terça-feira, 15 de abril de 2014

Oração e Meditação


Saudações a todos.

Depois de citar em vários posts passados a relevância da oração e da meditação na vida de um buscador místico, chegou a hora de detalhar melhor em que consistem essas duas práticas, que são efetivamente fundamentais na vida de um místico, além de ressaltar o que elas têm de semelhante e de diferente entre si.

Trata-se de duas formas de comunicação com Deus, ou com o nosso próprio eu interior – conforme a visão mística, como todos temos Deus em nosso interior, é indiferente pensar de uma ou de outra forma. 

Ambas têm as seguintes características em comum:
- Subjetividade – são eventos estritamente particulares, individuais, pois, embora possam ser realizados em grupos, as percepções envolvidas e os efeitos das práticas são individuais.
- Uso da mente – ambas as atividades são essencialmente mentais, de formas diferentes – a oração é mais ativa e a meditação é mais passiva.  Ambas usam diversas faculdades de nossa mente – em especial, memória e imaginação.
- Concentração – ambas as formas exigem algum grau de concentração, ou seja, não é possível orar ou meditar de forma efetiva se não se está com a atenção focada para o ato em si.
- Acessibilidade – ambas as atividades são perfeitamente acessíveis a qualquer pessoa que tenha a consciência minimamente ativa e lúcida, em qualquer lugar, a qualquer momento – nem a saúde física é indispensável, pois o único requisito indispensável para essas atividades é que a pessoa esteja consciente naquele momento.  Assim, tirando os momentos de sono e de perda de consciência, pode-se orar ou meditar à vontade.

Como já descrito, ambas as atividades exigem um grau de concentração mínimo para serem bem realizadas.  Por isso, muitos preferem executar suas orações e meditações em grupo, em um ambiente apropriado, com iluminação e música harmoniosa, no meio de uma comunidade dedicada a isso, ou seja, cercada de diversos fatores que favorecem a concentração de cada membro.  Mas tais requisitos não são realmente necessários.  Pode-se orar ou meditar sozinho, em qualquer situação, mesmo em locais públicos, barulhentos, caóticos, tudo depende do quanto a pessoa consegue se abstrair do ambiente a sua volta e se concentrar na atividade.

Naturalmente, embora qualquer um possa orar ou meditar em qualquer lugar, a qualquer hora, existem alguns locais e momentos mais favoráveis para essas atividades:
- Ao acordar ou antes de dormir – nesses momentos, nossa consciência passa por um estágio intermediário, entre o sono e a vigília, que é muito importante para a visão mística – nesse momento, pode-se fazer experimentos místicos realmente eficazes, pois há um acesso facilitado ao nosso subconsciente.  Assim, orações e meditações realizadas nessas horas podem ser muito eficazes e contribuir imensamente para nosso equilíbrio interior.
- Em local tranquilo ou reservado – pode ser dentro de casa, em um quarto a parte, ou num canto em seu próprio quarto, pode ser ao ar livre, em um recanto agradável e tranquilo, num momento em que não haja quase ninguém ali – praia ao amanhecer, floresta, cachoeira, alto de um monte, gruta, são somente alguns exemplos.  Quanto mais tranquilo se puder ficar, melhor.
- Em um ambiente favorável – deve-se evitar orações ou meditações quando se está sentindo frio ou calor, ou tendo que se proteger de chuvas e trovões, ou em locais com barulho excessivo ou dissonante – as condições físicas do ambiente devem ser as mais confortáveis possíveis, para que sua atenção esteja inteiramente focada na atividade mística.
- Em boas condições de saúde – é muito mais difícil orar ou meditar sem estar se sentindo bem – com dores no corpo, indisposição, febre, dores de cabeça, aborrecimentos, ressentimentos, em suma, qualquer fator que esteja exigindo sua atenção imediata.  Deve-se notar, porém, que, frequentemente, uma oração ou meditação realizada por alguém com alguma dessas enfermidades pode colaborar para o alívio de seus sintomas.
- Com a colaboração dos demais – se você mora com outras pessoas, estas devem entender e respeitar seus momentos de oração e meditação, pois é muito desagradável ter que interromper a atividade no meio porque alguém está chamando ou solicitando você para algum assunto, que normalmente pode esperar.  Esse ponto deve ser tratado com os demais de forma tranquila e firme – afinal, o que é mais importante para os que gostam de você do que a sua felicidade?

