, de forma a contribuirmos mais
efetivamente para a Reintegração, para o destino da humanidade.
Assim, a atitude altruísta que proponho aqui não é
simplesmente uma resposta a uma manipulação externa qualquer (tão freqüente),
simplesmente um meio de “limpar a consciência” por eu ter muito e outros terem
tão pouco. Até porque “felicidade” e “realização”
não se medem em números – pode haver pobres com um nível de felicidade muito
maior que ricos. Não é uma questão
puramente material, de distribuir riqueza, mas muito mais uma questão espiritual,
de compartilhar sabedoria, de despertar consciências. Afinal, o que é mais importante, dar o peixe
ou ensinar a pescar?
Em outras palavras, não se trata simplesmente de dar esmolas
aos outros, a esmola é uma das formas menos eficientes de altruísmo. Trata-se sim de amar verdadeiramente os
outros, um amor maduro, de alguém que tem plena consciência do seu valor, que
não busca somente preencher uma carência
- que é comum a todos nós, mas que não pode ser a única motivação -,
alguém que tem plena consciência que somos todos unos em essência, e temos todos
esse valor maravilhoso dentro de nós, somos todos manifestações sensíveis da
divindade, e merecemos o máximo respeito por isso.
Ser altruísta então é respeitar os outros e a si mesmo, é ter relações ricas e profundas, diálogos construtivos, é compartilhar idéias e conhecimentos, é provocar reflexões, é se interessar pelas questões alheias, dar o devido apoio, sem manipulações, é ser um ombro amigo, é ser amigo em todas as horas, e isso vale para todas as ocasiões, em relação a todos os seres do universo, afinal todos somos um, não é mesmo?
Concluindo, ser altruísta é saber que, como somos todos um, em
última análise ninguém poderá te prejudicar e ninguém poderá ser prejudicado
por você, a não ser você mesmo.
Analisando de forma mais profunda, pode-se concluir que ajudar os outros
não é simplesmente uma questão moral – é um ato de sabedoria. Não se ajuda os outros para ganhar uma “recompensa”
depois, essa “recompensa” ocorre no momento em que se ajuda, só não temos
consciência disso
Devo dizer ainda que o grande inimigo do ser humano é a sua
própria ignorância – se todos soubessem como é bom colaborar para um futuro
feliz em comum, todos dedicariam suas melhores energias para esse fim. Eu realmente acredito que estamos evoluindo
em nossas consciências, que estamos dissipando as névoas da ignorância, e que
cada vez mais a humanidade vai agir de forma altruísta. Que assim seja!
Saudações fraternas.
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