quarta-feira, 26 de março de 2014

Solidariedade Mística e Auxílio Espiritual



Saudações a todos.

Vou tratar agora de um tema muito presente na visão mística e nas religiões em geral: a solidariedade.  Sempre vista como uma grande virtude, a solidariedade é a atitude colaborativa gratuita para com as pessoas a nossa volta.  Sempre que ajudamos alguém e tornamos outra pessoa mais feliz ou menos triste, sem expectativa de ganho pessoal, estamos sendo solidários.

Para a visão mística, a solidariedade tem por base o princípio da unidade, que implica em uma visão integrada e altruísta da vida.  Por ela, um dos grandes objetivos de estarmos vivos neste planeta é termos a chance de nos auxiliar mutuamente, em busca do grande objetivo comum: a Reintegração Divina.

A solidariedade comporta diversas dimensões, a saber:
a)      Física ou material: auxílio material ou financeiro a alguém mais necessitado – esmola, doação ou presente.  Pode ser também um auxílio em forma de serviço desinteressado – um mutirão, por exemplo.  Essa é a concepção mais comum de solidariedade, muito comum entre pessoas que não se conhecem.
b)      Emocional: apoio emocional a alguém que esteja aflito ou necessitado.  Pode ser uma palavra amiga na hora certa, um ombro amigo, um ouvido amigo, ou mesmo uma simples presença amiga.  Existem momentos que suscitam naturalmente esse impulso de solidariedade emocional – a perda de alguém querido, uma separação, um acidente, uma doença, em suma, situações em que a pessoa está naturalmente frágil, necessitando de um apoio amigo.  Essa é a solidariedade mais comum entre amigos e familiares.
c)      Racional: orientação a alguém, normalmente em situação de confusão ou indecisão, como por exemplo um dilema.  Pode ser uma simples informação sobre o caminho a seguir para chegar a algum lugar, até auxílios bem mais complexos, como orientações sobre decisões importantes a serem tomadas – que emprego escolher, que imóvel comprar, que escola matricular seu filho, etc. Essa solidariedade é bastante frequente também entre amigos e familiares.

A visão mística considera muito importantes todas essas manifestações de solidariedade – todas as formas de auxílio desinteressado a alguém são válidas e devem ser exercitadas no dia a dia.  Devemos, sempre que possível, aproveitar as oportunidades de ajudar a quem precisa. 

A visão mística considera esses gestos muito benéficos para todos – para quem ajuda e para quem é ajudado.  Isso porque, sempre que você ajuda outra pessoa, de forma desinteressada e altruísta, são gerados sentimentos de gratidão e harmonia entre você e o beneficiado, que são energias sutis que contribuem para a felicidade de ambos.  Essas energias estão harmonizadas com o Amor Divino, e, com isso, é dado mais um passo para a Fraternidade Universal e, em consequência, para a Reintegração Divina de toda a humanidade.