Resumindo, as práticas da oração e da meditação são favorecidas nas condições acima descritas, mas podem ser realizadas na ausência de qualquer uma delas (ou mesmo de todas elas) – como já escrevi acima, basta a pessoa estar minimamente consciente para poder orar ou meditar.

Agora vou tratar da oração, a forma mais popular de atividade mística.  A oração consiste em um monólogo que o orador recita, com a confiança (ou fé) de que Deus está escutando, e que pode ter diversas finalidades:
- Louvor – tem por objetivo buscar um contato mais afetivo com Deus, exaltando o sentimento de amor por Ele, por meio de diversos atributos divinos maravilhosos – é como que um reconhecimento afetivo de Deus.
- Declaração (ou profissão de fé) – tem por objetivo buscar uma compreensão mais racional dos aspectos de Deus, afirmando diversos princípios a Ele associados – é como que um reconhecimento racional de Deus.
- Agradecimento – tem por objetivo agradecer algo de positivo que tenha ocorrido em sua vida, ou mesmo a própria existência – agradecimento difuso.  Trata-se da oração reativa a uma ação divina.
- Petição – tem por objetivo solicitar graças ou favores a Deus, especialmente quando o próprio orador ou alguém querido a ele está passando por momentos de dificuldade.  Pode-se realizar também a petição coletiva, para toda a humanidade – por exemplo, orar pela paz mundial.  Trata-se da oração ativa, buscando uma reação divina.

A oração envolve uma postura mental ativa do orador, em que ele recita seu monólogo, obedecendo a uma fórmula preestabelecida ou não – pode haver orações de improviso, por exemplo –, mas sempre com uma finalidade definida, buscando algum efeito específico.  Trata-se de um contato “ativo” com Deus.  Mesmo no caso da chamada oração “reativa”, a iniciativa cabe sempre ao orador, ele é que vai agradecer, em função do que acredita ser positivo para si.

No caso da petição, que provavelmente é o tipo mais comum de oração, o orador tem plena confiança de que sua oração tem algum poder de influencia sobre o que ocorre no mundo.  A concepção mais frequente é que Deus reage de alguma forma ao ato da oração, na forma mais justa e harmoniosa, de forma a melhorar a situação dos que estejam necessitando – pode ser “mandando” alguém para ajudar, ou uma energia que o tranquilize e o ajude a sair de sua aflição, ou de outra forma mais ou menos “milagrosa”.

Essa concepção mais popular entre os religiosos é compartilhada, com algumas restrições, pela visão mística.  Para esta, é sim possível haver efetivo auxílio a si próprio ou a outros por meio da oração, porém existem métodos mais apropriados e eficazes – a visualização criativa, por exemplo, já descrita em um post sobre esse assunto. 

Devo ressaltar que a visão mística não apoia uma prática muito frequente nas orações de petição, que é a de “negociar” auxílios com Deus, ou seja, de prometer retribuições a Deus se o objetivo pedido (a “graça”) for alcançado.  Ocorre que, pela visão mística, as coisas ocorrem por leis impessoais, não existindo esse tipo de relação pessoal tão “humana” entre o orador e Deus.  Sendo assim, não há sentido em se fazer negociações com Deus, pois Ele, sendo onisciente, sabe tudo o que for necessário para verificar o merecimento de quem está pedindo. 

Não há sentido em falar que Deus ficará com “pena” de você, ou “ouvirá” melhor se você insistir muito, ou mesmo se orar em altos brados.  Nada disso faz sentido em uma concepção mística de Deus – mesmo na concepção de Deus Pessoal, este tem sua natureza em outro plano, mais sutil, onde tem acesso a tudo o que precisa para pesar o mérito de cada orador, e saber se este é mesmo merecedor do que pede, sem que este precise “impressionar” Deus por meio de promessas grandiosas ou atos dramáticos.

Assim, Deus sempre reage à sua oração sim (como reage a todo e qualquer pensamento, palavra ou atitude de sua parte), mas por meio de leis impessoais, sendo o mais relevante para o orador:
- seu mérito – tudo o que realizou até aquele momento para fazer jus ao pedido; e
- sua intenção real ao solicitar – deve ser algo harmonizado com o Amor Divino, ou seja, algo que traga o bem para si e para os outros. 
Tendo esses dois requisitos, pode ser feita uma ótima oração, o resto é acessório.

Conforme a visão mística, a oração é muito mais apropriada para desenvolver um diálogo interno “produtivo” com Deus, ou seja, para as duas primeiras funções elencadas – louvor e declaração.  As orações legadas pelos grandes místicos da humanidade, em geral, contém lindas declarações de amor a Deus, ou profissões de fé tocantes, descrevendo de forma maravilhosa a divindade e declarando o sentimento de paz interior, harmonia, gratidão e amor que sentem ao ter contato com Deus.  Essas orações são verdadeiros atalhos para se ter maior consciência de Deus no dia a dia, ajudado imensamente nossa caminhada.

Quanto à função de agradecimento, conforme a visão mística, esta é preferida à de petição, mesmo que o objetivo não tenha sido alcançado ainda – já que, conforme essa visão, os pensamentos e sentimentos podem criar a sua realidade, e uma das formas mais poderosas de se obter algo é já se sentir agradecido por ter conseguido.  No caso de petições, a oração pode ser muito válida para um caso de necessidade urgente, pelo “contato direto” que ela proporciona, sem necessidade de preparações ou condições mais favoráveis, que um experimento místico normalmente exige.  Mas normalmente é mais eficaz fazer um experimento apropriado, de auxílio espiritual a si ou a outras pessoas.

Assim, a oração mística normalmente é um momento em que o buscador se declara a Deus, e busca um contato mais “pessoal” com Ele, estreitando sua relação, como se estivesse elogiando um grande amigo, ou declarando seu amor a alguém muito especial.  Conforme a visão mística, o buscador deve sempre buscar a proximidade, a harmonia com Deus, e não tratá-lo como um ser todo-poderoso e distante, uma espécie de autoridade máxima, ao qual ele deve submeter suas demandas.

Naturalmente, o místico pode e deve pedir ajuda sempre que sentir necessidade, todos precisam de ajuda em vários momentos de sua vida – saber pedir ajuda na hora certa é um sinal de humildade, um sinal de que não nos consideramos infalíveis ou donos da verdade.  Somente estou criticando a utilização preferencial da oração para tal finalidade – há outras formas mais eficazes, conforme a visão mística, e uma delas é a meditação, de que falaremos adiante.

Para esclarecer melhor esse ponto, devo dizer que muitos místicos oram com frequência pedindo ajuda para alguma questão pessoal, não há nada de errado nisso, até porque a visão mística não tem a intenção de reprimir qualquer prática – todos têm seu livre arbítrio.  Somente quero dizer que o místico dispõe de outras ferramentas para pedir auxílio, e elas são usadas com frequência.

Além disso, devo fazer a crítica a uma postura subserviente em relação a Deus, ou seja, ver-se o orador como um pobre pedinte, pedindo “esmola espiritual” a um Deus que se encontra muito acima dele, “lá no céu”.  Esse tipo de postura é muito frequente na oração de petição, em especial em contextos religiosos, e, como na visão mística somos considerados unos com Deus em essência, não há sentido em mendigar favores ou algo parecido para alguém que é unido a nós.  Devemos amar Deus, acima de tudo, e somente podemos amar aquele que está junto conosco, no dia a dia, que conhecemos bem, com quem temos intimidade – e aí está a grande utilidade da oração mística: ganhar “intimidade” com Deus, tendo melhores condições de amá-lo.

Está aí uma das grandes diferenças entre a visão religiosa e a mística a respeito de Deus.  Enquanto o místico tende a se considerar um ser autônomo, livre-pensador, que interage com Deus de forma predominantemente harmoniosa, buscando união, amizade, amor, ou seja, buscando se igualar em consciência (já que ele aceita essa identidade em essência), o religioso normalmente é instruído a “temer” a Deus, a considerá-lo uma entidade externa, distante, com o qual ele não pode se comparar nem chegar perto – é considerado até uma “heresia” se colocar no mesmo patamar de Deus.  Tal diferença de visão influi diretamente no conteúdo e no tom das orações.