Existem, porém, alguns requisitos básicos para que esse auxílio aos outros seja de fato uma manifestação de solidariedade, do ponto de vista místico:
a)      Desinteresse: esse é o requisito mais importante, e diz respeito a sua real intenção ao ajudar alguém.  Deve-se frisar que a solidariedade deve ser sempre gratuita, ou seja, deve-se dar sem nenhuma expectativa de retorno ou retribuição, nem mesmo uma expectativa de reconhecimento por parte de quem for ajudado – você não deve contar com nada, nem com um “muito obrigado”.  Em outras palavras, caso o auxiliado seja ingrato ou mesmo trate mal a você, não deve haver nenhuma sombra de indignação em você com a atitude dele.
b)      Respeito: outro requisito muito importante, pois tem a ver com a forma como você enxerga a pessoa que você está ajudando.  É muito importante que você considere aquela pessoa como alguém com a mesma dignidade que você, baseado no princípio da unidade – todos são iguais em essência.  Assim, mesmo o mendigo mais humilde tem exatamente a mesma dignidade de você, e merece ser tratado com essa dignidade, como um igual – por mais que ele pareça diferente.  Além disso, deve-se ressaltar que nenhuma ajuda pode ser meritória, em termos místicos, se movida puramente pela pena – o ideal é que você ajude a todos como se fossem amigos seus precisando de ajuda, e não “pobres coitados”, gente “inferior”, que não têm onde “cair morta”.
c)      Anonimato: esse é um requisito não fundamental, mas altamente recomendável, pois aumenta significativamente o mérito do auxílio, do ponto de vista místico.  Conforme a visão mística, o auxílio mais meritório é aquele realizado no mais completo anonimato, em que o auxiliado nem sabe que foi ajudado nem quem foi o seu benfeitor.  A razão para isso é que, neste caso, não há nenhuma vaidade envolvida no auxílio, não há nenhuma intenção de se mostrar “superior” ao outro.  Obviamente nem sempre é possível o total anonimato, mas também não é necessária a ampla divulgação do auxílio – deve-se sempre ter discrição, evitando exposição desnecessária de suas “virtudes” e de sua “generosidade”.  Como exemplo, um auxílio dado por um político em época eleitoral, e amplamente divulgado em sua propaganda, não tem muito mérito, do ponto de vista místico (até porque já fere a condição essencial do desinteresse acima citada).

Esses requisitos podem parecer, a princípio, um tanto rígidos ou exagerados, mas eles são justificados de forma simples, conforme a visão mística, pela Lei do Amor.  Na realidade, um ato de solidariedade, do ponto de vista místico, é um verdadeiro ato de Amor Divino, ou seja, deve ser um ato que se aproxima ao máximo das características desse Amor, colocando-nos em harmonia com essa sublime energia.

Explicando de outra forma, um ato de solidariedade, no sentido místico, deve ser como que uma “imitação” do Amor Divino, ou seja, devemos agir com os outros como entendemos que Deus age conosco, por meio de seu Amor.  E quanto mais conseguirmos chegar perto desse Amor, maior será o mérito, mais estaremos harmonizados e maiores serão nossos progressos na caminhada da Reintegração Divina.

Vamos então pensar um pouco sobre como é o Amor Divino.  Para começar, ele é totalmente gratuito, já que Deus não deseja nada em troca, pois Deus já é completo em si – o que poderíamos dar a Ele que Ele já não tenha?  E o fato é que, pelo princípio da unidade, nós também somos completos em essência, e não precisamos efetivamente de nada para sermos felizes, nem do reconhecimento de ninguém.  Assim, não esperar nada em troca representa uma aproximação com Deus, com nossa essência. 

Na realidade, podemos dizer que o Amor Divino existe para dar, somente para dar, sem o desejo de receber associado, e assim deve ser nosso auxílio também, consciente de que a “recompensa” vem no momento que damos, e não vem das outras pessoas, e sim de nossa própria essência – o que vem dos outros é um acréscimo, que devemos agradecer e valorizar, mas não é essencial à nossa felicidade.

Devemos considerar também que Deus, em sua onisciência, considera a todos com respeito, enxergando a todos da mesma forma, visto que todos temos uma centelha, uma essência divina em nós.  Assim também devemos fazer, não discriminando as pessoas, nem as considerando “inferiores” a nós – devemos nos lembrar sempre do princípio da unidade.

Além disso, podemos notar que poucos seres são tão “anônimos” e tão presentes em nossa vida como Deus.  Em geral, Deus não se manifesta aos nossos sentidos, não fica gritando seus feitos, não realiza “milagres” espetaculares (embora a natureza e a vida em si já sejam um milagre, mas sem esse sentido de espetáculo), não faz propaganda de suas realizações, nada disso é compatível com uma concepção equilibrada de Deus.  Da mesma forma, temos que ter a consciência de que o auxílio em si é ótimo, e devemos ajudar pelo amor aos outros, pelo amor ao ato de ajudar, sem precisar de nenhuma divulgação ou reconhecimento público de nossos feitos.