O místico, em sua oração, busca se expressar, mostrar seus sentimentos e convicções em relação a si próprio, ao universo e a Deus, buscando uma compreensão melhor de suas essências, que se identificam, conforme a Lei da Unidade.  Nesse sentido, têm mais valor orações espontâneas, ditadas pela inspiração do momento, em que o místico, de improviso, declama o que lhe vem à mente e ao coração. 

Tal atividade tende a trazer uma sensação de harmonia e mesmo de comunhão com Deus, em que o místico se sente parte de um todo maior, e sente que não está sozinho em sua caminhada.  A oração é, assim, uma ferramenta muito poderosa para se ter maior compreensão e harmonia com o Amor Divino.

No caso da oração mística, devido ao seu caráter mais individual e improvisado, prefere-se que tal atividade seja individual e reservada – trata-se da oração solitária, tão exaltada pelos grandes místicos da humanidade.  Já no caso da oração religiosa, embora seja também valorizada a oração individual, ela é parte muito importante nos rituais coletivos – muitas vezes, são criadas verdadeiras catarses coletivas com a oração declamada de forma dramática e impactante.

Devo também falar de outra atividade mística parecida com a oração, que é chamada de “invocação”.  Trata-se de uma curta declaração de vontade do místico, em que ele expressa um desejo simples, sempre encerrado com uma expressão com o significado de “que seja assim”.  Em termos místicos, essa pequena petição não é considerada uma oração, por não envolver uma intimidade maior com Deus – é apenas uma fórmula simples, preestabelecida, que tem uma finalidade específica.

Em geral, as invocações são elementos de um ritual maior, sendo muito comuns em rituais místicos em geral.  Elas têm por finalidade principal colocar nossa mente em alerta, preparada para a experiência que se segue – como se fosse uma “abertura” de um ritual, uma “vinheta”, algo que, ao ouvirmos, já nos colocamos no estado propício para algum experimento ou ritual místico.  Tal como uma vinheta de um programa de televisão ou rádio – ao ouvirmos, já sabemos o que virá e nos preparamos para isso.
 


Agora devemos falar da meditação, uma ferramenta fundamental na caminhada mística.  A meditação é, conforme a visão mística, a via preferencial de contato com energias sutis, pois oferece a possibilidade de um contato mais pleno, incluindo percepções místicas ou intuitivas.  O místico deve sempre que possível meditar, nunca é demais, e a meditação, tal como a oração, é perfeitamente adequada a qualquer situação ou momento.

A meditação, ao contrário da oração, tem uma característica predominantemente passiva, ou seja, o meditador fica em estado receptivo, buscando um contato consciente com energias sutis, com o Amor Divino.  E digo “consciente”, pois, conforme a visão mística, estamos sempre em contato com Deus, normalmente sem termos consciência disso – não há como se afastar de Deus, assim como não há como se afastar de si próprio, devemos sempre lembrar do Princípio da Unidade.

Mas em que consiste a meditação?  Trata-se de um momento de introspecção do meditador, em que ele silencia, permanece em repouso, em posição confortável, fecha os olhos, e busca um ritmo de respiração o mais relaxado possível – muitas vezes há uma preparação prévia, com algum tipo de respiração especial, alguma fórmula a ser recitada, algum gesto específico, para condicionar nossa mente de que é hora de meditar – tal preparação auxilia bastante, mas não precisa ser complexa, bastando algum gesto, palavra ou respiração especial, pois, com o devido treinamento, uma fórmula simples já é o suficiente para a mente “desligar” e entrar em estado de relaxamento.

Devo citar um tipo alternativo de meditação, que busca uma catarse ou alteração do estado de consciência por meio de atividades vigorosas, gritos, combinados com técnicas de respiração – esse tipo de meditação foi popularizado pelo famoso “guru” oriental Osho, consistindo em uma adaptação para o “estilo de vida ocidental” de técnicas orientais tradicionais de meditação.  Esse estilo tem sua validade, mas não será tratado nesse post – falaremos somente do estio passivo tradicional de meditação.