Não há nenhuma diferença, para Deus, se agradecemos fervorosamente o auxílio que Ele nos deu, fazendo inúmeras orações e penitências, ou se sequer acreditamos que Deus existe ou possa nos ajudar, ou mesmo se acreditamos n’Ele, mas achamos que nossas conquistas são unicamente mérito nosso.

Para Deus, não faz diferença nenhuma se somos gratos ou não, se acreditamos n’Ele ou não, ele vai continuar nos amando do mesmo jeito, e as leis cósmicas vão continuar atuando em nós do mesmo jeito – nada muda no universo por causa de nossa gratidão ou crença, as coisas só mudam em função de nossas atitudes efetivas.  Nossos sentimentos ou crenças são relevantes somente para nós mesmos, pois definem a forma como encaramos a realidade à nossa volta, influindo, em última análise, nas nossas atitudes e no nosso estado de felicidade.

Da mesma forma, se a pessoa ajudada por nós se mostra agressiva ou hostil conosco, se ela não tem gratidão, ou se ela sequer acredita que possamos ou tenhamos ajudado, isso é uma questão relevante somente para ela, não para você, a não ser que você se importe com isso, e fique revoltado com a “ingratidão” alheia, ou com a “injustiça” desse mundo.  Nesse caso, seus sentimentos dissonantes lhe trarão consequências ruins, e não a ingratidão alheia.

Além disso, deve-se ter cuidado também quando a pessoa se mostra realmente grata, para não cair na “armadilha da vaidade”.  Deve-se notar que reagir a uma ofensa de forma equilibrada não é fácil – não revidar, não ficar com raiva, responder de forma construtiva, questionando o porquê da atitude hostil, tudo isso pode ser bem difícil naquele momento.  Por outro lado, reagir de forma equilibrada a um elogio pode ser meio complicado também – não ignorá-lo ou desprezá-lo, mas também não supervaloriza-lo, não deixar que o conteúdo do elogio “suba à cabeça” e deixe você deslumbrado, tudo isso pode ser bem difícil também.

Para evitar toda e qualquer vaidade, só há uma maneira de ajudar: de forma anônima, ou seja, de forma que o auxiliado nem conheça seu benfeitor, afinal, elogios realmente não são necessários para a nossa felicidade.  Se sentimos necessidade de elogios, é porque nosso eu sensível, com sua vaidade, está dominando alguma parte de nossa consciência, ou seja, há algo em nós ainda desarmonizado, ainda necessitando de uma aproximação maior com Deus. 

Um exercício interessante, que pode ser feito a qualquer momento, é uma autoanálise: como reajo a críticas e a elogios?  Ou então, mais relevante ainda: como me sinto no momento em que recebo uma crítica ou um elogio?  Se respondermos honestamente essas perguntas, analisando nossas atitudes e sentimentos, poderemos identificar vários pontos relevantes a serem melhorados.

Em função do que foi exposto, podemos afirmar que têm menos valor místico quaisquer gestos de auxílio e solidariedade que:
- Têm por objetivo principal a obtenção de algum favor em troca.
- Servem para mostrar a “superioridade” do benfeitor sobre os outros, alimentando sua vaidade.
- São objeto de propaganda por parte do benfeitor ou a pedido deste.
- Causam constrangimento ou raiva ao benfeitor caso o auxiliado não mostre gratidão “suficiente”.

Há ainda um parâmetro muito importante, que sempre está presente em gestos de solidariedade, e serve para medir o valor desse gesto em termos místicos: o quanto aquele auxílio custou ao benfeitor, ou seja, o quanto de energia ele teve que dedicar para conseguir realizar o auxílio, ou ainda, o quanto o benfeitor teve que abrir mão de outras coisas para poder ajudar.  Quanto mais custoso o auxílio, relativamente à disponibilidade do benfeitor, maior o mérito místico do auxílio, dentro de limites razoáveis.  Deve-se enfatizar o caráter “relativo” do custo, pois, se o benfeitor é pobre, uma esmola de R$ 10,00 pode ser custosa, e, se ele é rico, uma doação de R$ 1.000,00 pode ser irrelevante.

Assim, um auxílio feito por um telefonema ou clique numa tela de computador, em campanhas do tipo “Criança Esperança”, tem mérito sim, mas levar pessoalmente alimentos e agasalhos a um abrigo de crianças e idosos, e ali ficar um tempo visitando as pessoas, dispondo de seu tempo, dando atenção, interagindo e buscando formas de auxiliar mais efetivamente, isso tem muito mais mérito místico.  Deve-se notar que quando se fala em custo não é só dinheiro, e sim tempo, atenção, esforço, em suma, qualquer energia dispendida para realizar o auxílio.

Deve-se ter cuidado, porém, para evitar exageros.  Uma pessoa que dá gratuitamente tudo o que tem a outra, “mais necessitada” que ela, não é solidária, é insensata.  Deve-se dar sim, mas deve-se também reservar condições de sobrevivência digna, até para poder continuar ajudando outras pessoas no futuro.  Da mesma forma, trabalhar de forma altruísta é muito meritório, mas, como todo trabalho, há a justa medida – trabalhar até a exaustão pelos outros só traz cansaço e doenças, não tendo tanto mérito místico assim.

Outro parâmetro associado ao gesto solidário, ligado ao requisito do respeito, tem a ver com a personalização do auxílio.  Quanto mais adequado às efetivas necessidades do beneficiado, maior o mérito do auxílio.  Assim, um auxílio coletivo, do tipo “ajude os atingidos pelas enchentes”, “mande recursos para os portadores de deficiência” e outras campanhas do tipo têm mérito sim, mas ajudar aquele conhecido seu que está passando por uma necessidade específica, ou falar as palavras adequadas a um amigo seu que esteja angustiado ou deprimido são iniciativas muito mais meritórias, por serem mais adequadas ao caso específico, tendendo a ser muito mais eficazes.

Em outras palavras, quanto mais próximo você estiver da pessoa ajudada, e quanto mais sensibilidade você tiver para ajudar no que aquela pessoa realmente precisa – que nem sempre é exatamente o que ela está pedindo – maior o mérito do seu auxílio.  Mais uma vez, vamos fazer o paralelo com o Amor Divino – ele sempre nos dá o que precisamos, que muitas vezes é algo bem diferente do que pedimos ou queremos.

Deve-se aqui tomar um cuidado muito importante, o de evitar julgamentos da conduta ou das ideias de quem quer que seja.  Nesse momento, temos que reconhecer que não somos Deus para julgar ninguém de forma absoluta – podemos ter intuições e harmonizações, mas nesse quesito não temos como assumir nenhuma identidade com Deus. 

Assim, devemos estar sempre na postura de ajudar, e não na de censurar, ou de achar que sabemos mais que o beneficiado e daí tentar impor auxílios não desejados.  Assim, se quisermos ajudar com algo diferente do que a pessoa está pedindo, o caminho a se seguir é preferencialmente o do convencimento, do consenso, tentando fazer a pessoa refletir se aquilo que ela está pedindo é mesmo o melhor para ela, ou se não haveria alguma outra alternativa.

Naturalmente, se a pessoa está alcoolizada e lhe pede ajuda para comprar mais bebida, é natural que delicadamente procuremos convencê-la a parar de beber e não demos o que ela pede – sem julgá-la, pois todos têm seus motivos para agir do jeito que agem, e não cabe a nós fazer juízo de valor sobre essas motivações.  Mas, tirando alguns casos extremos, sempre é aconselhável se colocar no lugar da pessoa, buscar entendê-la e, em caso de discordância, expor sua opinião, respeitando a decisão final de quem está pedindo auxílio.  Afinal, você não é obrigado a ajudar, e nem ele é obrigado a concordar com você.  Mais uma vez, não custa lembrar, respeito é fundamental.



Depois dessas considerações sobre a solidariedade em geral, devo falar do quarto tipo de auxílio, o espiritual, que é o tipo mais importante, conforme a visão mística.  Devo ressaltar que o auxílio espiritual tem um caráter complementar, ou seja, ele não invalida ou substitui nenhum outro tipo de auxílio – material, emocional ou racional.  O ideal mesmo é realiza-lo em associação com outros tipos de auxílio, para melhorar sua eficácia. 

Assim, conforme a visão mística, devemos realizar regularmente o auxílio espiritual, sem deixar de tomar todas as medidas práticas ao nosso alcance para ajudar os que estiverem necessitados à nossa volta.  Uma coisa não elimina ou atrapalha a outra, muito pelo contrário – ao se praticar regularmente o auxílio espiritual você provavelmente terá mais inspiração para ajudar efetivamente os que estão a sua volta.

Mas em que consiste o auxílio espiritual?  É um auxílio sem contato, ou seja, o benfeitor e o auxiliado não têm nenhum tipo de comunicação durante o auxílio – também é chamado de auxílio à distância.  O auxiliado pode ou não saber que está sendo ajudado pelo benfeitor – como já explicado, quando ele não sabe, há maior mérito para o benfeitor.  Porém, se o auxiliado souber que está sendo ajudado (sem precisar saber quem é o benfeitor), isto pode ser benéfico ao auxílio em si, pois este pode adotar uma postura mais “receptiva” ao auxílio, melhorando seu efeito.

Atualmente, com todas as tecnologias de comunicação disponíveis, em que podemos contatar qualquer pessoa instantaneamente, pode parecer contraproducente fazer um auxílio sem comunicação formal – não seria melhor usar a internet, uma rede social, um Skype, ou pelo menos um celular?  Qual é a vantagem desse tipo de auxílio afinal?  Ele não deveria ser feito somente na impossibilidade de se ter contato com quem está precisando de ajuda – pessoa desaparecida, em lugar remoto, em coma, por exemplo?

A resposta a essas perguntas, conforme a visão mística, é simplesmente não, sendo muito útil o auxílio espiritual, podendo este ser vital em certas situações.  E a explicação é simples: o auxílio espiritual tem um campo de atuação diferente dos auxílios já citados.  Enquanto os auxílios material, emocional e racional têm atuação direta no mundo sensível, o auxílio espiritual se dedica a harmonizar energias em planos energéticos mais sutis.  Em outras palavras, o auxílio espiritual lida com outras energias, que estão relacionadas aos problemas que a pessoa necessitada está passando, mas não se identificam com eles.  Em muitas situações, o auxílio espiritual trabalha diretamente com as causas do problema, em vez de seus efeitos, podendo ser realmente muito efetivo.

Recapitulando o que está descrito em outro post, sobre energias sutis, tem-se que, além do plano sensível de nossa existência, existem outros planos, mais sutis, que se relacionam com o menos sutil de forma orgânica.  No processo de criação em geral (desde a criação do mundo até um projeto humano qualquer), inicialmente é formada uma ideia, um pensamento, que nada mais é que uma energia mais sutil, depois vem a vontade de fazer, o envolvimento emocional com o projeto, que é uma energia um pouco menos sutil, até que ela é expressa em palavras e/ou figuras, terminando na materialização real, que é a energia menos sutil.

Daí pode-se concluir que há um ciclo de energias, em todo processo de criação, dos planos mais sutis para os menos sutis, como uma relação de causa e efeito.  E esse processo normalmente se realimenta, ou seja, um projeto realizado traz inspirações para outros projetos, ou para melhorias naquele projeto, o que inicia novamente o ciclo.

Da mesma forma, quando alguém passa por dificuldades, estas não surgem por acaso ou de repente, como muitos podem pensar.  Elas são, em geral, reflexos de energias sutis dissonantes – raivas, rancores, egoísmos, vaidades, invejas, e muitos outros obstáculos que atrapalham nossa harmonia com o Amor Divino.  E infelizmente, elas também se realimentam com frequência. 

Essas energias sutis, resultado de nossas reações desarmoniosas a eventos da vida, se voltam contra nós, da seguinte forma: elas são propagadas pelos planos sutis e, conforme as alimentemos – pensando nesses assuntos (remoendo rancores), comentando com os outros (reclamações e fofocas), ou mesmo lembrando e revivendo as emoções dissonantes – elas vão ganhando força e se misturando com outras energias similares, até que causem algum desequilíbrio relevante em nós mesmos: mal estar difuso, dor de cabeça, depressão, ansiedade, ou mesmo doenças físicas, relacionadas ou não ao sistema nervoso.

O fato é que as dissonâncias que existem em nós, quando devidamente estimuladas e alimentadas (por nós mesmos no dia a dia, é bom frisar), nos deixam mais vulneráveis a que novas situações ruins venham a ocorrer, e daí continuemos a alimentar essas dissonâncias, em um círculo vicioso.  Esse ciclo necessariamente passa pelos planos mais sutis, e daí vem a relevância do auxílio espiritual.

Podemos dizer então que o auxílio espiritual atua em planos de energias mais sutis, de forma a harmonizá-las com o Amor Divino, o que pode efetivamente trazer benefícios sensíveis ao auxiliado.  Isso ocorre porque esse auxílio pode ser um fator de “quebra” de círculos viciosos, abrindo o coração e a mente do auxiliado para energias mais construtivas, que lhe darão inspiração para agir construtivamente.

De forma geral, o auxílio espiritual não se basta, ou seja, não é suficiente para reverter, por si só, o estado físico, mental ou emocional de alguém, mas pode trazer, com frequência, a inspiração, o conforto, o alento, a harmonia interior necessária para que a própria pessoa perceba as causas mais profundas de seus problemas e daí busque ativamente resolvê-los.  Com isso, nunca se deve recomendar a substituição de qualquer tipo de providência prática ou tratamento médico pelo auxílio espiritual – ele deve ser um complemento, e não uma “panaceia universal”.

Deve-se notar porém, que, muitas vezes, o auxílio espiritual já traz, por si só, melhorias sensíveis ao estado físico de alguém.  Por exemplo, alguém internado com uma doença grave pode subitamente experimentar grande melhoria em seu estado de ânimo, acelerando sua recuperação.  Da mesma forma, esse auxílio pode ser muito eficiente para bebês doentes ou prematuros, ou ainda crianças com doenças graves. 

Isto ocorre porque, quando estamos inconscientes por qualquer motivo – coma, desmaio ou sono – as energias sutis têm trânsito livre por nossa consciência, e podem atuar de forma muito mais eficaz.  Na realidade, devo dizer que todos nós, sadios ou doentes, somos todos os dias imensamente beneficiados por várias energias sutis, quando dormimos – é a hora em que o Amor Divino atua em nossos corações e mentes, atenuando o desgaste natural provocado por emoções e pensamentos dissonantes.  Esse auxílio ocorre sempre, todas as noites, independentemente de nossa vontade ou crença.  Por causa desse “auxílio noturno”, o sono bem dormido é muito reconfortante.

O auxílio espiritual não se trata de milagre, cujos efeitos independem do auxiliado, até porque o grande responsável pela melhoria de saúde ou pela resolução de problemas é o próprio auxiliado.  Somente ele, com seu livre arbítrio, pode se manter receptivo às energias amorosas e, em harmonia com elas, tomar as atitudes necessárias à sua recuperação.  Mesmo que ele não tenha consciência do auxílio, mesmo assim ele pode ter uma atitude esperançosa, otimista e receptiva, ao invés de se autocondenar, ou sentir pena de si próprio, ou perder a esperança, se entregando à imobilidade, que pode ser fatal, em casos extremos.

Bem, depois dessas considerações, devo agora falar sobre como realizar efetivamente esse auxílio espiritual.  Ele tem por base a técnica da visualização criativa, que se baseia na concentração de nossa consciência em uma determinada imagem.  Naturalmente, como todo exercício espiritual, demanda tempo para treinamento e disciplina em sua aplicação.

Essa prática é acessível a qualquer pessoa de boa vontade e disciplinada.  Basta entrar em estado meditativo, relaxando, fechando os olhos e respirando calmamente.  E daí fazer a visualização, imaginando a pessoa em questão sendo auxiliada ou já obtendo a situação desejada, conforme o caso.

Por exemplo, se a pessoa estiver com problemas financeiros, pode-se visualizá-la alegre a feliz em uma bela casa, com uma vida confortável, uma mesa farta.  Se a pessoa estiver doente, pode-se visualizá-la recebendo energias harmoniosas – algo como uma “cachoeira de luz” – e se recuperando, mostrando vitalidade e alegria.  Se o problema for emocional, pode-se visualizá-la recebendo boas energias e ficando mais alegre ou serena.  Em suma, basta usar a criatividade para conceber e visualizar uma situação que seja favorável à pessoa.

Como em toda visualização, devemos buscar o máximo de percepções possíveis – sons, cores, cheiros, texturas, sabores – e, em especial, devemos nos sentir imersos naquela situação, emocionalmente envolvidos, sentindo alegria e amor juntamente com a pessoa auxiliada.

Bem, acho que as indicações acima são suficientes para que alguém possa realizar um auxílio espiritual.  Não há necessidade de nenhuma fórmula especial ou complicada, a essência do auxílio é a boa vontade, o amor no coração.  Com o que foi indicado, uma pessoa dedicada e com boa vontade pode ajudar imensamente muitas outras pessoas em diversas situações. 

Finalmente, vale dizer também que o auxílio espiritual pode ser coletivo também.  Em situações de catástrofes coletivas – acidentes, atentados, guerras, genocídios, crimes graves – pode-se fazer uma visualização coletiva, envolvendo as pessoas atingidas e/ou seus parentes e amigos, para trazer conforto e minimizar o sofrimento coletivo. 

Nesse caso, é bem óbvio que sua energia se somará à de várias outras pessoas de boa vontade que estarão fazendo suas orações ou seus experimentos de auxílio, o que aumenta imensamente a eficácia desse auxílio.  Tudo ocorre como se houvesse uma rede de energias positivas que vem acudir as vítimas daquela catástrofe – e efetivamente, essa rede existe, para todos os efeitos práticos, e tem o efeito de multiplicar os esforços individuais, em harmonia com o Amor Divino.

Um auxílio coletivo em escala global é a visualização do planeta Terra por inteiro, passando boas energias para ele – paz, saúde, harmonia universal – para que nosso mundo esteja cada vez mais equilibrado e harmonioso, apesar de tantas iniciativas dissonantes advindas da espécie humana – a única que tem a liberdade de ter esse tipo de iniciativa. 

Devemos sempre manter a confiança no Amor Divino, e a esperança de que a humanidade será cada vez mais receptiva a energias harmoniosas, e cada vez mais próxima de Deus – afinal, esse é o seu destino final, pela visão mística.

Para fechar esse texto, somente um desejo sincero: paz, amor, saúde, harmonia e boas vibrações para todos vocês, agora e sempre!  Que vocês estejam receptivos às boas energias, e que também busquem ajudar, na medida do possível.  Quando a gente ajuda uma pessoa, se harmoniza um pouco mais com Deus.

Saudações fraternas.



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