Voltando à descrição da meditação, o objetivo principal de se manter em estado de relaxamento, por um certo período de tempo (extremamente variável, podendo ser desde 1 minuto até horas, dependendo da finalidade da meditação) é o que se chama “silenciar da mente”, ou seja, buscar reduzir o fluxo meio desordenado de pensamentos, percepções, emoções e ideias diversas que passeiam pela nossa mente o tempo inteiro.

Quando relaxamos e nos mantemos em repouso, reduzimos bastante esse fluxo “desordenado” de estímulos mentais.  A partir daí, a ideia é se manter estático, evitando fazer qualquer coisa, e evitando inclusive ter qualquer pensamento, ou, caso surja algum, não reagindo a ele, simplesmente deixando-o passar sem resistência nem crítica.  Buscar um estado de nada fazer, simplesmente viver.  A experiência mostra que, com o tempo, o relaxamento vai-se aprofundando cada vez mais, até se alcançar um estado alterado de consciência.

Deve-se notar que é impossível estancar todo o fluxo de estímulos e pensamentos que passa em nossa mente, pois ela tem essa natureza dinâmica, mas pode-se reduzir bastante esse fluxo, o suficiente para acessar outras frequências energéticas, que, conforme a visão mística, são planos de existência mais sutis – daí pode vir a harmonização com o Amor Divino. 

Pode-se encarar o processo da meditação como uma redução dos “ruídos” da mente para poder “sintonizar” energias mais sutis.  E, conforme a visão mística, quanto mais sutis essas energias, mais próximos de Deus estaremos.  Por isso, é muito importante nossa atitude receptiva durante a meditação, pois é ela que permite essa harmonização efetiva com Deus.

Deve-se notar que, durante o sono, ocorre um estado de grande receptividade mental, permitindo harmonizações com energias sutis diversas – nem sempre tão positivas ou próximas de Deus, mas sempre mais construtivas que as que temos contato em nossa consciência objetiva.  Por isso, pode-se dizer que o sono é o momento da recuperação do organismo, em que tanto a estrutura física – músculos, ossos, tecidos e órgãos em geral – quanto a nossa mente em si – pensamentos, emoções e percepções –, ao entrar em contato com energias mais sutis, naturalmente se restabelecem do desgaste do dia anterior e se preparam para os desafios do dia seguinte.

Durante o sono, um evento pode ser especialmente místico: o sonho.  Deve-se notar que a maioria dos sonhos não tem conteúdo místico relevante, mas, em algumas ocasiões, pode-se sim obter um nível de harmonização sutil que permita obtermos revelações místicas diversas por meio de um sonho – basta decifrar seu conteúdo simbólico.  Mas isso será assunto de outro post.

Sendo assim, pode-se afirmar que a meditação tem uma similaridade com o estado de sono, por nos colocar em estado totalmente receptivo a vibrações mais sutis de nossa mente e do ambiente a nossa volta.  Só que, na meditação, o praticante tem plena consciência do que ocorre o tempo inteiro, o que não ocorre no sono.  Assim, a meditação pode ser vista como um “sono consciente”, que pode ser extremamente útil na caminhada rumo à Reintegração Divina.

A meditação pode ter duas principais finalidades:
- Relaxamento: simplesmente descansar a mente e recompor energias – finalidade similar ao do sono, sem conteúdo místico relevante.
- Harmonização: além de relaxar física e mentalmente, busca-se uma sensação de harmonia interior, em contato com energias sutis, com o Amor Divino, algo que se consegue somente com bastante prática.  Essa finalidade é a mais relevante em termos místicos.

Além disso, a meditação pode ser associada a um experimento místico, e aí ela adquire um papel mais relevante ainda na caminhada do buscador.  Como ocorre isso?  Normalmente, o buscador realiza uma prática mística, que consiste em um ritual simples, com algumas palavras, gestos e pensamentos simples, podendo conter também alguma visualização, e depois permanece em estado meditativo.

Por exemplo, no caso de um experimento de auxílio espiritual, pode-se fazer inicialmente o ritual em si, que pode conter uma invocação, alguns gestos e uma visualização criativa.  A seguir, fica-se em estado meditativo, para potencializar os benefícios do experimento e também para tomar consciência dos benefícios que ocorrem em si próprio – já que o auxílio espiritual sempre reverte positivamente para quem o aplica.  Nesse estado receptivo, muitas vezes surgem intuições e sinais diversos que podem efetivamente ajudar o místico em sua caminhada.

A meditação, assim, pode ser um componente essencial em diversos experimentos místicos.  Tal ponto será melhor detalhado no próximo post, quando eu falar sobre práticas místicas em geral.

Outra finalidade alternativa da meditação é para a resolução de problemas diversos – e nisso ela tende a ser mais eficaz que a oração.  Ao se ter um obstáculo ou dilema qualquer a sua frente, o místico pode realizar a “meditação inspiradora”, que consiste em, inicialmente, formular uma pergunta ou expor um dilema, de forma objetiva e, a seguir, ficar em estado meditativo, buscando uma intuição, um sinal ou uma inspiração para ajudar a superar a questão. 

Conforme a visão mística, esse experimento pode ser extremamente poderoso, desde que se consiga relaxar (o que nem sempre isso é fácil, dependendo do problema presente no momento) e ter um efetivo contato com energias sutis harmonizadas com o Amor Divino. 

Mas devo advertir que, mesmo quando o contato místico é efetivo, sempre há uma fonte de erros na interpretação do sinal ou intuição recebida, em especial quando a questão é muito sensível a nós mesmos e estamos envolvidos emocionalmente – pode ser que queiramos muito uma dada solução e então façamos interpretações “distorcidas” dos sinais que aparecem em favor do resultado desejado.  Esse processo pode ocorrer em qualquer situação e, sendo assim, devemos sempre ser cautelosos e humildes ao interpretar esses sinais, buscando confirmações externas ao que percebemos.

E como saber que se obteve um contato místico efetivo?  Difícil responder essa pergunta, mas posso dizer que, sempre que um contato “autêntico” é realizado, com uma energia realmente sutil e harmoniosa, surge em nosso interior uma certeza, tal como na intuição, de que aquilo ali é verdadeiro.  Trata-se assim de uma verificação intuitiva, e não racional – nós não “pensamos” ou “sentimos” que é certo, e sim nós “temos certeza e convicção interior” que é certo.

Como em todo experimento místico, que é subjetivo, não há como descrever exatamente essa convicção ou esse contato místico efetivo, pois cada um vai sentir, perceber e interpretar do seu jeito, mas digo que, com um pouco de disciplina e prática, é possível sim ter esse contato místico meditativo, e torná-lo algo cotidiano.  Com isso, passa a existir para nós, de forma consciente, uma espécie de “guia místico interior” que pode nos ajudar a qualquer momento, basta estabelecer a “sintonia” com ele. 

Muitos chamam esse guia interior de “Mestre Interior” ou “Eu Superior”, mas prefiro dizer que trata-se da porção do eu que está harmonizada com o Amor Divino, tal como a “Voz da Consciência” presente em diversas filosofias e religiões.  Vou chamá-lo então de “eu sutil”, em contraste com o “eu sensível”, aquela parte do eu com que nos identificamos no dia a dia.

Aproveito essa digressão sobre o “eu sutil” para afirmar que, em nossa caminhada mística, o melhor guia e amigo somos nós mesmos e, paradoxalmente, o maior inimigo, o que sabe todas as nossas fraquezas, também somos nós mesmos.  Algo para refletir com atenção.

Concluindo, devo dizer que a oração e a meditação são ferramentas básicas de todo místico, a ponto de os místicos mais aplicados não passarem um dia sem ter seu momento de introspecção e diálogo interior com Deus.  Experimente!  Você poderá perceber quanta riqueza insuspeita existe dentro de você!  Vá em frente, converse consigo mesmo, converse com Deus, harmonize-se com o universo!

Saudações fraternas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário